Missão cumprida? O diretor artístico de Zurique, Andreas Homoki, está deixando a ópera


Este é um ano de grandes mudanças na cúpula das principais instituições culturais suíças. "Direções terminam. Elas têm que acabar em algum momento" – foi assim que Michael Haefliger comentou recentemente, com marcada calma, sobre sua iminente saída do Festival de Lucerna, em entrevista ao jornal NZZ, após 26 anos. Andreas Homoki durou exatamente metade disso na Ópera de Zurique. Mas, ao concluir sua gestão, que se encerrou na noite de domingo com um concerto de gala e inúmeros elogios, ele também deixou a impressão: missão cumprida, tudo resolvido, a mudança faz parte do negócio.
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De fato, o final eletrizante sob a regência do Diretor Musical Geral Gianandrea Noseda marcou o fim de uma era em que Homoki moldou profundamente a casa de ópera e mudou significativamente sua direção artística. Há amplo consenso de que ele deixa a casa em uma situação financeiramente sólida e estável, com um orçamento equilibrado e uma resposta consistentemente alta do público, com taxas de ocupação superiores a 90%.
Seu sucessor, Matthias Schulz, ex-diretor artístico da Ópera Estatal Unter den Linden, de Berlim, poderá dar continuidade a essa trajetória a partir de setembro. Os sinais apontam para uma continuidade: mudanças e novos sotaques permanecerão dentro da estrutura habitual, como indica a primeira temporada já anunciada de Schulz. Uma reorganização radical não é esperada.
Reduzido ao tamanho normalO próprio Andreas Homoki iniciou a mudança ao anunciar em 2021, após uma segunda extensão de contrato, que seu contrato terminaria na temporada 2024/25. Na época, a decisão foi uma surpresa; o clube provavelmente gostaria de mantê-lo em Zurique por mais tempo — afinal, seu ocupado antecessor, Alexander Pereira, havia passado 21 anos à frente da maior instituição cultural da Suíça.
O momento agora parece apropriado, no entanto. Homoki, no geral, cumpriu de forma convincente as duas tarefas centrais para as quais foi trazido à ópera em 2012. Sua missão, que ele agora considera cumprida, era inicialmente reduzir a programação massivamente expandida da ópera a um nível normal. Com 14 ou mais estreias por temporada e inúmeras remontagens, um limite parecia ter sido ultrapassado. Reclamações de assinantes, que desempenham um papel fundamental no apoio à ópera, deixaram claro que essa programação suntuosa havia ultrapassado os limites.
Quando Homoki assumiu em Zurique, reduzir a programação era considerado uma tarefa delicada. Afinal, abrir mão de três a cinco novas produções é rapidamente interpretado como uma medida de corte de custos, o que significa uma perda de diversidade na programação. Em muitos outros teatros, é exatamente isso, considerado um último recurso. Em Zurique, no entanto, Homoki declarou a limitação a nove estreias e um número menor de títulos de repertório como uma necessidade artística desde o início. Uma decisão inteligente, que também poderia ser justificada pela logística limitada do histórico Stadttheater na Sechseläutenplatz, que ainda depende de ensaios externos e espaço de armazenamento dispendiosos.
Teatro musical contemporâneoNa prática, a redução de horas proporcionou a Homoki aproximadamente duas semanas de ensaio adicional para cada nova produção. Esse foi o pré-requisito para a segunda parte de sua missão: quando foi trazido da Komische Oper Berlin para Zurique em 2012, esperava-se que ele desse à ópera um perfil mais ambicioso na área de direção e abrisse mais espaço para o desenvolvimento do teatro musical moderno.
Não é segredo que esse não era o foco do antecessor de Homoki, Pereira. A reorientação do teatro foi discutida de forma controversa por alguns públicos, especialmente nos primeiros dias. É verdade que o estilo de direção moderadamente moderno que o próprio Homoki, um diretor de sucesso desde a década de 1990, defendeu foi tudo menos revolucionário. Reinterpretações radicais, perspectivas "conscientes" sobre peças conhecidas ou experimentos desconfortáveis não se tornaram o novo padrão sob sua direção.
Com seu próprio trabalho de direção, Homoki moldou continuamente a estética da casa, dirigindo uma ou duas novas produções a cada temporada. Esse modelo de diretor-chefe não terá continuidade sob Matthias Schulz. Ele tem a vantagem de conferir à casa um perfil claro e previsível em termos de estética cênica – qualquer pessoa que visitasse a Ópera de Zurique sabia de antemão que não estava entrando em um museu nem no matadouro de um diretor.
No entanto, esse modelo tem a desvantagem de não incentivar necessariamente a diversidade de abordagens interpretativas. Como diretores artísticos, os diretores tendem a envolver principalmente colegas que se alinham com sua própria estética. Isso também ficou evidente em Zurique: diretores convidados como Barrie Kosky (a quem Homoki dedicou um brilhante discurso de despedida no domingo), Tatjana Gürbaca, Sebastian Baumgarten e Calixto Bieito contribuíram com suas próprias perspectivas, mas raramente se afastaram da estrutura de uma produção consistentemente baseada em texto e focada no enredo, o que também caracteriza o trabalho do diretor da casa.
Abordagens mais livres, como a encenação intelectual de Romeo Castellucci, a magia teatral de Stefan Herheim ou mesmo as ousadas desconstruções de Tobias Kratzer, não encontraram lugar em Zurique. Aqui, Homoki assumiu significativamente menos riscos do que, por exemplo, o experimental Aviel Cahn no Grand Théâtre de Genève. Além disso, com o tempo, observou-se uma tendência à moderação nas próprias produções de Homoki, às vezes chegando até mesmo a tocar a rotina. O caminho da ousada e lendária produção de "Lady Macbeth de Mtsensk", de Shostakovich, em 2013, até a interpretação classicista e simplificada de "O Anel" em 2022 e 2023 é instrutivo.
No entanto, a leitura que Homoki fez da tetralogia de Wagner tornou-se um marco nas interpretações recentes de "O Anel" justamente por dispensar qualquer superestrutura ideológica e se concentrar no enredo, que foi realizado com grande senso teatral e precisão de atuação.
Uma pergunta para os cantoresO ciclo "O Anel", lançado como um box de DVD de despedida, também demonstra que Homoki não estava disposto a aceitar as constantes críticas à sua direção artística. Ao transformar a Ópera de Zurique em um teatro de direção, dizia-se, ele havia sacrificado a qualidade vocal. Um contraconceito tornou-se evidente nos elencos de "O Anel": eles reuniam grandes nomes, não apenas por uma questão de reputação, mas para formar um conjunto em que cada papel tinha uma escalação distinta, tanto vocal quanto em termos de atuação. As estreias de Camilla Nylund como Brünnhilde e Klaus Florian Vogt como Siegfried causaram grande comoção no mundo da ópera.
Isso nem sempre foi alcançado de forma tão harmoniosa em produções regulares. Às vezes, o elenco demonstrava, sem querer, que cantoras singulares como Edita Gruberová ou Cecilia Bartoli, que comandam uma produção inteira, são raras hoje em dia. Um teatro repleto de estrelas, com belos cenários, que alguns em Zurique lamentam, não é mais uma opção. Seria desastroso para o futuro de todo o gênero se a ópera, como resposta aos hábitos modernos de assistir, não oferecesse nada mais contemporâneo do que aquele espetáculo de glamour milenar que sempre fez parte de sua história, mas nunca seu cerne.
Homoki dificilmente atendeu à necessidade de glamour superficial. Quando combinou grandes cantores e atores com conceitos de produção inteligentes, os melhores momentos revelaram o que a ópera pode ser: teatro musical que estimula tanto a visão quanto o ouvido, além da mente. Ele alcançou esse objetivo em inúmeras produções com o barítono Christian Gerhaher, como "Wozzeck" em 2015, a estreia mundial de "Lunea" de Heinz Holliger (2018) e, mais recentemente, na adaptação para o palco de "Elias", de Mendelssohn.
No último terço de sua direção artística, Homoki teve outro golpe de sorte: em 2021, ele trouxe a bordo o Diretor Musical Geral Gianandrea Noseda, um parceiro artístico que foi capaz de sair de sua sombra com muito mais eficácia do que Fabio Luisi, que era tecnicamente brilhante, mas tinha pouca influência na casa. Noseda se via como um colaborador, mas, quando necessário, também como um adversário, na manutenção de uma interação equilibrada entre música e direção. Essa constelação deu à casa de ópera um novo ímpeto, algo que muitos teriam desejado antes. Noseda continuará seu compromisso sob a direção artística de Matthias Schulz. Agora cabe a Schulz garantir conceitos de alto nível no palco.
nzz.ch