Quanto e como a China investe no agro brasileiro – e por que isso incomoda os EUA

Assim como em outros setores da economia, a presença da China no agro brasileiro avança a olhos vistos e a passos largos por toda a cadeia produtiva. Mais do que garantir o abastecimento interno de alimentos, os investimentos refletem uma ambição maior do país asiático: consolidar espaço de influência em um contexto geopolítico cada vez mais multipolar, reduzindo a dominância dos Estados Unidos.
Essa movimentação não passa despercebida pelos americanos. Em julho, no projeto de lei do orçamento dos órgãos de inteligência dos EUA para o ano fiscal de 2026, o senador eleito pelo Arkansas Tom Cotton (Partido Republicano) incluiu uma investigação sobre o avanço chinês no setor agrícola brasileiro e seus impactos na cadeia de suprimentos, no mercado global e na segurança alimentar.
Para Alberto Pfeifer, pesquisador sênior do Insper Agro Global e coordenador do grupo de Análise de Estratégia Internacional da Universidade de São Paulo (USP), a iniciativa não chega a surpreender. “Já há serviços de inteligência, ou de espionagem, se for esse termo americano, mapeando isso”, diz.
“O senador apenas escancara uma realidade: a de que a China tem interesse em conhecer melhor a produção agrícola e o fornecimento de uma segurança multidimensional por parte do Brasil. Alguns falam em segurança alimentar, mas eu prefiro o termo ‘segurança multidimensional’, porque não é apenas alimentar, é energética, territorial, social, política, ambiental, enfim, múltipla.”
Para ele, em um mundo interdependente formado por múltiplos atores globais, é natural que a China invista na América Latina, e também que isso incomode a preponderância americana na região.
“Não é mais o mundo da Guerra Fria, em que havia uma separação absoluta entre dois polos. Em um contexto em que, pela cartografia almejada pelo atual governo americano, parece que será um mundo de zonas de influência, de condomínio de poder, e não de polarização, o espaço natural de influência dos Estados Unidos é a América e, portanto, uma presença maior da China atrapalha, distorce, perturba esse equilíbrio”, explica.
Segundo ele, essa é a razão por que os Estados Unidos estão tão atentos a essa conexão sino-latino-americana, em particular em relação ao maior fornecedor de segurança multidimensional para o mundo, que é o Brasil.
Sanções ao Brasil não têm a ver com comércio, diz pesquisadorIsso explica ainda a ofensiva do governo de Donald Trump sobre o país governado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos últimos meses. Como Pfeifer descreve em artigo assinado com o economista Marcos Jank, o movimento não “trata de procedimentos judiciais, nem de censura virtual; e muito menos no comércio”, mas “de uma reconfiguração das esferas de projeção e domínio sobre as vizinhanças territoriais”.
Depois de estabelecer, em abril, uma alíquota de 10% sobre todos os produtos brasileiros que entram nos Estados Unidos, Trump elevou a taxação, embora com uma série de exceções, para 50% – a maior imposta pelo governo americano sobre outro país.
Na carta em que anunciou a elevação da tarifa, divulgada em 9 de julho, o presidente dos EUA citou, entre outros motivos, o processo a que responde o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF), que Trump classificou como uma “caça às bruxas”.
No dia 15, o governo Trump abriu ainda uma investigação contra o Brasil, por meio do Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês), sobre ações, políticas e práticas brasileiras consideradas “irrazoáveis” ou “discriminatórias” e que “pesam ou restringem o comércio americano”.
A ordem para investigação mencionou o sistema de pagamentos Pix, o comércio de produtos piratas na Rua 25 de Março, em São Paulo, o desmatamento ilegal para uso agropecuário, a proteção do mercado de etanol, a corrupção, a proteção de propriedade intelectual e tarifas preferenciais adotadas pelo Brasil no comércio com parceiros como México e Índia.
No dia 30, o governo americano, por meio do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Tesouro (OFAC), incluiu o ministro do STF Alexandre de Moraes na lista de autoridades sancionadas com base na Lei Magnitsky, que prevê o bloqueio de bens e propriedades nos Estados Unidos e proíbe os cidadãos americanos de realizar qualquer transação com os atingidos pela medida por tempo indeterminado.
O governo americano justificou a decisão com a alegação de que Moraes é responsável por “uma campanha opressiva de censura, detenções arbitrárias que violam os direitos humanos e processos politizados, inclusive contra o ex-presidente Jair Bolsonaro”.
Antes disso, o ministro, seus familiares e outros membros da corte já haviam tido seus vistos americanos revogados, sendo impedidos de entrar nos Estados Unidos.
Mais recentemente também passaram a ser proibidos de ingressar em território americano o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, sua esposa e sua filha, além de Mozart Julio Tabosa Sales e Alberto Kleiman, por estarem envolvidos na criação do Mais Médicos.
Os Estados Unidos tratam o programa como um “esquema coercitivo de exportação de mão de obra do regime cubano, que explora trabalhadores médicos por meio de trabalho forçado”.
No dia 12 de agosto, em relatório publicado pelo Departamento de Estado dos EUA, o Brasil foi citado como um país em que a situação dos direitos humanos piorou no ano de 2024.
O documento cita como exemplos do quadro ações tomadas pelo STF para censurar Bolsonaro (PL) e seus aliados, o bloqueio do X e as mortes causadas por policiais militares.
Em uma carta enviada por Trump a Bolsonaro no último fim de semana, o presidente americano confirma a motivação política do tarifaço.
“Compartilho seu compromisso de ouvir a voz do povo e estou muito preocupado com os ataques ao livre discurso – tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos – vindos do atual governo. Manifestei veementemente minha desaprovação, tanto publicamente quanto por meio de nossa política tarifária”, escreveu.
Para Pfeifer, o tarifaço imposto por Trump sobre o Brasil está longe de se resumir a uma questão comercial. “Algumas pessoas começaram a fazer o comentário de que os Estados Unidos estão nos empurrando no colo da China, como se os americanos fossem tão tolos que não antevissem esse tipo de movimento”, argumenta.
"Estados Unidos esperam uma mudança de governo no Brasil"“Os Estados Unidos estão esperando uma mudança de governo, ou uma alteração na orientação da inserção internacional do Brasil. É uma relação governo-governo: os Estados Unidos esperam uma alteração de mandato presidencial do Brasil. Esse é o cálculo final americano”, afirma o pesquisador.
O pesquisador do Insper explica que, à medida que o Brasil caminhar mais em direção à China, mais sanções deve receber dos Estados Unidos, de todo tipo – política, jurídica, econômica –, o que deve piorar a situação interna, com reflexos no contexto social e com o enfraquecimento do governo brasileiro.
“Existe um jogo implícito, entre três agentes econômicos ou atores políticos globais: Rússia, China e Estados Unidos”, pontua Pfeifer. “Não sei até que ponto a China também vai querer entrar em fricção com o governo americano nesta região, que os Estados Unidos já disseram, mostraram, desenharam, deixaram muito claro, que é a zona de influência deles”, diz.
Ele explica que se trata de um jogo inter-relacionado, em que as zonas de influência são de preponderância, não de exclusividade. A Rússia sobre sua região próxima, evidenciada pelo conflito com a Ucrânia; a China sobre territórios como Taiwan e Hong Kong; e os Estados Unidos sobre todo o continente americano.
“O chinês vai fazer comércio, economia e investimentos com o Brasil até o momento em que isso representar uma ameaça, uma afronta ao interesse americano na região. Aí o chinês vai retroceder, porque ele não quer o mesmo acontecendo na sua região, não quer o americano entrando nas questões de Taiwan, por exemplo.”
Vendas para China representam 30% das exportações do agro brasileiroO avanço do apetite chinês pela produção brasileira nos últimos anos impressiona. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em 2024, o Brasil exportou US$ 164,3 bilhões em produtos agropecuários. Desse montante, US$ 49,7 bilhões, ou 30,2%, corresponderam a vendas para a China, principal parceiro comercial brasileiro.
Para se ter uma ideia, o valor é mais que o dobro do que importaram em produtos agropecuários, juntos, os 27 países da União Europeia – US$ 32,2 bilhões, ou 14,1% do total.
Os principais itens brasileiros embarcados para o país asiático no setor, em 2024, foram soja (US$ 31,6 bilhões), carne bovina (US$ 6 bilhões), celulose (US$ 4,6 bilhões), algodão (US$ 1,7 bilhão), açúcar (US$ 1,4 bilhão) e carne de frango (US$ 1,3 bilhão).
No ano 2000, a participação da China nas receitas com exportações do agro brasileiro era de 2,7% e o país asiático era apenas o sexto maior destino do setor, atrás de UE, Estados Unidos, Argentina, Japão e Reino Unido.
Enquanto o valor total das exportações agropecuárias do Brasil cresceu 699% ao longo de 24 anos, o montante gasto anualmente pela China em produtos brasileiros do setor disparou 8.747%.
China investiu quase R$ 400 bilhões no Brasil em 16 anosPara além da aquisição de commodities e bens da agroindústria brasileira, o crescente interesse da China no agro brasileiro se dá também por meio de aquisições, joint ventures e compras de ativos, além de concessão de crédito, contratos de fornecimento e investimentos em logística e infraestrutura.
De acordo com o levantamento mais recente do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), entre 2007 e 2023, o país asiático investiu US$ 73,3 bilhões – quase R$ 400 bilhões na cotação atual – em 264 projetos em território brasileiro.
Desse montante, a agricultura recebeu diretamente US$ 2,4 bilhões (3% do total), mas grande parte dos demais investimentos chineses no Brasil também beneficiam o agronegócio por ajudar a desenvolver a indústria e a infraestrutura do país de modo a ampliar a produção e facilitar o escoamento das exportações.
O setor elétrico brasileiro, por exemplo, atraiu US$ 33,2 bilhões em capital chinês entre 2007 e 2023, o equivalente a 45% do total no período. A indústria manufatureira recebeu aportes que alcançam US$ 5,3 bilhões (7%), enquanto obras de infraestrutura absorveram US$ 3,3 bilhões (5%) de empresas chinesas.
Considerando o estoque de investimentos no período, o Brasil é o quarto país que mais recebeu aportes da China no exterior, sendo o único considerado em desenvolvimento dentre os cinco maiores receptores de capital produtivo chinês no mundo.
A liderança é dos Estados Unidos, com US$ 193,6 bilhões, seguidos pela Austrália (US$ 102,6 bilhões) e Reino Unido (US$ 99,9 bilhões).
Investimento chinês no Brasil cresce 33% em meio a recuo de aportes estrangeiros no mundoSomente no ano 2023, último disponível no levantamento do CEBC, os investimentos chineses no Brasil somaram US$ 1,73 bilhão, uma alta de 33% em relação ao ano anterior.
O crescimento ocorre sobre uma base de referência relativamente baixa, uma vez que houve queda de 78% nos aportes no ano anterior. Ainda assim, revela um movimento atípico dos chineses de retomada no interesse sobre a economia brasileira, uma vez que os investimentos externos no Brasil de forma geral recuaram 17% em 2023, segundo o Banco Central (BC).
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) calculou uma queda de 7% no fluxo global de investimentos estrangeiros e de 13% na entrada de recursos externos na economia brasileira.
Já a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) indicou queda de 2% nos investimentos externos no mundo, de forma geral, e de 10,2% nos aportes estrangeiros no Brasil.
“A China vem adotando uma postura mais cautelosa e seletiva em relação aos investimentos externos por diversas razões”, diz trecho de análise do Bradesco, que patrocinou o levantamento do CEBC.
“A priorização da agenda doméstica e o ambiente geopolítico global mais austero levam o país asiático a ajustar suas estratégias e a focar em parceiros estratégicos, dentre eles o Brasil”, prosseguem os analistas do banco.
Embora os Estados Unidos mantenham o posto de principal origem de investimentos estrangeiros diretos no Brasil, a China ampliou significativamente sua participação com capital no país nos últimos anos.
De acordo com relatório do BC, os aportes de empresas com controle final americano sobre companhias brasileiras saltaram, entre 2010 e 2023, de US$ 109,7 bilhões para US$ 272,9 bilhões, um aumento de 148,7% em 13 anos.
A China, por sua vez, saltou de US$ 7,9 bilhões para US$ 53,2 bilhões, o equivalente a 575% de crescimento no indicador no mesmo período. Com isso, o país asiático saltou de 16.º para 5.º entre as origens do capital estrangeiro investido no Brasil.
China amplia participação em toda a cadeia produtiva do agro brasileiroUma das maiores tradings de grãos atualmente no Brasil é a Cofco International, de controle estatal chinês. A empresa, que opera em 36 países, entrou no mercado brasileiro uma década atrás, quando adquiriu o controle da holandesa Nidera, que já atuava no Brasil com a venda de sementes de cultivares de soja e milho, e da Noble Agri, então uma unidade do Noble Group, de Singapura, que já contava com quatro usinas de cana-de-açúcar no Centro-Sul brasileiro.
Em 2018, a Nidera foi vendida pela Cofco para a Syngenta, maior fabricante mundial de defensivos agrícolas e uma das maiores fornecedoras de sementes, que um ano antes também passou a ser controlada por uma empresa chinesa, a ChemChina.
A lista de investimentos em empresas brasileiras por companhias chinesas nos últimos anos é extensa. Inclui, por exemplo, as empresas de trading e fornecimento de insumos Fiagril, do Mato Grosso, e Belagrícola, no Paraná, que foram compradas em 2017 pela antiga Hunan Dakang, atual PengDu, braço agrícola da Shanghai Pegxin Group.
No mesmo ano, os ativos de sementes de milho da Dow AgroSciences no Brasil foram adquiridas pelas chinesas Yuan LongPing High-Tech Agriculture e pelo CITIC Agri Fund Management, por US$ 1,1 bilhão. O negócio incluiu o acesso total ao banco de germoplasma de milho brasileiro.
China investe em logística e portos brasileiros para escoar produção do agroNo setor de logística, um dos maiores destaques ocorreu em 2022, quando a Cofco arrematou a concessão, por 25 anos, do terminal STS-11, no Porto de Santos (SP).
A primeira fase do empreendimento foi inaugurada em março deste ano, após um investimento de US$ 285 milhões. Com a conclusão das obras no ano que vem, a empresa espera alcançar 14,5 milhões de toneladas de grãos movimentadas por ano, no terminal que será o maior de seu portfólio fora da China.
Recentemente, a gigante chinesa adquiriu 23 locomotivas e 979 vagões para fazer o transporte de até 4 milhões de toneladas de soja, milho e açúcar por ano para o terminal no Porto de Santos. Os grãos devem chegar pela ferrovia da Rumo que liga Rondonópolis (MT) ao município paulista, enquanto o derivado da cana deve usar o terminal rodoferroviário da Cofco em Votuporanga (SP).
Essa não é única a participação chinesa em terminais portuários brasileiros. Em 2017, o controle do Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP) foi adquirido pela China Merchants Port (CMPort), operadora com sede em Hong Kong, por US$ 935 milhões, o equivalente a R$ 2,9 bilhões à época.
Desde que passou a integrar o portifólio da CMPort, que conta com terminais portuários em outros 25 países, o TCP avançou de uma movimentação anual de 810 mil TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) para 1,56 milhão de TEUs, em 2024, segundo comunicado recente da operadora.
No ano passado, o TCP passou a integrar a chamada rota ESA, que liga terminais portuários de Buenos Aires, Montevideo e Santos diretamente ao mercado asiático, passando por Singapura, Hong Kong e pelas cidades chinesas de Yantian, Ningbo e Xangai.
No início deste ano, a CMPort anunciou ainda um acordo para comprar o único terminal portuário brasileiro privado preparado para operar navios petroleiros de grande porte (VLCC), no Porto de Açu (RJ).
O leilão do Tecon 10, o maior terminal de contêineres do Brasil, no Porto de Santos, ainda sem data marcada, também já desperta o interesse de operadoras da China. A Cosco, estatal chinesa de transporte marítimo, e a CMPorts, teriam procurado o governo e a Agência Nacional de Transporte Aquaviários (Antaq) para obter mais informações sobre o certame.
As empresas poderiam se apresentar em consórcio ainda com outra estatal do país asiático, a China Communications Construction Company (CCCC).
Com investimento previsto de R$ 6,45 bilhões e um contrato com prazo inicial de 25 anos, prorrogáveis por até 70 anos, o empreendimento colocará o Porto de Santos entre os 20 maiores do mundo, permitindo uma movimentação de 10 milhões de contêineres por ano.
Ainda que o Brasil tenha optado por não aderir à Iniciativa Cinturão e Rota, também conhecido como Nova Rota da Seda, Lula prometeu, no fim do ano passado, uma "sinergia” entre o programa chinês e projetos de interesse do Brasil do Novo PAC.
A Nova Rota da Seda consiste em um programa trilionário chinês iniciado em 2013 que prevê a realização de obras e investimentos para ampliar mercados para a China e a presença do país no mundo por meio de obras de infraestrutura, incluindo rodovias, ferrovias, portos e avanços no setor energético, como oleodutos e gasodutos.
Um dos grandes empreendimentos da iniciativa na América do Sul é o Porto de Chancay, no Peru, inaugurado em novembro do ano passado pela Cosco. O megaporto, resultado de investimentos de US$ 1,3 bilhão do governo chinês, deve reduzir custos e prazos para importações e exportações entre a China e países latino-americanos pelo Oceano Pacífico.
Em junho, Brasil e China assinaram um acordo de estudos para a construção de uma ferrovia para ligar o porto chinês no Peru ao território brasileiro. O governo brasileiro prevê uma rota que passe pelos estados do Acre e Tocantins, conectando-se à Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), na Bahia.
A própria Fiol, projeto de 1.527 km entre Ilhéus e Caetité, na Bahia, terá investimento chinês, conforme acordo assinado entre o Fundo Chinês para Investimento na América Latina (Clai-Fund), a China Railway Engineering Group (Crec), o governo baiano e a Bahia Mineração.
Investimentos incluem ainda produção de SAF e máquinas agrícolas e financiamentoO avanço do capital chinês no campo brasileiro promete prosseguir nos próximos anos. Em maio, durante visita de comitiva do governo à China, empresários do país asiático anunciaram um total de R$ 27 bilhões em investimentos no Brasil por meio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
Participante do encontro, a companhia chinesa Envision, afirmou que investirá até R$ 5 bilhões na produção de combustível de aviação sustentável (SAF) a partir da cana-de-açúcar no Brasil.
Na mesma missão oficial, o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e o Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China assinaram um memorando de entendimento para impulsionar a mecanização e a tecnificação da agricultura familiar no Brasil.
O documento prevê o fortalecimento das relações institucionais, de investimento e de pesquisa entre China e Brasil no âmbito do setor agrícola de pequena escala, com foco no avanço de tecnologias, maquinário especializado e a aplicação de energia renovável, especialmente voltada para a agricultura familiar e pequenos agricultores.
De forma indireta, a China também tem ampliado seus investimentos no setor agropecuário brasileiro por meio de instituições financeiras. Em 2012, o Industrial and Commercial Bank of China (ICBC) obteve autorização para operar no Brasil oferecendo financiamento ao comércio bilateral e à infraestrutura e manufatura nacionais, com forte potencial para atender demandas do agronegócio.
O banco foi o responsável por realizar, em 2023, a primeira transação no Brasil com moeda chinesa, sem a utilização do dólar, modelo defendido por Lula para transações comerciais entre países membros do Brics.
Em junho do ano passado, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) firmou um contrato com o China Development Bank para financiar projetos de infraestrutura e indústria no Brasil, nas áreas de energia elétrica, manufatura, agricultura, mineração, água, mudança climática e desenvolvimento verde.
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