Trump demite Lisa Cook do BC americano e aumenta pressão por corte de juros

O presidente dos EUA, Donald Trump, demitiu a diretora do Federal Reserve (Fed) Lisa Cook, conforme carta publicada na noite desta segunda-feira, 25. A decisão tem efeito imediato na instituição equivalente ao Banco Central americano, segundo a medida publicada em registro na Truth Social.
Lisa Cook, nomeada pelo antecessor de Trump, o democrata Joe Biden, é a primeira mulher negra a se tornar diretora do Fed, depois de ter sido eleita em janeiro de 2022 para ser a governadora do Federal Reserve Bank de Chicago, tendo sido confirmada pelo Senado em 10 de maio e tomado posse em 23 de maio daquele ano.
Cook entrou na mira de Trump após uma acusação do presidente do conselho da Agência Federal de Financiamento Habitacional dos EUA (FHFA, na sigla em inglês), William Pulte, de que ela teria cometido fraude hipotecária. Na quarta-feira, 20, Trump disse que pretendia exortar Lisa Cook a deixar o cargo.
Em justificativa para a demissão, Trump afirmou não ter "confiança na integridade de Cook".
O presidente americano citou que sua decisão levou em conta o artigo 2 da Constituição dos Estados Unidos e o Ato do Federal Reserve de 1913, segundo documento publicado no Truth Social.
O ato do Federal Reserve permite a demissão por justa causa, diz Trump em documento. "Eu determinei que há causa suficiente para removê-la de sua posição".
O republicano faz referência à acusação do presidente do conselho da Agência Federal de Financiamento Habitacional dos EUA (FHFA, na sigla em inglês), William Pulte, listando que Cook teria cometido declarações falsas em um ou mais acordos hipotecários.
Como exemplo, Trump citou que Cook teria assinado um documento atestando que uma propriedade no Estado de Michigan era sua residência principal para o próximo ano. Duas semanas depois, a dirigente teria assinado outro documento citando que uma propriedade na Geórgia seria sua residência principal para o próximo ano, descreve a carta. "É inconcebível que você não estivesse ciente de seu primeiro comprometimento quando fez o segundo", disse Trump.
"O Federal Reserve tem uma responsabilidade enorme em determinar as taxas de juros e na regulação de reservas e dos bancos membros. O povo americano tem de ter plena confiança na honestidade dos membros que determinam a política e supervisionam o Federal Reserve", afirmou o presidente americano.
"À luz da sua enganosa e potencialmente criminosa conduta de um assunto financeiro, eles não podem e eu não tenho confiança em sua integridade", afirmou Trump.
O presidente do conselho da Agência Federal de Financiamento Habitacional dos EUA, William Pulte, agradeceu Trump, em mensagem na rede X:
"Obrigado, presidente Trump, pelo seu compromisso em combater a fraude hipotecária e fazer cumprir a lei. Se você cometer fraude hipotecária nos Estados Unidos, iremos atrás de você, não importa quem você seja".
A mudança de alvoO mercado já estava se acostumando com o tom agressivo do mandatário americano ao presidente do Fed, Jerome Powell. Adjetivos como "atrasado demais", "muito político" e "lento" entram quase cotidianamente nas falas de Trump e nas suas redes sociais para se referir a Powell, em meio à pressão para baixar os juros na maior economia do mundo.
Após um surto de pânico nos mercados por rumores de que o republicano quebraria um consenso global de independência e que houvesse pela primeira vez a demissão de um presidente do Fed, Trump diminuiu o tom, ponderou que Powell poderia cumprir seu mandato até o fim, em maio de 2026, mas deixou claro que o chefe do BC deveria pedir demissão.
O alvo passou a ser uma cadeira mais abaixo na hierarquia do Fed, a de Lisa Cook. O ataque foi o primeiro contra um membro ativo do Comitê Federal do Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) em cargo fora da presidência. Nas mais recentes reuniões do Fomc, Cook foi na mesma linha de Powell e votou pela manutenção de juros. Sua saída potencial abriria espaço para uma nova indicação — certamente com uma postura mais dovish (pelo corte de juros) — do presidente americano à diretoria do banco central americano.
Em seus esforços para ter na mesa que decide a taxa de juros uma composição mais alinhada aos seus interesses, Trump já tinha obtido uma vitória no início de agosto, com a renúncia da diretora Adriana Kugler, no dia 1º.
Trump confirmou, no dia 7, a escolha do atual presidente do Conselho de Assessores Econômicos (CEA, na sigla em inglês), Stephen Miran, para ocupar, até 31 de janeiro, o cargo a cadeira que era ocupada por Adriana Kugler desde 13 de setembro de 2023 — em sua carta, ela disse que reassumiria sua atividade acadêmica na Universidade de Georgetown. Miran, escolhido pelo presidente americano para sucedê-la, é um crítico declarado da gestão de política monetária conduzida por Powell.
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