CNDH: Militares e policiais de Zacatecas mataram 14 civis rendidos

ZACATECAS, Zac., (apro) .- A Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH) confirmou "indicativamente" que soldados e agentes da Polícia Estadual de Zacatecas tiraram a vida de 14 pessoas "quando já estavam rendidas ou desarmadas" após um confronto ocorrido em 12 de outubro de 2020, na comunidade Nueva Alianza, no município de Calera.
Após uma investigação ex officio que durou quase cinco anos, a CNDH emitiu a recomendação 195VG/2025 contra os chefes das Secretarias de Defesa Nacional (Defesa) e Segurança Pública de Zacatecas (SSP) pelo uso ilícito de força letal contra 14 civis, bem como pela grave violação dos direitos humanos à vida e à segurança jurídica.
A recomendação afirma que a versão oficial indica que as 14 pessoas morreram durante um confronto, que começou quando oito policiais estaduais, enquanto trafegavam em viaturas pela Rua Francisco I. Madero, no município, foram baleados por cerca de 15 civis, que desceram de três veículos, e que ao repelir o ataque, três policiais ficaram feridos, para os quais solicitaram apoio por rádio.
Cinco policiais estaduais e cinco militares se juntaram aos reforços. Ao chegarem à comunidade, encontraram um dos supostos agressores morto e prenderam outro civil ferido.
Segundo depoimentos dos policiais uniformizados, os agressores fugiram para uma área desabitada ao sul da cidade, onde começaram a atirar, dando início a um segundo confronto que durou 30 minutos e deixou 12 homens, vestidos com roupas de estilo militar e portando armas de fogo, mortos.
No entanto, a CNDH estabelece que “foram constatadas inconsistências” na comparação das informações prestadas pela Defesa e pelo SSP Zacatecas com as 14 autópsias e relatórios de processamento de três locais de intervenção, elaborados por peritos da Procuradoria-Geral da República de Zacatecas, bem como com a diligência realizada em 24 de março de 2022, por pessoal da Coordenação de Especialidades Científicas e Técnicas (CECyT) do mesmo órgão.
Com base nos pareceres médicos forenses e criminalísticos emitidos por seus próprios especialistas, a Comissão determinou que "força letal arbitrária e ilegal" foi usada, visto que sete das 14 vítimas tinham hematomas antes da morte; 12 tinham ferimentos de bala no crânio; e as duas restantes no peito e abdômen.
"Em oito dos casos, a trajetória seguida pelo projétil mostrou que a vítima estava de costas para o agressor (segurança) e não à sua frente, como seria de se esperar em uma troca de tiros com duração de 30 minutos."
O CNDH alertou que em um dos casos, o da chamada vítima 14, foi constatado que ela estava deitada em um nível mais baixo e de frente para o agressor, e que ainda apresentava um ferimento na palma da mão esquerda "que é clinicamente considerado uma lesão semelhante àquelas observadas durante manobras de proteção e/ou defesa".
Este corpo foi encontrado em um terceiro local, perto da cena do confronto, e não usava roupas de estilo militar, nem havia cápsulas de balas usadas ou arma de fogo.
Um irmão da vítima, ao identificar o corpo, disse ao Ministério Público que ele "trabalhava há três anos cuidando de animais e fazendo manutenção no local", fato confirmado por outra testemunha à equipe do CNDH durante visita à comunidade.
Na recomendação, a agência destaca se foi encontrada "área de cápsulas deflagradas" no primeiro local de intervenção, mas não no segundo local de intervenção, onde o confronto durou 30 minutos, nem no terceiro local.
Segundo o laudo pericial, a falta de cápsulas pode ser consequência de três situações: a cena do crime teria sido alterada pela polícia e pelos militares antes da chegada dos peritos; as doze vítimas localizadas "não haviam disparado nenhuma das nove armas de fogo longas que portavam" e, portanto, não havia cápsulas.
"Também seria possível que ambas as vítimas não tivessem disparado tiros e que os agentes públicos tivessem limpado a área de onde dispararam, removendo os mísseis balísticos que eles geraram."
Com base nesse contexto, o CNDH concluiu que "indicativamente, os civis armados localizados no segundo local de intervenção se renderam ou foram desarmados e, posteriormente, foram espancados e, por fim, mortos".
Reclamações administrativas e indemnizações por danosPor estas razões, a Comissão apresentará reclamações administrativas ao Órgão de Controlo Interno da SSP e à SEDENA, com o objetivo de que as autoridades iniciem a respetiva investigação.
Além disso, a recomendação 195VG/2025 será adicionada ao processo de investigação instaurado pela Procuradoria-Geral do Estado (FGJE).
A CNDH instruiu tanto o Ministério da Defesa quanto a Secretaria de Segurança Pública de Zacatecas a colaborar com o registro dos 15 indivíduos e suas famílias no Registro Nacional de Vítimas para que possam fornecer imediatamente a reparação integral dos danos, incluindo uma indenização justa.
Além disso, em coordenação com a Comissão Executiva de Assistência às Vítimas, deverão prestar assistência psicológica e/ou tanatológica às famílias das vítimas.
Fica estabelecido que policiais estaduais e integrantes do 52º Batalhão de Infantaria devem realizar cursos sobre direitos humanos e uso da força, bem como implementar medidas para prevenir a reincidência de violações de direitos humanos.
proceso





