Verão quente, 50 anos: Quando o País enlouqueceu

A 25 de abril de 1975, dia das primeiras eleições livres em Portugal, um helicóptero aterra junto aos jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. O local fora escolhido como centro nevrálgico da operação eleitoral, levada a cabo pela Comissão Nacional de Eleições, e era ali que todos os resultados iam chegar, por meios ainda analógicos, a partir das 19h desse dia. Do aparelho, sai o poderoso comandante do COPCON (Comando Operacional do Continente), o brigadeiro graduado Otelo Saraiva de Carvalho. Pouco mais tarde, perante a aceleração do Processo Revolucionário em Curso, vulgo PREC, e a intensificação das ações de resistência da alegada “reação”, o próprio Otelo passaria a assinar mandados de captura em branco, distribuídos pelos seus comandantes operacionais de confiança, num clima de total arbitrariedade revolucionária. Numa nota do Diário de Lisboa, citada no livro Os Dias Loucos do PREC, de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira (edição conjunta do Expresso e do Público), percebe-se a volatilidade dos tempos: “Apresentando-se como ‘forças do COPCON empenhadas na captura de um perigoso reacionário’, três jovens, dois dos quais militares, entraram no quarto de uma pensão da Travessa do Fala Só e, apertando o pescoço ao hóspede que ali dormitava, roubaram-lhe a carteira com 250 escudos e um par de botas, após o que empreenderam rápida fuga.”

Ainda antes da institucionalização do MFA e da substituição do Conselho de Estado pelo Conselho da Revolução – consequências, como veremos, da “golpada” de 11 de março desse ano – já o subcomandante do RAL 1 (Regimento de Artilharia de Lisboa nº 1), capitão Dinis de Almeida, tinha proferido: “Quem dá ordens, neste País, é o Presidente da República [general Francisco da Costa Gomes], o primeiro-ministro [general Vasco Gonçalves] e o Otelo Saraiva de Carvalho! [O único citado pelo nome…]”
Visao