O TikTok muda de mãos: será para melhor ou para pior?

WASHINGTON - O recente acordo alcançado pelos dois países representa um benefício mútuo, mas resta saber se seus efeitos futuros também beneficiarão os cidadãos ou se, na essência, tudo permanecerá igual, apenas com proprietários diferentes.
Isso também poderia abrir um precedente, mas quantos atores internacionais realmente possuem a vontade política, a influência e o poder para emular o que Donald Trump fez?
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O presidente chinês Xi Jinping e seu homólogo americano, Donald Trump, concordaram em permitir que o TikTok continue operando nos Estados Unidos. Como parte do acordo, a Oracle — fundada por Larry Ellison, um aliado próximo de Trump — supervisionará o mecanismo de recomendação do TikTok, garantindo que os dados de seus 170 milhões de usuários americanos permaneçam fora do alcance da China.
Mario Esteban, professor de Estudos da Ásia Oriental na Universidade Autônoma de Madri e pesquisador principal do Instituto Real Elcano, teme que uma das possíveis consequências seja o alinhamento crescente das redes sociais nos Estados Unidos com o movimento “populista” e “reacionário” liderado por Trump, afirma em entrevista à EFE.
Na opinião dele, o acordo alcançado é "muito importante" para os EUA, já que impede o fechamento do TikTok em um país onde a plataforma tem 170 milhões de usuários e garante que a nova empresa proprietária do TikTok ficará sob sua jurisdição, em vez da chinesa.
Um dos motivos pelos quais os Estados Unidos queriam controlar o TikTok é a estrutura legal chinesa, particularmente a Lei Nacional de Inteligência da China de 2017. Seu Artigo 7 — explica Esteban — afirma que todas as organizações, empresas e cidadãos chineses devem cooperar com os serviços de inteligência do país, caso sejam solicitados.
Em outras palavras, a ByteDance, proprietária do TikTok, pode ser obrigada a cooperar com as autoridades chinesas, empresa que administra os dados pessoais de milhões de usuários.
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De fato, o TikTok foi multado em diversos países pelo uso indevido desses dados, e o FBI comprovou o uso indevido de dados de jornalistas extraídos da plataforma, lembra Esteban, especialista com 25 anos de experiência em análises sobre a China e Taiwan.
A geopolítica é escrita em uma linguagem de programação.
"Outra questão sensível é o que os usuários do TikTok veem, o famoso algoritmo que os Estados Unidos agora irão monitorar e revisar" para proteger a privacidade e a segurança dos usuários, ele enfatiza.
O algoritmo é um sistema de inteligência artificial que personaliza o conteúdo para cada usuário com base em suas interações, preferências e perfil. Ele analisa fatores como curtidas, comentários e tempo de visualização para oferecer uma experiência única a cada pessoa.
Será replicado em outros países?
O pesquisador do Instituto Real Elcano descarta a possibilidade de o acordo entre as duas grandes potências ser replicado em outras partes do mundo, principalmente porque nenhum outro país possui "o poder e o nível de diálogo que os Estados Unidos têm com a China".
A União Europeia, observa o diretor do Centro de Estudos da Ásia Oriental da Universidade Autônoma de Madri, seria o exemplo mais próximo; no entanto, não existe uma legislação digital única e cada Estado-membro mantém suas competências nessa área, o que impede a existência de "um quadro de negociação favorável aos interesses europeus".
Resumindo, o acordo mencionado pode criar um precedente, mas “a grande questão é quantos atores internacionais têm a vontade política e a influência para imitar o que Trump fez. A realidade é que poucos países são capazes de fazê-lo.”
As coisas vão melhorar?
Mario Esteban acredita que o governo dos EUA tem se saído bem na defesa de seus interesses e na proteção da segurança de dados, mas alerta que a mudança iminente pode significar a substituição da potencial influência chinesa pela de atores "muito próximos" do presidente Trump.
“Já sabemos para que lado o viés do TikTok vai se direcionar, o que não parece nada positivo; todos vemos como Trump está conduzindo uma campanha antipluralista em seu país e como a ideologia MAGA (Make America Great Again) está permeando-o cada vez mais”, conclui ele.
Por Marina Segura Ramos EFE-Reportajes.
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