Psicóloga: Em tempos de guerra, a responsabilidade compartilhada é o mais importante.

Em tempos de guerra ou crise, não se pode exigir grandes atos de heroísmo de todos, como o alistamento no exército. No entanto, isso não significa que seja preciso deixar o país. O que mais importa é a responsabilidade compartilhada e os "pequenos" atos de heroísmo, como cuidar do próximo", disse o professor Wojciech Kulesza, da Universidade de Ciências Sociais e Humanas, à agência de notícias PAP.
Em tempos de crescente tensão internacional, aumento dos gastos com defesa em muitos países e declarações cada vez mais frequentes sobre a necessidade de lutar pela pátria, muitas pessoas se perguntam como reagiriam em tal situação. Alguns de nós declaram abertamente que deixariam o país e não estariam dispostos a lutar por ele. A pesquisa do IBRiS, encomendada pela Rádio ZET, mostra que 49,1% dos entrevistados não se voluntariariam para defender seu país se uma guerra ameaçasse.
"Sinceramente, tenho medo da desinformação e dos sinais de que, se houver uma crise, tenho que deixar a Polônia porque não quero lutar ou morrer por políticos. Em primeiro lugar, nós mesmos elegemos esses políticos, então a culpa é nossa. O mais importante, porém, é que você não precisa morrer pelo seu país imediatamente. Você pode ajudar a comunidade local ou, por exemplo, resgatar obras de arte", disse à PAP o professor Wojciech Kulesza, psicólogo social da Universidade SWPS e soldado das Forças de Defesa Territorial (18ª Brigada de Defesa Territorial da Capital).
Ele enfatizou que não vale a pena se apegar à narrativa de "Sou contra os militares" ou "Não suporto políticos" para explicar a relutância em participar de operações militares. "Todos têm o direito de se opor, de sentir aversão aos militares ou aos políticos, mas é importante lembrar a perspectiva mais ampla. A Constituição consagra a defesa da pátria, mas tem um alcance muito amplo. Não envolve necessariamente combate armado, porque todos têm o direito às suas próprias crenças. No entanto, encorajo vocês a analisarem essa questão de forma abrangente", enfatizou o entrevistador da PAP. Ele citou as palavras da Irmã Małgorzata Chmielewska, que disse que as pessoas não podem ser forçadas ao heroísmo ou à violência.
"Em tempos de guerra ou crise, não precisa ser um heroísmo com 'H' maiúsculo — dar a própria vida ou tirar a vida de alguém — porque esses são os limites atribuídos aos soldados. A chave é demonstrar o máximo de heroísmo 'pequeno' possível. É importante notar que, se um soldado — inevitavelmente treinado para matar e evitar ser morto — vai lutar, saber que alguém cuidará de sua família e de seu entorno imediato o deixará muito mais calmo e capaz de cumprir sua missão com responsabilidade. É nossa responsabilidade compartilhada fazer algo. Se não pela Polônia — e, por extensão, pelos políticos e comandantes — então por nossos concidadãos", disse o professor Kulesza.
Ele lembrou que, segundo o psicólogo e pesquisador do comportamento moral Jonathan Haidt, as sociedades que se comportam eticamente são regidas por diversos códigos.
"Por exemplo, existe uma ética da justiça, que nos obriga à reciprocidade. Ou seja, devemos proteger-nos uns aos outros, devemos cuidar uns dos outros. Existe também uma ética do cuidado, que significa, por exemplo, preocupação com o bem-estar e os direitos dos indivíduos. Trata-se de apoio, o que significa, por exemplo, numa situação de conflito ou crise, eu cuidarei de alguém — ficando aqui e ajudando-o, não necessariamente como um soldado", explicou o Professor Kulesza.
Disso, disse ele, deriva a ética coletivista, como a lealdade. Esta pode ser lealdade ao local de residência, por exemplo, Varsóvia (o 18º SBOT é o único designado para defender a capital), mas também aos seus habitantes e dedicação ao próprio grupo.
Ao falar sobre a ética do comportamento social, o professor Kulesza também citou a teoria do desenvolvimento moral de Lawrence Kohlberg, que consiste em vários níveis. O nível mais baixo e básico implica que infringir a lei é imoral.
"A Constituição afirma que o dever de um cidadão é defender sua pátria. Em tal situação, fugir ou se esquivar do dever — embora eu não aprove isso — poderia ser racional em certo sentido: eu não quero matar, eu não quero ser morto. É que a percepção social está errada, de que todos devem literalmente lutar por sua pátria, armas em punho. Essa narrativa é falsa e pode ser promovida artificialmente como sabotagem por um país hostil à Polônia", enfatizou o pesquisador.
O direito distingue entre estados de paz, crise e, finalmente, guerra. Não há nenhuma garantia, enfatizou o Professor Kulesza, de que todos os convocados para defender a pátria em tempos de guerra irão lutar. Isso pode significar outras ações em prol da comunidade. Kohlberg aludiu a isso já na década de 1960. Ele colocou o cumprimento das obrigações sociais e a observância das normas sociais no mais alto nível moral.
"Mesmo em tempos de paz, você pode começar com passos muito simples, como iniciar a prática de exercícios físicos. Talvez no futuro eu tenha que carregar uma mochila pesada, ou talvez eu tenha que carregar alguém para fora de um prédio em risco", disse o professor Kulesza.
Você pode fazer um curso de primeiros socorros qualificado para adquirir as habilidades necessárias para ajudar uma pessoa ferida caso presencie um acidente de carro. Cada um de nós pode estocar alimentos, medicamentos e água — não apenas para nós mesmos e nossas famílias, mas também levar um pouco a mais para ajudar alguém que não tenha.
"No fim das contas, trata-se do que cada um de nós pode fazer com as habilidades que já possui. Sou psicólogo, não precisei entrar para o exército porque provavelmente teria sido convocado como, digamos, funcionário civil. Psicólogos, médicos e enfermeiros são sempre úteis em tempos de crise. No entanto, existem muitas outras habilidades úteis: alguém pode ser especialista em logística ou em TI. Nesses casos, vale a pena se voluntariar como civil para o exército ou para a defesa civil. A questão é assumir a responsabilidade por nós mesmos e pelos outros", enfatizou.
É claro, acrescentou ele, que deixar o país em uma situação perigosa nem sempre precisa ser algo ruim. "Às vezes, honestamente, você precisa admitir que realmente precisa fugir porque está grávida, porque não pode interromper o tratamento contra o câncer. O problema, porém, é que muitas pessoas abusam desses motivos, criando desculpas", enfatizou.
De acordo com o estudo do IBRiS mencionado anteriormente, o maior número de pessoas que não querem lutar pelo seu país – cerca de 69% – está na faixa etária de 18 a 29 anos.
No entanto, como lembrou o Professor Kulesza, durante a Revolta de Varsóvia, segundo diversas estimativas, entre alguns por cento e 30 por cento dos soldados não compareceram ao alistamento. "É uma reação de pânico bastante natural. Eu vivi bastante, criei filhos, me formei, lecionei para muitos alunos e entendo esses jovens até certo ponto. Eu não os responsabilizaria, porque estou tentando pensar por mim mesmo no que eu faria se fosse jovem e ainda não tivesse vivido minha vida. Pensar na potencial perda de vidas em uma guerra é realmente muito difícil", admitiu o psicólogo.
Ewelina Krajczyńska-Wujec (PAP)
ekr/ bar/ mhr/
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