Legislativas: CDU diz que «é preciso e é possível» recuperar o deputado eleito pelo Algarve

A cabeça de lista da CDU por Faro criticou ontem a «monocultura do turismo» na região, as dificuldades de acesso à habitação, os problemas de mobilidade e a ausência de investimentos no sector da saúde pública.
Catarina Marques sublinhou que «é preciso e é possível recuperar o deputado eleito pelo Algarve» e apelou ao voto «de coragem e de liberdade, porque o Algarve dispensa bem a política do PS e PSD, ou o bafo fascizante de quem anda ao engano e à mentira».
«O Algarve é uma terra ao sul, uma terra de Abril, onde os valores da liberdade e democracia estarão sempre presentes, uma terra onde a esperança e a confiança de um futuro melhor encontram lugar na CDU», referiu a primeira candidata.
«No Algarve vivem perto de meio milhão de pessoas, milhares de mulheres e homens que todos os dias fazem contas à vida para conseguir responder às crescentes dificuldades, seja no aumento do custo de vida, no acesso à habitação, à saúde e nos transportes. Temos ouvido as dificuldades de quem trabalha em ter a vida digna que merece», disse Catarina Marques.
Durante esta campanha, relatou, «nos mercados, os comerciantes queixavam-se que não vendem mais porque as pessoas não têm dinheiro. Numa região onde a exploração é grande e se ganha pouco, é urgente o aumento dos salários e das pensões, como a CDU defende, em 15 por cento, no mínimo de 150 euros por trabalhador. E para os reformados que ganharam mal uma vida, agora é justo, um aumento extraordinário de todas as reformas e pensões em cinco por cento, no mínimo de 60 euros».
Nos centros comerciais da região, «os trabalhadores falam-nos dos horários de trabalho desregulados e na insegurança dos vínculos laborais. O Algarve é a zona do país em que impera a precariedade e que mais de 75 por cento dos contratos de trabalho são precários, não só no comércio, mas também no turismo. É preciso regular os horários de trabalho, pôr fim à precariedade, um flagelo sobretudo para os jovens trabalhadores».
E acrescentou: «quem vive e trabalha no Algarve necessita de um Serviço Nacional de Saúde (SNS) de qualidade e acessível. Mas a realidade com que nos deparamos são meses à espera de uma consulta, serviços hospitalares encerrados, cirurgias realizadas longe de casa e um desespero enorme quando é preciso dar resposta a uma urgência», acrescentou.
Ainda na área da saúde, a primeira candidata da CDU pediu «que se construa, de uma vez por todas», o Hospital Central do Algarve, recusando o modelo de Parceria Público-Privada (PPP) «que querem impor na sua construção e gestão».
Catarina Marques frisou o problema da habitação. «Como é que podemos cumprir o direito constitucional à habitação se as pessoas não conseguem ter uma casa? Como é que podemos fixar trabalhadores na nossa região se estes têm grandes dificuldades em arranjar um sítio para ficar? A resposta está em mais oferta pública de habitação, em combater a especulação imobiliária, dinamizar o movimento cooperativo, dar combate às taxas de juros, assim como travar o valor do aumento das rendas e parar com os despejos».
Por fim, em jeito de conclusão do discurso, a cabeça de lista lembrou que «os anos passam e o investimento tarda. As opções políticas de sucessivos governos do PS, PSD e CDS, são de colocar toda a região como uma máquina de produzir lucros para os grandes grupos económicos, sobretudo do turismo. O Algarve está assente na monoatividade do turismo. Não temos nada contra o turismo, mas a região não pode continuar a desprezar outras dimensões do nosso aparelho produtivo, como a agricultura, a pecuária, a pesca e a indústria. Isto, ao contrário do que aconteceu agora em Silves, em que a unidade da Corticeira Amorim vai ser deslocalizada, pondo também em risco o trabalho de dezenas de trabalhadores».
Num distrito conquistado pelo Chega nas legislativas de 2024, a CDU avançou esta semana com «30 medidas prioritárias para a região, que a serem implementadas, seria uma verdadeira e decisiva mudança de rumo no sentido da política alternativa que nos faz falta», concluiu.
Por sua vez, Heloisa Apolónia, jurista e ex-deputado da Partido Ecologista «Os Verdes», no uso da palavra, deixou um alerta «sobre o que está em causa» nas eleições de 18 de maio.
«É importante dizer às pessoas que não se deixem iludir, nem se deixem enganar», e deu como exemplo a recém-aprovada Lei dos Solos aprovada pelo governo da AD.
«Um dos maiores problemas com que o país neste momento se confronta é com a matéria da habitação. Qual foi a pseudo-solução que o governo do PSD-CDS encontrou para esta matéria? A Lei dos Solos, que vai aumentar ainda mais a especulação. Sobre o controle do preço das rendas, nada. Sobre o compromisso de mais habitação pública, nada».
Na área da saúde, recordou que o programa da direita prevê «cinco PPPs para hospitais e 174 Centros de Saúde com gestão privada. Isto é só uma amostra daquilo que eles pretendem, pôr a saúde nas mãos dos privados, em vez de financiarem decentemente o SNS».
Sobre os transportes, mais críticas ao governo. «A linha do Algarve continua por modernizar integralmente, por eletrificar integralmente. Para fazer a viagem de Vila Real de Santo António e Lagos, as populações demoram cerca de três horas. Isto é impensável. Continua o subfinanciamento em infraestruturas e em material circulante».
Heloisa Apolónia alertou também para a agenda «Água que Une», pedindo «muita atenção. A sede de privatização é real. O PS, PSD e CDS têm uma vontade de privatização deste sector absolutamente fundamental. E em vez de batalharem no sentido da racionalização da utilização deste recurso fundamental, aquilo que fazem é dar aos grandes grupos económicos a possibilidade de construção de mais grandes e enormes infraestruturas que vão pôr em causa muita da nossa biodiversidade e com uma componente de impacto ambiental extraordinariamente elevado. Para as grandes empresas, a receita é evidente».
«Percebe-se bem quem é que esta gente quer servir e quem é que esta gente efetivamente serve. Diz Luís Montenegro que quer uma reconciliação com os pensionistas. Já houve pensionistas nesta campanha eleitoral que lhe disseram cara a cara que não sentiram rigorosamente nada de diferente na sua miserável pensão relativamente àquilo que era e àquilo que é atualmente», referiu.
E concluiu com um apelo à reflexão: «Montenegro era líder parlamentar quando o Pedro Passos Coelho, então primeiro-ministro, cortou nas pensões. Atenção! À mínima desculpa sobre a necessidade de acertar as contas públicas, acreditem, não terão pudor em cortar, de novo, as pensões. É absolutamente fundamental que as pessoas estejam alertas porque Montenegro, enquanto líder parlamentar na altura, não disse rigorosamente nada contra essa matéria do corte das pensões».
«Os seus objetivos são absolutamente claros. Quando ouvirem falar de um espírito reformista, saibam que isso significa favorecer mais os grandes grupos económicos e deixar por assegurar as necessidades dos cidadãos», rematou.
Por sua vez, o secretário-geral do PCP, considerou que «as pessoas estão cansadas de promessas que se repetem eleição após eleição: no futuro é que vai ser, é agora que se resolve, mas depois a vida de cada um está cada vez mais apertada, anda cada vez mais para trás».
«As pessoas estão cansadas, estão justamente desacreditadas, têm as vidas difíceis e são empurradas para a resignação, para as saídas fáceis, para as ilusões, para a demagogia e para a mentira», discursou.
«É assim em todo o país e é assim também aqui no Algarve, mas isto não tem, não pode e não vai continuar assim», sublinhou.
Ao longo do discurso, Paulo Raimundo concentrou-se no tema da saúde, num distrito onde a falta de profissionais no SNS é especialmente sentida.
«A democracia não se garante sem acesso à saúde. É preciso observar esse processo em curso de distribuição acelerada do SNS pelas mãos do PSD e do CDS, alinhados com a Iniciativa Liberal e o Chega, no seguimento das opções desastrosas do Partido Socialista sobre esta matéria», sublinhou.
«Com este projeto de esperança, apelamos aos trabalhadores, apelamos às populações, apelamos à juventude que deem o murro na mesa, virem o tabuleiro deste jogo que está viciado, onde ganha sempre um grupo de homens».
«O murro na mesa, virar o tabuleiro e recusar a mentira, a demagogia», apelou.
Raimundo afirmou ainda que os «salários aqui no Algarve são mais baixos em medida do nosso país, contrastando com o preço de tudo, onde tudo é mais caro. O que importa é combater a pobreza, desde logo a pobreza infantil, que aqui galopa de forma brutal na região».
Em 2024, a CDU teve em Faro menos de metade dos votos face a 2015, tendo sido a sexta força política mais votada nas últimas eleições, em que Chega, PS e AD conseguiram três deputados cada.
Barlavento