Líderes partidários. Quem assume as rédeas de cada partido que está na corrida

Em contagem decrescente para mais um ato eleitoral, a LUZ retrata o perfil dos 8 principais líderes que estão na corrida para as próximas legislativas. Desta vez, sem nenhum estreante, mas com todos a apostarem as fichas e a piscarem o olho ao eleitorado com o objetivo de conquistar mais votos. É certo que a crise política poderá ter deixado algumas marcas na popularidade de cada um deles, mas nos últimos dias têm-se multiplicado em argumentos para convencer os portugueses. Para trás ficou o ringue dos debates televisivos e, nos próximos dias, vão continuar na estrada de norte a sul do país. Conheça não só o percurso político, mas também pessoal de cada um dos candidatos

Luís Montenegro. O desejo de continuar apesar das polémicas
Conseguiu ser primeiro-ministro e quer voltar ao cargo para terminar o que começou. Luís Montenegro, o homem do Norte com larga experiência na política, vê-se a braços com polémicas que levaram à queda do Governo e terá de provar aos portugueses que consegue continuar
Se falarmos em Luís Montenegro, a primeira palavra que vai à cabeça de muitos é Spinumviva. Foi, aliás, um dos temas – a par dos imóveis comprados a pronto – que liderou o último debate com todos os partidos e que levou a que o país estivesse novamente em eleições no espaço de um ano. A oposição pede esclarecimentos, Luís Montenegro entende já ter dado as explicações necessárias e o país volta a eleições.
Mas Luís Montenegro considera que pode voltar a vencê-las, como conseguiu há pouco mais de um ano e tem defendido com unhas e dentes o trabalho realizado até aqui, que pretende continuar.
Filho de pai transmontano e de mãe com raízes no Douro, o novamente candidato a primeiro-ministro pela Aliança Democrática sempre viveu em Espinho. A infância foi passada com muitas brincadeiras de rua, onde jogava futebol com os amigos.
Mais tarde, já na adolescência, teve o seu primeiro trabalho como nadador-salvador. Diz que se divertia e ainda ganhava dinheiro.
Por essa altura o futebol tinha-se tornado já uma coisa mais séria. Jogava a nível federado e era ponta-de-lança. Ainda teve vida futebolística no Futebol Clube de Espinho, mas lesionou-se. Praticou também trampolins.
A vida de Luís Montenegro nem sempre foi fácil. Perdeu o pai cedo, quando o progenitor tinha 67 anos. Mais tarde perdeu o irmão, que tinha 45 anos. Perdas que diz ter sentido «muito profundamente».
Mas diz que foi com o pai que aprendeu os valores firmes de honestidade, trabalho e respeito pelos outros. E pela intervenção. É que, apesar de o pai nunca ter sido político, gostava de ser ativo e participativo.
A cozinha é uma das suas paixões, algo que também aprendeu com o pai. E, diz quem já provou, que o arroz de cabidela, a sopa de peixe ou o frango estufado são pratos de Luís Montenegro de comer e chorar por mais.
E é um homem de fé. «Acredito que há mais qualquer coisa e acredito na força da fé que nos foi transmitida a nível familiar, é importante para nos segurar naquilo que temos para fazer».
A primeira vez que teve um cargo político foi aos 20 anos. E ainda que a vida política lhe tenha trazido alguns dissabores, não consegue ficar longe. Mas confessa ser difícil ouvir o que lhe chamam por vezes, assumindo, no entanto, que faz parte da vida que escolheu. «Estamos a ser constantemente observados, escrutinados (…) estou muito habituado a isso, não quer dizer que seja completamente indiferente, acho que não há ninguém que seja». A confissão foi feita há pouco mais de um ano. Por essa altura, Luís Montenegro estaria longe de imaginar que viria a ser muito mais escrutinado do que alguma vez foi.
Sobre a política que faz, é claro: «Tenho que saber fazer com que as pessoas percebam exatamente quem eu sou, o que penso, o que proponho».
Apesar de não ter memória desse acontecimento, a irmã garante que já na escola primária dizia que queria ser primeiro-ministro. E conseguiu. Agora é esperar e ver se consegue o feito pela segunda vez.
É casado e tem dois filhos. Um que nasceu um ano antes de ser pela primeira vez deputado na Assembleia da República e outro que nasceu quando o pai já estava na Assembleia da República e chegou a confessar que é muito difícil que a família tenha que ouvir o que se diz a seu respeito. Foram acompanhando várias etapas da fase política e criando autodefesas.
Ainda esteve cinco anos fora da vida política ativa e até aposta que foram os anos mais felizes da mulher e dos filhos. No entanto, não tem dúvidas que querem muito o seu sucesso e o apoiam a 100%. Voltou, como chegou a dizer na televisão, «por sentido de responsabilidade, por espírito de missão, por termos assumido ao longos dos anos um compromisso que é preciso cumprir e eu estou aqui para o cumprir com toda a força e motivação». Quer voltar a ser primeiro-ministro e acabar o trabalho que começou mas, garantiu, não tem «nenhuma tentação de ficar eternizado no poder».
O primeiro chamamento que teve foi de base local. «Achava que era preciso fazer muitas coisas aqui na terra [Espinho]». «Com 24 anos já era membro da câmara e com 28 candidato a presidente da Câmara. E com 29 deputado na Assembleia da República. Isto aconteceu tudo muito rapidamente», confessou.
Foi deputado durante 16 anos e o líder parlamentar social-democrata que mais tempo ocupou o cargo entre 2011 e 2017. Concorreu pela primeira vez à liderança do partido em 2020, mas perdeu contra Rui Rio. Olhando para os cargos, além de deputado, foi líder da bancada parlamentar, presidente da Assembleia Municipal e vereador na Câmara de Espinho e deputado na Assembleia Metropolitana do Porto.
E chegou mais acima: conseguiu vencer, por pouco, as eleições de 2024 e tornar-se primeiro-ministro. Agora, quer repetir o feito mas com mais margem de distância. E promete: «Continuo muito focado em dar aos portugueses a garantia de que vão continuar a ver muitos dos seus problemas resolvidos».

Pedro Nuno Santos. O homem que diz querer mudar a vida das pessoas
A política sempre fez parte da vida de Pedro Nuno Santos. Desde a juventude que integra cargos políticos. O percurso é polémico, mas o candidato a primeiro-ministro acredita ser a solução
Tem cara séria, mas diz que também sabe rir. O sonho de ser primeiro-ministro é conhecido e as polémicas não parecem abaná-lo. Recentemente, Pedro Nuno Santos garantiu: «Tenho mesmo uma vontade grande [em ser primeiro-ministro] e acredito mesmo que é possível mudar a vida das pessoas, mudar a vida do país».
Mas quem é o homem por trás de Pedro Nuno Santos que todos conhecemos?
É conhecido por ser duro e assume rebeldia na infância. Uma infância que, aliás, esteve sempre marcada pela política. O cargo onde está agora – e aos 46 anos pode vir a ser primeiro-ministro – não era uma ambição quando começou na Juventude Socialista (JS). Mas, como diz, «foi a vida a acontecer».
Pedro Nuno Santos nasceu a 13 de abril de 1977, em São João da Madeira, terra da qual diz ter muito orgulho: «Aprendi muito esta necessidade de cair e voltar a criar. É uma característica dos sanjoanenses».
Diz que a família não era pobre, mas trabalhavam muito. O pai não faz sapatos. O avô fazia. Tinha uma pequena fabriqueta em casa, alguma mecanização mas era muito manual. Já o pai trabalhava numa fábrica. Depois abriu uma empresa e o negócio foi crescendo. «E este ensinamento, esta luta para se conseguir o que tem esteve sempre presente na minha educação enquanto homem», garante.
O pai foi militante ativo a seguir ao 25 de Abril e a sua educação foi sempre com base na política, presente desde que se lembra nas conversas e discussões.
A infância foi confortável. Jogava à bola mas «era péssimo» e fez artes marciais, onde também não era assim tão bom. Destacou-se na natação, mas nunca gostou de desporto. Diz que era bom em comunicar com os outros e tinha cargos importantes na escola como ser delegado de turma ou ter sido presidente da Associação de Estudantes. Licenciou-se em Economia pelo ISEG, instituição na qual foi presidente da Mesa da RGA e membro do senado da Universidade Técnica de Lisboa. Em 2001 desenvolveu atividade no CISEP – Centro de Estudos sobre Economia Portuguesa, na área da Economia da saúde.
Concluída a licenciatura, ingressa no grupo empresarial da família, Grupo Tecmacal, SA., grupo de empresas de serviços e comercialização e desenvolvimento de equipamentos industriais.
Mas é ainda na juventude que a política chega à sua vida. Começou como presidente da assembleia de freguesia de São João da Madeira, deputado da assembleia municipal, presidente da federação de Aveiro da Juventude Socialista e secretário-geral da JS entre 2004 e 2008.
Depois entra para o Governo e ao longo dos anos passou por vários cargos.
A vida política polémica
Mais tarde, Pedro Nuno Santos desempenhou funções de deputado na X e XII Legislaturas, tendo sido vice-presidente do grupo parlamentar do PS e coordenador dos deputados do PS na Comissão de Economia e na Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso BES.
Foi ainda Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares no XXI Governo, de novembro de 2015 a fevereiro de 2019. E foi ministro das Infraestruturas e da Habitação nos XXI e XXII Governos Constitucionais. E é principalmente como membro do Governo de António Costa que Pedro Nuno Santos dá nas vistas. As polémicas somam-se e o dossiê aeroporto ou TAP são os que mais o ‘tramam’.
Em junho de 2022 o país é apanhado de surpresa com o anúncio do novo aeroporto em Alcochete. Do aeroporto à TAP foi um saltinho. Quando se soube que a TAP pagou meio milhão de euros à sua ex-administradora Alexandra Reis, entretanto nomeada secretária de Estado do Tesouro, tudo caiu aos pés do então ministro das Infraestruturas e da Habitação e a bola de neve de polémicas foi aumentando. Pouco depois, Pedro Nuno Santos admitia que sabia do acordo de rescisão de Alexandra Reis com a TAP.
O caso Alexandra Reis – que acabou por levar também à saída da então CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener – forçam a criação de uma Comissão de Inquérito, onde também Pedro Nuno Santos foi ouvido. Assumiu então que foram os momentos mais difíceis da sua vida política: «O ano 2022 foi um ano terrível. Foi duro. Saio do Governo com um caso que teve uma atenção mediática muito grande e isso teve um impacto muito significativo».
Sobre estar na política – que pretende continuar – a intenção é clara: «Estou na política porque acredito que é preciso transformar e essa ideia do sonho e da ambição é um horizonte que queremos atingir. É assim na política como na vida. Se não acreditamos que é possível não vamos fazer nada para lá chegar», disse no Dois às 10, na TVI.
A vida pessoal também não está isenta de polémicas. O nome da mulher de Pedro Nuno Santos – Catarina Gamboa – aparece ligado ao Governo. Conheceram-se há muitos anos, na JS, por intermédio de um amigo muito próximo: Duarte Cordeiro. Ora, Catarina Gamboa, ocupou vários cargos próximos de Duarte Cordeiro, não apenas enquanto foi ministro do Ambiente mas também enquanto vice-presidente da Câmara de Lisboa.
Nessa altura, Pedro Nuno Santos viu-se obrigado a explicar. Defendeu o percurso da mulher e explicou que é normal as pessoas que fazem parte do mesmo núcleo apaixonarem-se, defendendo que Catarina Gamboa fez o seu percurso sozinha. «A Catarina, que é a minha mulher e a mãe do meu filho Sebastião é, também, a Catarina Gamboa: excelente profissional, pessoa de enorme competência e confiança». Foram pais em dezembro de 2016. Pedro Nuno Santos confessou entretanto que gostaria de ter mais, mas não foi possível: «Havia projetos de vida que nós não conseguimos. Queríamos uma família maior e nunca conseguimos».

André Ventura. De quase padre a político
É de ideias fixas e liga pouco aos ataques de que é alvo. Quase foi padre, mas apaixonou-se e estudou Direito. A política vem depois e antes de criar o Chega passou pelo PSD
André Ventura diz que «Portugal precisa de futuro» e a esperança de que poderá ganhar as próximas legislativas ainda não morreu. É daquelas pessoas de quem ou se gosta ou se odeia. É provocador, de ideias fixas e tem sempre de levar a sua avante.
Nascido a 15 de janeiro de 1983, em Algueirão – Mem Martins, na linha de Sintra, Ventura é filho de pai comerciante e a mãe trabalhava no apoio ao secretariado. Não veio de uma família rica, como afirmou ao SOL em 2018. «Tiveram algumas dificuldades em pagar-me os estudos, sobretudo na universidade».
É católico praticante e tem uma fé inabalável, mas não foi educado dessa forma. Não foi batizado porque os pais lhe deram a oportunidade de escolher mais tarde. E escolheu. Aos 14 anos foi à Igreja, descobriu Deus, fez o batismo, a primeira comunhão e o Crisma. De tal forma que pensou mesmo ser padre e frequentou o seminário de Penafirme com esse intuito. Mas desistiu por amor.
A entrada e permanência na faculdade onde cursou Direito – não apenas pelas questões financeiras mas pelo local de onde vinha –, confessa, não foi fácil. «Tinha o objetivo de ser o melhor. E isso orgulha-me muito. Fui um dos melhores alunos de sempre da Universidade Nova de Lisboa. Lutei sempre muito por isso», disse ao SOL. Licenciou-se com 19 valores.
Fala muito rápido. Diz que sempre falou. E que o raciocínio acompanha essa rapidez.
A carreira de André Ventura começou como professor na Universidade Autónoma de Lisboa, de 2013 até 2019, e na Universidade Nova de Lisboa, de 2016 até 2018. Mas fez sempre outras coisas. Foi consultor na Caiado Guerreiro, Sociedade de Advogados, de 2018 até 2019, e comentador desportivo na CMTV de 2014 até 2020. Foi, aliás, como comentador desportivo que se lançou nas luzes da ribalta. Foi também inspetor da Autoridade Tributária.
Mas, antes de se tornar mediático, já tinha andado na política. Primeiro, no PSD, mas foi sol de pouca dura. Em 2015 avançou que talvez fosse candidato pelo PSD à Câmara de Sintra, mas a candidatura não aconteceu. Dois anos mais tarde, foi escolhido pelo PSD para liderar a candidatura à Câmara de Loures nas eleições autárquicas. Perdeu mas foi eleito vereador. Renunciou no ano seguinte.
O Chega vem a seguir. Funda o partido a 9 de abril de 2019 e concorre às eleições legislativas de 2019 como cabeça de lista pelo círculo eleitoral de Lisboa, acabando por ser eleito como primeiro (e único) deputado do partido por si fundado. Nas eleições legislativas de 2024, o partido continuou a crescer, elegendo 50 deputados, quadruplicando o número de deputados em relação à legislatura anterior.

Rui Rocha. Nunca sonhou com a política, critica a esquerda e pisca o olho à AD
Não sonhava com a política mas o partido que lidera tem crescido. Ainda que
Rui Rocha esperasse que as últimas legislaturas durassem mais tempo, está confiante com um objetivo: crescer
Chegou há cerca de quatro anos à Iniciativa Liberal e o caminho tem sido difícil. Rui Rocha – que começou na comunicação do partido e não tinha qualquer experiência política – não esperava chegar onde está, mas confessa que o apoio da família lhe dá força para enfrentar os desafios. É a atual cara do partido e o único objetivo agora é «crescer, crescer, crescer», garantindo que a IL está disponível «para a estabilidade governativa do país».
Líder da Iniciativa Liberal há pouco mais de dois anos, é a segunda vez que se candidata ao cargo de primeiro-ministro.
Nasceu em Angola mas veio ainda em pequeno – aos cinco anos – para Portugal, onde viveu um ano na casa dos avós em Espinho. Depois desse ano, ruma até Braga de onde não voltou a sair. Diz ter poucas memórias de Angola e é um apaixonado pela cidade que escolheu para viver. «A ser de algum lado, sou de Braga», chegou a confessar em televisão. A família não tinha muito dinheiro, mas o pai logo tratou de arranjar sociedade para criar uma empresa de alcatifas.
Sobre a infância, o candidato a primeiro-ministro pela Iniciativa Liberal diz guardar boas recordações. Era bom aluno, sempre foi. E apesar de a mãe ser professora de Matemática e de Rui Rocha não ser nada mau na disciplina, decidiu estudar Direito, tendo feito depois carreira como diretor de recursos humanos. Antes, ainda deu aulas de Direito.
Ao contrário de outros líderes políticos, Rui Rocha não começou cedo na política ainda que, através das redes sociais, tivesse sido quase sempre um comentador muito ativo.
Nessa altura estava longe de imaginar que seria líder da Iniciativa Liberal. Antes disso, não tinha qualquer filiação política. «E mesmo quando aderi à Iniciativa Liberal, aderi para ajudar na parte da comunicação, das redes sociais, é uma coisa que tenho gosto. Não havia nenhuma ambição nem intenção especial, era ajudar o partido, nunca pensei nisso», confessou.
Mas a verdade é que o anúncio da sua candidatura à liderança do partido foi feito através do Facebook, pouco depois de a IL enviar um comunicado a dar conta da saída de Cotrim Figueiredo. Passar de líder de um partido a possível primeiro-ministro não lhe passou pela cabeça. Pelo menos não tão cedo. «Imaginávamos que esta legislatura durasse mais tempo, havia uma maioria absoluta. Era uma possibilidade, mas pensávamos que fosse mais tarde». E isto foi dito há cerca de um ano. Agora enfrenta outra candidatura.
Antes de chegar à liderança do partido, chegou a ser cabeça de lista por Braga nas últimas eleições, em 2022.

Mariana Mortágua O estilo assertivo que defende uma união de esquerda
Recuperar o peso do Bloco de Esquerda na Assembleia da República é uma
prioridade da coordenadora do partido. Uma missão que está longe de ser fácil
para a política de 38 anos
Oseu estilo assertivo e frontal, que é reconhecido por muitos, não se traduziu em votos nas últimas eleições legislativas. Agora Mariana Mortágua, numa tentativa de recuperar o eleitoral, reconhece que «há muita coisa em causa nestas eleições» e acusa «os governos do centro» de «escancararam as portas» à extrema-direita. Recentemente defendeu um Bloco de Esquerda «mais forte» com a integração de diferentes gerações nas listas para as eleições e que a esquerda seja capaz de «se unir» numa altura em que o «mundo está a mudar».
Vista como a escolha natural para assumir as rédeas do Bloco de Esquerda com a saída de Catarina Martins, a política, agora com 38 anos, foi eleita para o cargo, em maio de 2023. Entrou no Parlamento em 2013 pelas mãos de João Semedo para substituir Ana Drago. Tinha 27 anos e interrompeu o doutoramento em Londres para regressar a Portugal para ser deputada. Na altura, Mariana Mortágua reconheceu que «o facto de estar na política» a ajudou «a compreender muito a economia e a ver a disciplina económica de uma forma diferente», disse ao Público. Em 2021, Francisco Louçã apontou ao futuro de Mariana Mortágua o cargo de «ministra das Finanças».
É filha de Camilo Mortágua (1934-2024), histórico ativista, revolucionário, membro fundador e operacional da LUAR. «As discussões políticas eram habituais», lembrou, recordando que a consciência política do pai «não teve a ver necessariamente com a noção do que era o fascismo ou o regime, mas com a noção de que era pobre».
Depois de ter assumido publicamente a homossexualidade, em abril de 2023, foi revelado que casou, no último ano, com uma militante do Bloco de Esquerda (BE), Joana Pires Teixeira.
A sua liderança esteve no início deste ano debaixo de fogo depois de a revista Sábado dar conta do despedimento de várias funcionárias do partido, recém-mães e que em alguns casos ainda estavam a amamentar, após as eleições de 2022 e 2024. A primeira reação do partido foi negar a notícia fazendo queixa à ERC, mas dias mais tarde foi obrigado a recuar e a fazer mea culpa, justificando a decisão com a má situação financeira em que passou a estar quando perdeu 14 deputados, em 2022, e depois um eurodeputado (tinha dois), em 2024. «Num processo penoso como aquele que vivemos em 2022, ao termos que terminar vínculos profissionais com metade das pessoas que empregávamos, nem tudo foi isento de falhas e o Bloco reconhece-o. Cometemos erros que lamentamos e que hoje teríamos evitado», esclareceu o Bloco.

Paulo Raimundo. De anónimo a rosto conhecido, quer maior peso no Parlamento
Era um homem do aparelho, mas quando foi eleito era um rosto desconhecido fora do partido. Hoje, com 47 anos, já deixou de ser, mas tem como desafio conquistar o eleitorado
Asua inexperiência foi ficando para trás e hoje Paulo Raimundo, um homem do aparelho, foi ganhando terreno no PCP e na política. Foi eleito secretário-geral do Partido Comunista em novembro de 2022 e, na altura, a sua escolha causou surpresa fora da vida interna do partido. É o secretário-geral mais novo na história do PCP e nos últimos dias tem vindo a pedir mais força no Parlamento. Nas eleições legislativas do ano passado passou de seis para quatro deputados, o que no seu entender, é «manifestamente pouco», mas para isso tem de recuperar a confiança do eleitorado e estancar as perdas eleitorais, já que o partido continua não só fragilizado pela gerigonça como também por ter sido o único partido a não condenar a invasão russa.
Ainda assim Paulo Raimundo tem se multiplicado em esclarecimentos em torno desta questão. «Para descalar o conflito e minimizarmos o perigo, o caminho não é com mais armas. O caminho é abrir todas as vias para desanuviar o conflito e chegar à paz. Isso é válido para a Ucrânia, para a Palestina e para todos os sítios onde há conflitos», disse numa entrevista à RTP.
Até tornar-se um rosto conhecido dos portugueses, Paulo Raimundo, de 47 anos, conta no seu currículo com várias profissões. Trabalhou como carpinteiro, padeiro, operário, animador cultural na Associação Cristã da Mocidade na Bela Vista e funcionário da JCP. Desde 2004 é funcionário do PCP. Nasce na época em que os seus pais, naturais de Beja, trabalhavam como funcionários do Estoril Futebol Clube, vivendo nas instalações do clube. Quando tinha três anos a família vai viver para Setúbal. Disse que as suas primeiras memórias ficam marcadas pela «vivência de rua e junto ao rio Sado», onde chegou a participar na apanha do marisco com a mãe. Relativamente ao período em que estudou e trabalhou admitiu que lhe permitiu ter um contacto com diferentes realidades laborais e sociais, o que lhe deu acesso a «realidades que lhe permitiram sentir as contradições do dia-a-dia, a realidade do trabalho mal pago, da exploração e da precariedade e, por outro lado, ter a vivência da camaradagem e da solidariedade entre os trabalhadores».
Casado e pai de quatro filhos, o secretário-geral do PCP voltou a surpreender em relação ao salário que ganha numa entrevista a Júlia Pinheiro. «Temos o princípio de não sermos beneficiados, nem prejudicados. Apesar de receber o valor de deputado fico com a parte que correspondia ao salário que tinha. “Faço a minha vida com cerca de 900 euros líquidos, mais o salário da minha esposa. A nossa vida tem de ser em função desses valores».

Rui Tavares. Um homem de consensos que não quer competir à esquerda
O político de 52 anos defende uma maioria à esquerda, que seja plural, para afastar uma maioria de direita. Tem na palavra a sua arma, apesar de apostar na ação política
Regressou ao Parlamento em 2022, mas nas últimas eleições legislativas o Livre reforçou a sua presença no Parlamento ao conquistar quatro deputados. Agora Rui Tavares, conhecido por ser um homem de consensos, defende que a esquerda não pode concorrer para ver quem faz melhor oposição. Nos últimos dias tem acenado com a possibilidade de haver o regresso de uma maioria à esquerda o que, no seu entender, irá dar uma maior estabilidade ao país.
O político de 52 anos é doutorado em História, especializou-se em História da Arte, escreveu vários livros e fundou em 2003 o blogue Barnabé, mas tornou-se mais conhecido aos olhos dos portugueses quando foi eleito em 2009 deputado para o Parlamento Europeu como independente integrado na lista do Bloco de Esquerda. Dois anos mais tarde, abandonou o partido acusando Francisco Louçã de promover uma «caça ao independente» e de ser incapaz de lidar com opiniões contrárias. Fundou o Livre, em 2013, tendo sido legalizado pelo Tribunal Constitucional em março de 2014. Um partido que se apresenta de esquerda verde europeísta, tendo como pilares fundadores a Liberdade, Esquerda, Europa e Ecologia.
A principal figura do partido disse, numa entrevista ao i, ser defensor de uma maioria à esquerda, que seja plural, pois acredita que só assim é possível afastar uma maioria de direita. «Os nossos concidadãos querem é ter várias vozes representadas no Parlamento, umas com as quais concordam mais, outras com as quais concordam menos, mas que saibam trabalhar em conjunto». Um apelo que se tem mantido até aos dias de hoje.
Nasceu em Lisboa em 1972. A sua família é do Ribatejo, de uma aldeia que fica entre o distrito de Lisboa e o de Santarém. «Grande parte das minhas raízes está lá, apesar de ser muito lisboeta. É uma aldeia ferozmente independente, é quase uma ilha num planalto onde as estradas que chegavam lá, ficavam lá. Não se ia para lado nenhum, ia-se para chegar à Arrifana. As pessoas das aldeias à volta chamam-nos ‘os turcos’, nós chamamos às pessoas de fora ‘os gentios’, como os judeus se referem a toda a gente que não é judia. Muito comunista, muito pouco católica, e a certa altura muito batista», disse numa entrevista a Anabela Mota Ribeiro.
Nasceu numa família de esquerda, um dos seus irmãos pertencia à Juventude Comunista Portuguesa e foi estudar para a Checoslováquia. Por isso mesmo, cedo compreendeu que não «podia defender argumentos comunistas», como reconheceu na mesma entrevista.

Inês Sousa Real. A ativista da causa animal que não esquece a violência doméstica
A política de 44 anos é conhecida por lutar com unhas e dentes pelas causas que abraça, apoiando fervorosamente a presença de mais mulheres em lugares de destaque
Assumiu a liderança do PAN em 2021, sucedendo a André Silva, mas nas últimas eleições conseguiu ser eleita quase à tangente. Na altura, assumiu o mau resultado e alertou para os perigos da maioria absoluta e do crescimento da extrema-direita. Agora, à beira de novas eleições e com muitas incertezas em relação à sua reeleição, tendo em conta as várias sondagens que têm sido publicadas, faz um apelo: «Votem com o coração».
Licenciada em Direito pela Universidade Autónoma de Lisboa e tendo pós-graduações em Ciências Jurídico-políticas e Contencioso Administrativo, a política de 44 anos tem uma trajetória política profundamente enraizada na defesa dos direitos dos animais, um compromisso que a levou a ocupar o cargo de provedora dos Animais de Lisboa, embora se tenha afastado devido à falta de apoio da Câmara.
A partir daí, apostou no PAN, onde ingressou em 2011, tendo assumido o cargo de presidente do Conselho de Jurisdição Nacional do partido até 2013. Em 2017, foi eleita deputada na Assembleia Municipal de Lisboa. A sua ascensão política continuou nas Legislativas de 2019, sendo eleita para a Assembleia da República pelo círculo de Lisboa e tornando-se líder parlamentar do PAN. Em junho de 2021, durante o VIII Congresso do partido, foi eleita porta-voz.
A par da defesa dos direitos dos animais em Portugal, Inês Sousa Real também é uma defensora da igualdade de género na política, apoiando fervorosamente a presença de mais mulheres em cargos de destaque. E tem vindo a admitir que a sua prioridade, antes de acabar com as touradas, é tornar a violência sexual um crime público. Numa entrevista ao Público disse que «enquanto líder de um partido e enquanto mulher, não poderia permitir que ficássemos indiferentes ao sofrimento de tantas meninas e jovens às mãos de recuos dos direitos, liberdades e garantias que o 25 de Abril nos trouxe, mas que continuam por conquistar».
A sua liderança é caracterizada por uma abordagem trabalhadora e comprometida com as causas que abraça.
Numa entrevista à Júlia Pinheiro, mencionou alguns dos momentos mais difíceis pelos quais já passou durante a sua vida política -– que incluíram várias ameaças, inclusive de morte. Inês Sousa Real abordou ainda um assunto sobre o qual nunca tinha falado: a maternidade. «Não consegui ter filhos. Namorei durante 20 anos, estive casada 12 [anos]. Tentei, cheguei a fazer tratamentos de fertilização, e não consegui. É uma matéria complexa, foi um objetivo que ficou para trás», disse, referindo que um dos últimos tratamentos que fez foi quando estava no Parlamento, na altura do Orçamento do Estado.
Jornal Sol