Noronha Lopes bate Rui Costa no último debate: o da gritaria

Gabriel Alves — Se fosse sócio do SLB votaria em branco!
A grandeza do SLB num caos verbal incontrolável, inadequado aos valores da instituição e da empresa SAD!
Candidatos sem controlo da palavra, com nota de inimigos e não de sócios candidatos à grandeza de uma marca de alto prestígio, construída com valores que merecem — e que não se revêm nesta verborreia de praça.
Vertente desportiva, social e financeira numa conversa inadequada na forma e pobre no conteúdo!
Hora e meia de discussão pessoal! Forma estéril, onde o fala-mais-alto quis calar o outro, e vice-versa!
Noronha Lopes ao ataque, Rui Costa na defesa.
Ironias sem graça soltaram-se quando em questão está a futura gestão da marca–empresa–sócio–desportiva mais importante em Portugal, com bandeira internacional.
Noronha Lopes diz que faz, vai fazer. Rui Costa clama o que fez e o que vai fazer.
Entre ditos, ataques, gritos, acusações, apartes e justificações, num clima tenso onde ambos, per si, se perderam numa discussão onde os temas — ponderáveis em prol da instituição SLB — se perderam sem uma apresentação clara de um projeto consistente para o futuro da marca Benfica!
Projeto esclarecido, empresa, desporto — onde o futebol é marca de alto rendimento — em prol de solução futura deste debate não surgiu de forma clara! Tendo em conta os movimentos do negócio do futebol a nível internacional, deste debate não se vislumbra grande enquadramento português no seu âmbito.
Os patrocinadores — futuros patrocinadores — olham o debate com reflexão. As autoridades desportivas, e não só, ficam redobradamente atentas! Ver para crer.
À velocidade a que o negócio se desenvolve, este debate deixa reticências! O Benfica fica mais pobre!
Cabe aos sócios decidir! O poder que hoje têm é votar e eleger o presidente do clube. Depois, tudo passa para a SAD! No futebol é a SAD que tem mão — foi no debate bem vincado na defesa de Rui Costa!
Que os sócios, no ato eleitoral, sejam no ato cívico e democrático o contraste vivo do último debate da campanha do SLB. Mostrem, no civismo, o valor e a grandeza da marca Benfica.
Miguel Cordeiro — “Está tudo cansado da campanha. Os candidatos já disseram tudo. O debate vai ter pouco interesse.” Estas e outras frases foram repetidas nos últimos dias — incluindo por mim, confesso. O derradeiro debate na BTV foi tudo menos chato: teve discussão, acusações, gráficos, ataques pessoais e até momentos de gritaria. Mas será que foi esclarecedor? Será que ajudou a convencer indecisos? E será que algum candidato conseguiu “roubar votos” ao adversário?
Somando as respostas a estas três perguntas, o vencedor deste debate tem de ser João Noronha Lopes. O candidato da lista F vinha de uma pobre exibição no frente-a-frente da semana passada. Aí tinha conseguido conquistar votos, mas deixou uma imagem pálida. Esta quinta-feira foi diferente: João Noronha Lopes quis mostrar que é um homem capaz de ir à guerra e, certamente, terá animado os sócios que o seguiram até aqui.
Mas os debates não servem para convencer quem já está convencido — servem para esclarecer, captar indecisos e, no limite, recolher votantes do adversário. Noronha Lopes montou uma estratégia em que conseguiu vencer nestes três aspetos. E conseguiu mais: conseguiu mostrar uma faceta diferente.
Se, no início teve um discurso preparado sobre a situação no futebol, à medida que o debate foi avançando Noronha Lopes mostrou-se cada vez mais confortável e deixou Rui Costa irritado. Problema? Esta estratégia contribuiu para um debate mais confuso, em que, por vezes, os candidatos procuravam mostrar quem seria capaz de gritar mais alto. Foi um “tudo ou nada” do candidato da Lista F. Menos cordial, com garras de fora, mas também irritado. Quis mostrar que é um sócio chateado com a derrota do dia anterior, com o rumo do clube e com a estratégia do atual presidente do Benfica.
Rui Costa foi preparado para muitos ataques. Sabia o que tinha de responder caso Vieira fosse tema; sabia o que dizer quando o tema fosse a estrutura do clube; e tinha, na ponta da língua, resposta para a contratação de jogadores — muniu-se até de relatórios de scout a atletas.
O problema é que Noronha Lopes tinha outra estratégia montada, e isso levou Rui Costa a ter de jogar as cartas que tinha preparadas, mesmo quando os temas pareciam seguir outro caminho.
O atual presidente sabe que tem melhor imagem e que tem tido uma comunicação mais clara e, por isso, entrou confiante no debate e com vontade de dominar — mas Noronha Lopes não estava para isso. Rui Costa destabilizou-se: pediu para não ser interrompido quando passou o debate quase todo a interromper; referiu que Noronha Lopes estava a debater sozinho quando foi Rui Costa a ter sempre mais tempo gasto no cronómetro; e terminou o debate manifestamente irritado. O atual presidente aproveitou a mensagem final para pedir desculpa pela discussão acesa durante o debate. Será que Rui Costa quando está parado no trânsito pergunta: “Por que raio está tanta gente na estrada a esta hora?”
Ambos gritaram, mas a imagem final dos candidatos foi diferente. Noronha Lopes irritou-se com a gestão e os planos de Rui Costa para o clube; Rui Costa, por sua vez, mostrou-se irritado com o próprio Noronha Lopes.
Na conta final, João Noronha Lopes terá convencido mais indecisos; dificilmente terá perdido votos; e pode até ter captado alguns eleitores que votaram em Rui Costa na primeira volta. Ainda assim, Noronha Lopes sabe perfeitamente que o caminho que tem pela frente, para vencer as eleições, é muito longo. E Rui Costa também o sabe. Em vésperas de eleições, fica um debate quente, aceso, mas pouco esclarecedor sobre as ideias das duas listas. Mas sobre isso, não se dizia que os candidatos já tinham explicado tudo?
Rita Tavares — Não há dia pior para qualquer benfiquista do que o seguinte à derrota, em que a natural dor de alma é agravada pelas farpas dos rivais no café, no trabalho, no metro, por WhatsApp, SMS ou sinais de fumo. Um tormento. Para qualquer benfiquista? Ok, talvez não para João Noronha Lopes que agarrou em mais uma derrota na Champions e tentou dar a volta ao seu dia (haja alguém!). Esteve em vantagem durante todo o debate mas a escorregadela na rasteira final de Rui Costa, que fez o confronto acabar em gritaria, tirou-lhe a compostura e pontos.
Não deixou de estar melhor, no geral, muito diferente da postura desconfortável do último debate onde não sabia onde pôr as mãos e muito menos os ataques a Rui Costa. Desta vez soube: pegou na frustração generalizada com as derrotas e culpou a “má gestão” atual por tudo isso. E até falou diretamente ao eleitorado que tem mais votos na mão — onde Rui Costa imperou na primeira volta — dos “fartos” de ter de explicar “aos netos” porque perde o Benfica. “Estou farto de não ganhar”, exclamou pondo qualquer adepto comum a concordar em casa — “também eu!” — e deixando o adversário encostado às más exibições. Ganhou gás e seguiu para a crítica à gestão do negócio (para garantir que a potencialidades comerciais do Benfica estão longe de estar esgotadas) e à gestão de influência (para dizer que Costa é demasiado “fofinho” com quem manda na Liga e da Federação). Foi sorridente e de peito feito até à declaração final onde não tirou praticamente os olhos do papel e (talvez por isso) não viu o carrinho que Rui Costa vinha lá do fundo a fazer.
Não era o seu estilo no terreno de jogo, onde só não acabava de calções imaculados à Néné porque aquela dança perfeita puxava pela rasteira do adversário mais fleumático. No campo político muda de lado e faz ele o carrinho, não se importa de sujar a gravata quando a coisa vai pesada. E ia. Não estava a conseguir desmontar a estratégia de Noronha, esbanjou irritação, pareceu sempre agastado. Trouxe papéis que atirou ao adversário (relatórios de Pedro Ferreira, o diretor para o futebol que Noronha Lopes quer, sobre o pouco proveitoso Meité), disse-lhe que só com “petróleo” consegue executar o seu projeto, mesmo no fim de tudo, atirou mais papéis, especialmente um repetido: a suposta acta da saída de Noronha de vice presidente “ao fim de 58 dias”. Acabou tudo a gritar. E, infelizmente para todos, não foi a gritar por “golo”.
observador



