Por que os homens também precisam cuidar do assoalho pélvico

Quando se fala em saúde do assoalho pélvico, a maioria das pessoas pensa que essa é uma preocupação apenas das mulheres. Durante décadas, os estudos se concentraram nos efeitos da gravidez, do parto e da menopausa sobre essa musculatura essencial, responsável por sustentar órgãos como a bexiga, o útero e o reto. No entanto, há um grupo cuja saúde pélvica ainda é negligenciada: os homens.
O assoalho pélvico é tão importante para a saúde masculina quanto para a feminina. Neles, essa musculatura sustenta a bexiga, a uretra, o reto e a próstata. Estima-se que cerca de um em cada cinco homens sofra com algum tipo de disfunção pélvica, número bem mais alto do que se imaginava até pouco tempo atrás.
O problema começa com a falta de informação sobre o tema. Enquanto as mulheres aprendem sobre o assoalho pélvico desde cedo, os homens geralmente só descobrem sua existência quando surgem sintomas e, muitas vezes, recebem diagnósticos imprecisos.
Entre os principais sinais de alerta de problemas nessa região estão escapes de urina, dificuldade para iniciar ou manter o jato urinário, dor na região perineal (entre o ânus e os testículos), desconforto durante a ereção ou ejaculação, constipação e sensação de evacuação incompleta. Muitos desses sintomas acabam sendo atribuídos a infecções, problemas prostáticos ou até questões emocionais.
“A musculatura do assoalho pélvico é essencial para a continência urinária e fecal, além de estar diretamente ligada à função erétil, ejaculatória e ao bom funcionamento intestinal. Quando está enfraquecida, tensa demais ou descoordenada, surgem sintomas que podem comprometer seriamente a qualidade de vida do homem”, explica o urologista Leonardo Borges, do Einstein Hospital Israelita.
Segundo ele, muitos homens convivem com esses sintomas por meses ou até anos sem buscar ajuda — seja por desconhecimento, vergonha ou por acharem que o problema não tem solução. “Isso leva a atrasos no diagnóstico e no início do tratamento”, diz Borges.
Não é problema só de idosos
Um estudo publicado no Journal of Women’s & Pelvic Health Physical Therapy evidencia a falta de informações sobre o tema. Feita com 479 homens, a pesquisa revela que 32% dos participantes com idades entre 25 e 34 anos relataram algum tipo de disfunção urinária. Esse achado contraria o senso comum de que problemas no assoalho pélvico são exclusivos de homens mais velhos.
O trabalho também identificou uma ligação entre disfunções pélvicas e fatores como tabagismo, saúde mental e nível socioeconômico. “Historicamente, os estudos focaram nas mulheres. Mas já está claro que homens também sofrem com disfunções no assoalho pélvico, inclusive os mais jovens, especialmente em contextos de estresse, sedentarismo ou no pós-operatório”, analisa o urologista do Einstein.
A maioria das disfunções pélvicas masculinas ocorre quando há um desequilíbrio muscular: ou os músculos estão frouxos demais (como no caso de homens que passaram por cirurgia de próstata) ou estão excessivamente tensionados, como resultado de estresse crônico, sedentarismo, má postura ou atividades de impacto.
“O estresse emocional pode gerar tensão muscular crônica na pelve, o que dificulta funções básicas como urinar, evacuar ou manter uma ereção. Já o sedentarismo, principalmente em quem passa longos períodos sentado, pode comprometer a circulação e favorecer a fraqueza ou encurtamento muscular. Por esse motivo, uma boa avaliação física e o estímulo a hábitos mais ativos devem ser encorajados nesses pacientes”, orienta o médico.
Atividades como o ciclismo, quando praticadas sem os devidos cuidados, também podem afetar a região pélvica ao gerar compressão constante nos nervos e músculos locais. “Não é preciso evitar o esporte, mas sim praticá-lo com orientação profissional”, frisa Leonardo Borges.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico de uma disfunção no assoalho pélvico é principalmente clínico, feito com base na anamnese e no exame físico do paciente. Em alguns casos, exames complementares como estudo urodinâmico, ultrassonografia perineal ou ressonância magnética da pelve podem ser solicitados para confirmar a suspeita clínica.
Embora o urologista seja geralmente o primeiro profissional a ser procurado, o sucesso do tratamento muitas vezes depende do trabalho multiprofissional, feito com fisioterapeutas especializados. “A fisioterapia pélvica masculina é uma das principais aliadas nesse processo. O tratamento pode incluir exercícios para fortalecer músculos enfraquecidos e técnicas de relaxamento para estruturas excessivamente tensionadas. Quanto mais cedo for iniciado, melhores os resultados. O segredo está em identificar corretamente o tipo de disfunção, o que exige uma avaliação especializada”, observa o especialista.
Também é possível prevenir problemas com pequenas mudanças no estilo de vida. Entre elas, não reter a urina por longos períodos, tratar constipações crônicas, corrigir a postura, fazer pausas após ficar muito tempo sentado, manter um peso adequado e evitar esforços excessivos ao levantar peso. Sempre que possível, vale praticar exercícios pélvicos específicos, como os de Kegel, que basicamente consistem em contrair e relaxar voluntariamente os músculos do assoalho pélvico. Para isso, busque orientação profissional.
Novas diretrizes
A importância do tema vem ganhando reconhecimento. Em abril deste ano, a Associação Americana de Urologia publicou novas diretrizes recomendando que médicos fiquem atentos às disfunções pélvicas em homens e encaminhem os pacientes para fisioterapia quando necessário. O documento mostra uma mudança na forma como a saúde masculina vem sendo abordada.
Para Leonardo Borges, o alerta mais importante é que os homens deixem de sofrer em silêncio. “Quando um homem sente dor, perde urina ou tem disfunção sexual, isso afeta diretamente sua autoestima, sua identidade e sua qualidade de vida. O aumento de informações sobre o tema é muito importante para que ele entenda que cuidar da saúde do assoalho pélvico também faz parte do autocuidado. Ações nesse sentido devem ser encorajadas e vistas positivamente”, conclui o urologista.
Fonte: Agência Einstein
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