Mercúrio e a Lua estão encolhendo, mas e a Terra? Entenda o fenômeno

Como parte natural da evolução geológica dos corpos celestes, todos eles encolhem. Isso ocorre principalmente devido ao resfriamento gradual de seus núcleos, e pode levar, dependendo de suas características, até bilhões de anos.
Esse processo é universal para todos os corpos celestes que têm uma estrutura sólida ou semissólida e que possuem calor interno suficiente para gerar mudanças significativas em sua estrutura ao longo do tempo.
Ao “nascer”, planetas e luas são extremamente quentes devido ao calor da acreção (formação) e do decaimento dos seus elementos radioativos. Mas, com o tempo, esse calor interno vai sendo perdido para o espaço, e quando os materiais esfriam, sua tendência é contrair.
Logicamente, a natureza dos materiais constituintes do corpo celeste influencia esse processo. E é por isso que planetas com grandes núcleos metálicos, como Mercúrio, são mais suscetíveis a esse encolhimento, pois, quando resfria, o metal contrai mais do que as rochas.
Há outros exemplos de reduções volumétricas no Sistema Solar, como a nossa Lua, além de satélites de planetas gasosos, e até mesmo estrelas mortas, como algumas anãs brancas, se encolhem à medida que resfriam.
Mas, e a Terra? A resposta é sim: nosso planeta está esfriando e, embora menor do que o de Mercúrio, tem também um núcleo sólido com 85% de ferro. Contudo, algumas características tornam seu resfriamento, e consequentemente, seu encolhimento, um pouco mais lentos. Confira.
De que forma Mercúrio está encolhendo?
Há mais de 50 anos, os cientistas descobriram que Mercúrio vem encolhendo. As primeiras evidências foram detectadas pela missão Mariner 10 da Nasa, que sobrevoou o planeta em 1974 e 1975, e descobriu “escarpas lobadas”.
Essas formas de relevo são encostas íngremes parecidas com falésias, com até três quilômetros de altura e centenas de quilômetros de comprimento. Seu formato é curvo e irregular como se fossem lóbulos ou ondulações sinuosas.
Em um artigo para a plataforma The Conversation, o professor David Rothery, da Open University, explica que, à medida que o interior de Mercúrio encolhe, sua superfície tem cada vez menos área para cobrir.
“Isso é como as rugas que se formam em uma maçã à medida que envelhece, exceto que uma maçã encolhe porque está secando, enquanto Mercúrio encolhe por causa da contração térmica de seu interior”, compara o geocientista planetário.
Apesar do calor de sua superfície chegar a 430°C durante o dia, o fato de possuir um núcleo avantajado, que ocupa 80% do volume do planeta, faz com que sua camada de rocha (manto e crosta) relativamente fina não dê conta de se ajustar ao encolhimento do núcleo metálico.
A sonda Messenger da Nasa, que orbitou o planeta mais próximo do Sol de 2011 até 2015, revelou que Mercúrio havia se contraído em torno de sete quilômetros, desde sua formação há 4,5 bilhões de anos.
A Lua também está encolhendo
A constatação de que a Lua está encolhendo foi anunciada em 2010, por astrônomos do Museu Nacional do Ar e Espaço (NASM), da Smithsonian Institution, também por meio da observação de imagens de escarpas lobadas tiradas por câmeras a bordo das Apollos 15, 16 e 17.
Elas foram comparadas com 14 novas escarpas detectadas pelas câmeras do Orbitador de Reconhecimento Lunar da Nasa, de 2019. As novas formações mostraram que as estruturas não estavam restritas apenas ao equador lunar, como mostrado nas fotos das Apollos.
Em um comunicado na época, o cientista planetário Tom Watters, do NASM, destacou que “Um dos aspectos notáveis das escarpas lunares é sua aparente pouca idade”.
As chamadas “falhas de empuxo”, estruturas geológicas que se formam quando uma parte da rocha é empurrada violentamente por cima de outra, provocaram uma contração global na superfície lunar estimada em cerca de 100 metros no passado recente, afirma Watters.
Ele também analisou oito lunamotos ocorridos em 2019, e concluiu que eles foram produzidos por falhas geológicas ainda ativas, que podem estar “produzindo terremotos lunares hoje, à medida que a Lua continua a esfriar e encolher gradualmente“.
E a Terra? Como estamos encolhendo?’
Ao contrário de Mercúrio, que possui uma atmosfera extremamente fina, e da Lua, que praticamente não tem atmosfera, a Terra tem uma camada gasosa mais espessa. Ela ajuda a reter material que cai do espaço e a conter a fuga de gases leves, como hidrogênio e hélio
Embora muitos meteoros grandes queimem ao entrar na atmosfera, estima-se que cerca de 40 mil toneladas de poeira e partículas espaciais entrem anualmente na Terra.
Contudo, esse volume é considerado insignificante quando comparado à quantidade de gás que escapa da atmosfera para o espaço ao longo do tempo. Ou seja, apesar do ganho de material externo, a Terra também perde massa continuamente.
Segundo o comunicador científico, Chris Smith, “os físicos mostraram que a Terra está perdendo cerca de três quilos de gás hidrogênio a cada segundo. São cerca de 95 mil toneladas de hidrogênio que o planeta está perdendo a cada ano”, explica o microbiólogo a BBC.
Em sua análise sobre os fatores que realmente afetam a massa da Terra, Smith pondera que, se por um lado, o núcleo terrestre perde energia ao esfriar, por outro, acumula calor proveniente do efeito estufa e das mudanças climáticas.
O balanço de tudo isso resulta em uma perda anual de 50 mil toneladas de massa. Pode parecer muito, mas é bem pouco quando comparado à massa do planeta, representando apenas 0,00000000000000001% do total.
Em termos de tamanho, o cálculo foi efetuado por cientistas da Nasa, utilizando uma série de técnicas que incluíram o alcance do laser de satélite com precisão milimétrica.
Os resultados estimaram uma mudança média no raio da Terra equivalente a 0,1 milímetro por ano, algo como a espessura de um fio de cabelo humano, o que é considerado praticamente insignificante em termos práticos.
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CNN Brasil