Dia do Enfermeiro de Reabilitação: reconhecimento merecido

Domingo, 18 de outubro, assinala-se o Dia Nacional do Enfermeiro de Reabilitação. Não se trata apenas de mais uma efeméride no calendário da saúde. É uma oportunidade para dar visibilidade a uma especialidade que tem um impacto profundo na vida de milhares de pessoas em Portugal e também o momento certo para refletir sobre o que significa reabilitar, devolver capacidade, restituir dignidade e permitir que alguém recupere o controlo sobre a sua vida.
A enfermagem de reabilitação centra-se nas pessoas, nas suas necessidades, não se resumindo apenas a técnicas ou exercícios terapêuticos. É o trabalho diário de quem ajuda a recuperar a marcha após uma cirurgia, de quem ensina estratégias adaptativas para realizar atividades básicas de vida diária, como vestir-se ou alimentar-se após um acidente vascular cerebral, ou de quem capacita familiares cuidadores para enfrentarem, em casa, desafios exigentes como cuidar de um familiar dependente. Os enfermeiros de reabilitação não tratam apenas sequelas e limitações, devolvem bem-estar, autonomia e qualidade de vida.
Mas, apesar da sua relevância, a enfermagem de reabilitação continua subvalorizada. Em muitas instituições de saúde, os enfermeiros especialistas em enfermagem de reabilitação são vistos como recursos complementares, quando deveriam ser reconhecidos como figura central no processo de reabilitação e na recuperação funcional. Portugal é um país envelhecido, com elevada prevalência de doenças crónicas, e negligenciar a reabilitação compromete a eficácia do sistema de saúde e representa uma utilização ineficaz dos recursos disponíveis com elevado impacto financeiro. O aumento da autonomia e a redução da incapacidade refletem-se em benefícios diretos para os cidadãos e em menor pressão sobre o sistema de saúde, sendo que o que está em causa não é apenas viver, mas sim viver com dignidade, e é aqui que os enfermeiros de reabilitação fazem a diferença!
A enfermagem de reabilitação enfrenta hoje vários constrangimentos. Há falta de profissionais, desigualdade de acesso entre regiões e fraca articulação entre hospitais, cuidados de saúde primários e serviços domiciliários. Estas limitações reduzem a capacidade de resposta às necessidades da população e contribuem para perpetuar disparidades que se refletem na vida quotidiana dos cidadãos. O investimento na reabilitação não deve por isso ser encarado como uma despesa adicional, mas como uma decisão racional que promove sustentabilidade, melhora a eficiência do sistema e reduz a dependência. Cada pessoa que readquire autonomia torna-se menos dependente de cuidados formais e informais, e mais capaz de participar ativamente na vida familiar e social.
Neste contexto, celebrar o Dia Nacional do Enfermeiro de Reabilitação não deve ser um ritual vazio. Deve ser um compromisso. Um compromisso com a valorização destes profissionais, com o reforço dos recursos humanos, com a formação contínua e com a integração efetiva da reabilitação em todos os níveis de cuidados. Compromisso em reconhecer que reabilitar não é um extra, mas uma necessidade central para uma população que envelhece rapidamente e que convive cada vez mais com doenças incapacitantes.
Celebrar o Dia Nacional do Enfermeiro de Reabilitação não deve limitar-se a um gesto simbólico, deve traduzir-se num compromisso de valorização e integração da reabilitação em todos os níveis de cuidados. Reabilitar não é um complemento, é uma necessidade central numa população envelhecida e com elevada prevalência de doenças incapacitantes.
Celebrar este dia é, portanto, mais do que homenagear uma profissão. É afirmar que Portugal precisa de investir, de forma séria, na reabilitação como pilar na política de saúde pública. Porque um sistema de saúde que não valoriza a reabilitação cuida pior, gasta mais e falha no essencial: garantir às pessoas não apenas mais anos de vida, mas mais vida nos anos.
observador