Gronelândia forçada!

Tem apenas 57 mil habitantes, situada entre o Atlântico Norte e o Oceano Árctico, a Gronelândia, calma e tranquila, volta às primeiras páginas por maus motivos. A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, pediu desculpa às vítimas de uma campanha de contracepção forçada, imposta pelas autoridades de saúde dinamarquesas até 1992. Convém acrescentar, já agora, que a contracepção forçada constitui uma violação grave dos direitos humanos e da autonomia corporal.
É uma notícia espantosa, para além de humilhante. A Gronelândia é uma região autónoma da Dinamarca, com Parlamento e Governo próprios, e esta prática contou também com a conivência das autoridades locais, numa zona em que a taxa de natalidade era das mais elevadas do mundo.
Sem conhecimento nem consentimento, entre as décadas de 1960 e 1970, foram colocados dispositivos contraceptivos em mais de 4.500 mulheres e jovens adolescentes, que agora reclamam uma indemnização histórica. À taxa de natalidade de então, e sem estas decisões vergonhosas, a Gronelândia teria hoje muito mais população. Mais um terço, ou mais metade. Como é que a Dinamarca – país de fortes tradições democráticas e humanistas – se atreveu a tomar tal medida? Não se percebe o objetivo, de todo. A contracepção forçada passa uma tangente à Eugenia.
Tudo isto faz recordar tristes e violentos episódios históricos noutros países, onde se praticaram medidas semelhantes — e até mais severas. As desculpas da chefe do Governo chegam tarde. Esta disputa arrasta-se há anos, e só agora a Dinamarca reconhece que errou. Mais um motivo para o senhor Trump voltar à carga com o seu desejo de possuir, comprar ou até invadir a Gronelândia.
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Visao