Votação do plano internacional para reduzir emissões de navios é adiado por pressão dos EUA

Os países membros da Organização Marítima Internacional (OMI) decidiram adiar por um ano a decisão sobre um ambicioso plano para reduzir a poluição dos navios devido à pressão dos Estados Unidos para bloquear a iniciativa.
A proposta da OMI, aprovada em abril por uma ampla maioria, deveria ser ratificada nesta sexta-feira (17) em uma reunião da agência marítima da ONU que começou na terça-feira (14) em Londres.
O projeto busca reduzir progressivamente as emissões de carbono dos barcos a partir de 2028 e contempla estabelecer uma taxa para os navios excessivamente poluentes.
A OMI indicou, nesta sexta-feira, que a votação para aprovar a iniciativa foi adiada para o próximo ano, após os Estados Unidos terem ameaçado com sanções contra os países que apoiassem este plano.
O objetivo final é fazer com que o transporte marítimo funcione sem emitir gases de efeito estufa até 2050.
O secretário-geral da OMI, o panamenho Arsenio Domínguez, reconheceu na terça-feira, na abertura da reunião, que a proposta “não é perfeita”, mas defendeu que estabelece uma “base equilibrada”.
Os países da União Europeia, Brasil e China reiteraram, nesta semana, seu apoio ao “Fundo para Emissões Líquidas Zero” (ou NZF, na sigla em inglês), que busca fazer com que os navios paguem uma espécie de imposto sobre suas emissões que excedam uma determinada cota.
Esta taxa seria destinada a financiar um fundo que recompense os navios com baixas emissões e apoie os países mais vulneráveis às mudanças climáticas.
A quinta-feira (16) foi marcada por longas negociações que se estenderam até a madrugada e que um diplomata russo classificou como “caóticas”.
Os países insulares do Pacífico, que em abril se abstiveram por considerar a proposta insuficiente, cederam e se declararam a favor.
No entanto, os Estados Unidos, Arábia Saudita, Rússia e os países produtores de petróleo se opuseram.
– Trump indignado –
Washington ameaçou com restrições de vistos, aumento das tarifas portuárias e outras medidas de pressão aos Estados que votarem a favor.
O presidente americano, Donald Trump, declarou na quinta-feira que estava “indignado” com o fato de a OMI ter votado esta semana “um imposto global” sobre as emissões de carbono e afirmou que seu país não aceitaria esta tributação ao “transporte marítimo”.
Um diplomata brasileiro denunciou, nesta sexta-feira, em sessão plenária, os “métodos” dos Estados Unidos e expressou sua esperança de que esta atitude “não substitua a forma habitual de tomar decisões a nível mundial”.
Uma fonte europeia admitiu à AFP que estas pressões podem afetar “países que, infelizmente, são mais sensíveis à influência” dos Estados Unidos.
Os regulamentos da OMI geralmente são aprovados, a menos que um terço de seus 176 membros se oponha (ou o equivalente à metade da frota mercante global).
Os Estados Unidos defenderam, nesta semana, mudar o processo de votação para dar mais peso às abstenções.
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IstoÉ