Separação dispendiosa: Um em cada três casais divorciados permanece junto por causa de uma hipoteca.

"Dividimos o pagamento da hipoteca igualmente."
Anya e Sergey, de Ulyanovsk, estavam juntos há oito anos, conseguiram comprar um apartamento com financiamento e, três anos após o casamento, perceberam que não estavam mais em sintonia. O divórcio tinha sido difícil, mas, como acontece frequentemente, as obrigações financeiras os uniram mais fortemente do que o próprio casamento. Vender o apartamento imediatamente após o divórcio não era vantajoso: o valor de mercado era inferior ao saldo devedor do financiamento, e a entrada que haviam economizado com tanto esforço simplesmente desapareceria. Assim, encontraram-se numa situação paradoxal: morando juntos, mas não mais como estranhos.
"Quando concordamos em morar juntos, parecia uma solução temporária", conta Anya. "Imaginei que em um ou dois anos algo mudaria: Sergey encontraria um novo emprego, eu ganharia mais e um de nós compraria a parte do outro. Mas a realidade se mostrou bem mais prosaica. Todo mês, há uma prestação enorme do financiamento imobiliário — 100 mil rublos — e os preços dos imóveis só sobem." Segundo Anya, morar no mesmo apartamento depois do divórcio exige uma busca constante por soluções de compromisso e, consequentemente, uma clara divisão de responsabilidades e despesas. "Foi muito estranho no começo", lembra Anya. "Eu tentava evitar encontrar o Sergey, como se fôssemos vizinhos, não ex-cônjuges. Mas depois percebemos que era impossível viver assim. Precisávamos sentar e resolver tudo."
Eles decidiram dividir o pagamento da hipoteca igualmente. "É nossa responsabilidade compartilhada", diz Anya. "Então devemos pagar igualmente. Eu controlo quem transferiu quanto para que não haja mal-entendidos."
Essa situação, como Anya observa, tem seus prós e contras. "Por um lado, é uma economia enorme. Não pagamos aluguel nem gastamos dinheiro com apartamentos separados. Isso nos permite quitar a hipoteca mais rápido e economizar para o futuro. Mas, por outro lado, infelizmente, é uma lembrança constante do que não deu certo. Ver a pessoa com quem as coisas não funcionaram todos os dias é difícil. Às vezes dá vontade de bater a porta e ir embora, mas para onde?!", lamenta Anya.
Sergey acrescenta: "Eu entendo que não é normal viver tanto tempo depois de uma separação, mas por enquanto não vejo outra saída. Tenho medo de ficar sem teto, e sei que Anya também tem. Não nos divorciamos por acaso — houve motivos. Mas estamos sendo pacientes, tentando respeitar a privacidade um do outro e encontrar um terreno comum. Chegamos até a estabelecer regras: nada de novos parceiros no espaço compartilhado, nada de invadir a privacidade do outro, apenas respeito e cumprimento dos acordos." Os ex-cônjuges esperam em breve conseguir vender o apartamento em condições favoráveis e se mudar. Por enquanto, continuam vivendo nesse "casamento hipotecário", onde os principais guardiões da paz não são o amor, mas sim uma divisão clara das despesas e o respeito mútuo.
"Suportamos tudo pelo bem dos nossos filhos"
A história de Maxim e Elena, de Nizhnevartovsk, não se resume a uma questão de moradia após o divórcio, mas sim a um drama em que os personagens principais são os ex-cônjuges, e o público é representado por três crianças e dois membros peludos da família: um cachorro e um gato.
Quando nossos heróis fizeram um empréstimo hipotecário para comprar um apartamento de quatro cômodos três anos atrás, eles sonhavam com um ninho familiar onde seus filhos — Yegor, de dez anos, e as gêmeas Sasha e Masha, de oito — cresceriam. Seus sonhos de um futuro feliz foram frustrados, mas o apartamento permaneceu. Vendê-lo significaria perder uma parte significativa do investimento e, mais importante, deixar as crianças sem um lar e uma escola familiares.
"Vender agora significaria ficar praticamente sem nada, principalmente considerando a hipoteca que ainda temos que pagar", suspira Elena, enquanto passa as fotos das crianças no celular. "As crianças já se acostumaram com este bairro e com os amigos. Decidimos que seria melhor para elas se tentássemos nos adaptar de alguma forma."
A decisão foi tomada: morar no mesmo apartamento, mas o mais separados possível. O apartamento foi remodelado. Os meninos ficaram com um dos quartos. Elena e Masha se mudaram para o quarto. Maxim, para minimizar interferências, transformou a espaçosa sala de estar em um espaço tipo estúdio. A cozinha e o banheiro se tornaram zonas com horários bem definidos para evitar conflitos desnecessários.
"No começo, era simplesmente insuportável", admite Maxim, sentado na varanda com uma caneca de chá. "Parecia que estávamos na casa de outra pessoa, constantemente em alerta. Mas quando você vê as crianças brincando tranquilamente, sem se preocuparem com o divórcio, percebe que vale a pena. Só temos que aguentar."
Dividir as prestações da hipoteca foi o primeiro e mais importante passo. "Combinamos que eu pagaria 60% da hipoteca e a Elena 40%", explica Maxim. "O salário dela é menor que o meu, então ajustamos as nossas prestações de acordo. Se um de nós enfrentar dificuldades temporárias, sempre conversamos sobre como compensar. O principal é que os pagamentos sejam feitos em dia."
O orçamento compartilhado para as crianças é uma história diferente. Elena, que trabalha remotamente, cobre as despesas diárias: supermercado, roupas, material escolar e merenda escolar. Maxim, cujo emprego é mais lucrativo, paga as contas de luz, água, gás, clubes e atividades das crianças, além de grandes compras como eletrodomésticos e reformas. "Quando fizemos o financiamento imobiliário, pensamos na nossa família, nas crianças. Agora pensamos nelas quando pagamos o aluguel", diz Elena. "Só que agora não é mais a nossa família em comum, mas sim os nossos filhos em comum e os nossos animais de estimação em comum."
O labrador bem-humorado e o tímido gato persa se tornaram os que trazem a vida mais "comum" para esta família hipotecada. "O cachorro é minha responsabilidade", explica Maxim. "Eu o levo para passear e o alimento. É mais fácil com a gata; ela é mais apegada à Lena, mas nos revezamos para comprar ração e areia, como combinado."
"Não sabemos o que vai acontecer com o nosso espaço", diz a mulher. "Talvez consigamos vendê-lo algum dia. Ou um de nós compre a parte do outro, mas por enquanto estamos amontoados neste espaço compartilhado. O principal são as crianças. É isso que nos une."
"As pessoas vivem assim por desespero."
Anastasia M., de 41 anos, de Lyubertsy, perto de Moscou, casou-se por amor aos tempos de faculdade. O casamento durou 15 anos, durante os quais ela teve dois filhos. Há doze anos, o casal fez um financiamento imobiliário para um apartamento de quatro cômodos — espaço suficiente para todos. No entanto, há cinco anos, o relacionamento entre Anastasia e o marido chegou ao fim. Ele teve um caso, que Anastasia não conseguiu perdoar. O casal decidiu se divorciar, mas as prestações do financiamento imobiliário dificultaram a mudança rápida. "Meu ex-marido e eu moramos sob o mesmo teto por um ano após o divórcio oficial", contou ela. "Por um lado, a pandemia agravou a situação e tivemos dificuldades para formalizar tudo por um longo tempo. Por outro lado, também passamos muito tempo tentando encontrar uma maneira de resolver a situação das prestações."
As crianças já estavam muito apegadas ao bairro, com sua escola, clubes esportivos, amigos e vizinhos, então Anastasia não queria trocar de apartamento. O casal decidiu dividir as responsabilidades, embora morar sob o mesmo teto fosse extremamente desagradável para o ex-marido e a ex-esposa. "Dividíamos as prestações do financiamento enquanto morávamos juntos, mas assim que pude, quitei a parte dele e o saldo restante para poder transferir a propriedade para o meu nome", disse ela. "Na minha opinião, as pessoas vivem assim por desespero. Não há vantagens nessa situação: morar junto se torna ainda mais insuportável, e dividir as prestações do financiamento não compensa o dano emocional de forma alguma. Só posso dar um conselho nessa situação: encontre forças para negociar e chegar a uma solução que funcione para todos: ou venda e divida o que sobrar, ou compense a outra parte pelo valor do apartamento."
Disputas hipotecárias
Segundo uma pesquisa realizada por um conhecido marketplace, apenas 36% dos ex-cônjuges conseguem se separar imediatamente após o divórcio. Entre aqueles que continuam morando juntos em um apartamento compartilhado por causa de uma hipoteca, 43% dos russos pagam a hipoteca em conjunto, 38% dividem os pagamentos por acordo e 19% admitem que toda a carga recai sobre um dos cônjuges. Além disso, quanto maiores as prestações da hipoteca, mais tempo as famílias demoram a se separar. Por exemplo, se a prestação mensal ultrapassar metade da renda conjunta dos ex-cônjuges, o tempo médio de convivência é de aproximadamente 10 meses. Isso representa 2,5 vezes mais tempo do que para casais cujas prestações não ultrapassam 20% da renda — esses casais continuam morando juntos após o divórcio por apenas cerca de quatro meses. De acordo com Yaroslav Gutnov, fundador da SIS Development, o número de casais que compartilham hipotecas pode aumentar no futuro devido à crescente participação de hipotecas familiares nas vendas de imóveis nos últimos anos.
Os planos futuros dos casais divorciados variam bastante. Pouco mais de um terço (39%) dos entrevistados planeja vender o apartamento após quitar integralmente o financiamento e dividir o valor da venda. Cerca de um quarto (23%) pretende rescindir o contrato de financiamento antecipadamente para vender o imóvel mais rapidamente, 11% gostariam de comprar a parte do ex-cônjuge, 17% estão considerando morar de aluguel e um décimo dos entrevistados ainda não decidiu seus planos para o futuro.
"Infelizmente, situações em que uma hipoteca se mostra mais forte do que um casamento estão se tornando comuns", afirma Svetlana Opryshko, diretora do portal Vseostroike.rf. "Para uma parcela significativa dos russos, os problemas de moradia são mais graves do que os dramas pessoais. E isso não se trata de uma relutância em sair de casa, mas sim da incapacidade financeira de fazê-lo." Além disso, a própria lógica da coabitação por questões de moradia se aplica não apenas a quem tem hipoteca, mas também, por exemplo, a quem aluga um imóvel.
Este formato de propriedade conjunta certamente tem suas pseudo-vantagens. A principal delas é a preservação do patrimônio e o cumprimento das obrigações de empréstimo com o banco sem o risco de prejudicar o histórico de crédito. Para famílias com filhos, também representa uma tentativa de minimizar o impacto na geração mais jovem, preservando um ambiente familiar. No entanto, há uma desvantagem: não só é impossível encerrar o relacionamento e há a tensão constante de vizinhos indesejados e forçados, como também existe a vulnerabilidade jurídica quando todos os acordos, inclusive os relacionados à propriedade compartilhada, são baseados na falta de honestidade. "No futuro próximo, veremos um aumento dessas situações", prevê o especialista. "O alto custo dos empréstimos e a instabilidade econômica generalizada estão forçando as pessoas a se apegarem aos bens, mesmo à custa de seu bem-estar pessoal."
Mais poderoso do que dramas pessoais
Como salientou Yulia Maksimovich, presidente do Comitê de Hipotecas da Associação Russa de Corretores de Imóveis (RGR), no caso de financiamentos imobiliários, os cônjuges não podem dividir a dívida sem o consentimento do banco. É importante que as partes compreendam também que, se um dos cônjuges efetuou pagamentos da hipoteca durante o casamento, esses pagamentos serão automaticamente considerados como provenientes do patrimônio comum. Alguns casais "trocam" outros bens adquiridos durante o casamento, como um carro, garagem ou vaga de estacionamento, para evitar o pagamento de juros da hipoteca, caso, por exemplo, o dinheiro pertença a um dos cônjuges.
É importante lembrar que os bens adquiridos durante o casamento são divididos igualmente em caso de divórcio, de acordo com o Artigo 10 do Código Civil. Um acordo de partilha de bens pode ser estabelecido para cada cônjuge. Portanto, se não houver disputa entre os cônjuges, eles podem firmar um acordo de partilha de bens (acordo para determinação de quotas). "Um acordo pré-nupcial protege as partes, mas muitos de nós temos preconceitos a respeito: 'E o amor?' ou 'Aqui será diferente'", acrescentou o especialista. "Outra questão delicada é se os cônjuges utilizaram o capital de maternidade. Sempre alertamos sobre as consequências legais de tais situações e, na maioria das vezes, as partes se preparam com antecedência. O processo se complica quando os cônjuges não conseguem chegar a um acordo e, nesse caso, a situação do divórcio deve ser discutida com um advogado."
"Para quem já se encontra em uma situação de divórcio com hipoteca, é importante formalizar legalmente todos os acordos, definindo claramente as obrigações financeiras e os termos de uso do imóvel", aconselha Opryshko. "É crucial discutir um plano para resolver a situação com a outra parte — seja vendendo, comprando a parte de um dos cônjuges ou refinanciando." E, mais importante, aprenda a negociar com calma, transformando o que muitas vezes é um conflito emocional em soluções pragmáticas. Afinal, não se trata mais de morar juntos, mas de um "negócio" conjunto de gestão imobiliária. Portanto, a especialista aconselha que é importante seguir a fórmula: "Nada pessoal, apenas negócios."
mk.ru


