Infiltração de drogas em eleições judiciais é fonte de pressão no USMCA: Coparmex

CIDADE DO MÉXICO (apro).-Os Estados Unidos estão de fato preocupados com a infiltração do crime organizado nas eleições para o judiciário mexicano, a tal ponto que a questão já é um ponto de pressão dentro do USMCA, de acordo com a Confederação Patronal da República Mexicana (Coparmex) e organizações civis especializadas em segurança e justiça.
A participação de perfis vinculados a cartéis nesses processos eleitorais tem levantado alarmes não apenas entre organizações empresariais, mas também nos setores público e privado dos EUA, que estão começando a reavaliar a atratividade do México como destino de investimentos.
Em entrevista coletiva, o presidente nacional da Coparmex, Juan José Sierra Álvarez, afirmou que os sinais enviados pelo sistema judicial mexicano são cada vez mais preocupantes para os investidores.
Após uma recente visita a Washington, ele indicou que as preocupações do governo dos Estados Unidos e das empresas americanas são significativas. Na verdade, elas já estão se materializando em decisões estratégicas.
"O que está acontecendo hoje é que as empresas que estão presentes em nosso país ou que querem investir em nosso país estão repensando seus novos investimentos", disse Sierra Álvarez.
Essa avaliação inclui o fato de que há meses os perfis de candidatos à magistratura com antecedentes preocupantes são monitorados. O relatório, preparado por organizações da sociedade civil como a Defensores, também foi submetido à Coparmex e documenta pelo menos 18 candidatos com vínculos diretos com redes criminosas.
“Publicamos pelo menos 18 perfis de candidatos de alto risco. Entre eles está a advogada de El Chapo, Silvia Rocío Delgado. Há o advogado de Z-40, que também foi condenado por porte ilegal de armas, Fernando Escamilla Villarreal; e o promotor de terrorismo de Michoacán, Francisco Rea Franco, acusado de assassinar dois jornalistas, extorquir comunidades indígenas e conspirar com o crime organizado”, disse Miguel Alfonso Meza, presidente da organização civil Defensores, à Proceso.
Um dos casos mais alarmantes para as relações bilaterais — e já mencionado em reportagens divulgadas em Washington — é o de Javier Leopoldo Chávez, que aspira a se tornar juiz federal em Durango, apesar de ter passado cinco anos e sete meses em uma prisão dos EUA por crimes relacionados ao tráfico de metanfetamina.
"Então, esses não são, digamos, meros riscos hipotéticos; são casos documentados. Essa é uma das maneiras pelas quais detectamos a interferência do crime organizado nas eleições judiciais", enfatizou o ativista.
O fenômeno vai além das candidaturas individuais; há regiões inteiras onde cartéis começaram a autorizar, e até mesmo a financiar, campanhas de candidatos ao judiciário. Michoacán, mais uma vez, se posiciona como epicentro.
"É sabido que grande parte da economia é controlada pelo crime organizado, incluindo os abacates e o abastecimento de água (...) Isso torna bem provável que até mesmo campanhas judiciais precisem de autorização, contato ou até mesmo financiamento do crime organizado", acrescentou o ativista.
A situação é complicada pelo fato de que, diferentemente das campanhas convencionais, onde há partidos políticos formalmente supervisionados, a eleição para o Poder Judiciário envolve 3.500 candidatos, cada um com seus próprios registros contábeis.
O Instituto Nacional Eleitoral, indicou Meza, não tem capacidade técnica ou operacional para auditar um número tão grande de processos.
Queda na confiança empresarialA consequência direta desse ambiente obscuro é a desconfiança empresarial. De acordo com o presidente da Coparmex, o entusiasmo por investimentos no México está em queda livre, afetado tanto pelo enfraquecimento do Estado de Direito quanto pelas tensões econômicas com os Estados Unidos sob o governo do presidente Donald Trump.
O próprio indicador de confiança da Coparmex reflete isso. Em 2024, apenas 38% dos empresários associados expressaram interesse em fazer novos investimentos no país. Essa proporção foi maior em 2023, em 51%.
"E se olharmos para o Investimento Estrangeiro Direto (IED) de novas empresas, ele diminuiu", observou o líder, explicando que enquanto em 2023, 14% do IED total correspondia a novos investimentos, em 2024 esse número caiu para 8%.
"O restante, mais de 80%, são transações e trocas entre empresas e ajustes, mais como transações fiscais", explicou Sierra Álvarez.
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