Braga. Dez candidatos numa corrida 100% masculina à câmara

A corrida à sucessão de Ricardo Rio na presidência da Câmara de Braga, marcada para 12 de outubro, conta com 10 candidatos, todos homens e nenhum deles “repetente” em relação às autárquicas de 2021.
A mobilidade e a habitação, tidas como os principais problemas da cidade, são temas “obrigatórios” na agenda de todas as candidaturas, embora sendo díspares as soluções preconizadas.
A João Rodrigues, advogado e vereador desde 2017, cabe a tarefa de tentar manter a liderança do município nas mãos da coligação Juntos por Braga, composta por PSD, CDS-PP e PPM. Uma das suas principais promessas é a gratuitidade dos transportes públicos para todos os residentes em Braga.
O PS, desta vez, vai concorrer coligado com o PAN (Pessoas, Animais, Natureza), numa lista encabeçada pelo ex-secretário de Estado das Comunidades António Braga, para tentar reconquistar uma câmara que os socialistas perderam em 2013, após um “reinado” de 37 anos de Mesquita Machado.
Designada Somos Braga, a coligação diz que são necessárias soluções imediatas para garantir habitação para a classe média e jovens famílias, prometendo construir 500 casas ao longo do primeiro mandato.
Pelo Chega, vai correr Filipe Aguiar, um empresário que é o atual presidente da concelhia de Braga e vice-presidente da distrital. Filipe Aguiar aponta como prioridades a transparência digital, com os munícipes a terem acesso direto, em tempo real, às despesas e às receitas do executivo, e o desenvolvimento económico, com a redução do IMI e a criação de um polo tecnológico no concelho.
A Iniciativa Liberal (IL) escolheu o seu antigo líder Rui Rocha para número um na corrida à Câmara de Braga. Rui Rocha preconiza a criação da Área Metropolitana do Minho, propõe transformar Braga na “capital do Norte” e aponta a mobilidade e a eficiência autárquica como grandes prioridades.
O movimento independente “Amar e servir Braga” também se apresenta a eleições, liderado pelo arqueólogo Ricardo Silva, que está a cumprir o terceiro mandato consecutivo como presidente da Junta de Freguesia de São Victor.
Ricardo Silva garante que a “governação de proximidade” será a sua marca e aponta a mobilidade como um dos principais problemas da cidade, defendendo que Braga precisa do BRT [metrobus] mas também de outras infraestruturas assentes na ferrovia e de boas políticas de transportes.
A CDU (coligação PCP/PEV) aposta em João Baptista, engenheiro civil e deputado na Assembleia Municipal de Braga. O candidato comunista defende o reforço da frota dos Transportes Urbanos de Braga, a construção da variante do Cávado, a defesa de uma ligação ferroviária entre Braga e Guimarães e a criação de um passe único intermodal regional.
O candidato do Livre é o professor Carlos Fragoso, que aponta como prioridade “combater o marasmo” que considera estar instalado no concelho. Fragoso aponta como um dos seus principais objetivos ter em Braga 10% de habitação pública, que atualmente é inferior a 1%.
Pelo Bloco de Esquerda, corre o advogado António Lima, que já tinha encabeçado a lista do partido à Câmara de Braga em 2005. O candidato bloquista considera que a habitação é o problema número um de Braga e defende que o município “tem de ser proativo”, desde logo criando bolsas de terreno urbanizado, que possam ser disponibilizadas a cooperativas ou a particulares.
Licenciado em Engenharia de Produção e Sistemas, Francisco Pimentel Torres é o número um da lista do Alternativa Democrática Nacional (ADN), que concorre pela primeira vez à Câmara de Braga. Diz que aceitou o convite do ADN por estar “preocupado” com o rumo que Braga tem trilhado, especialmente nos últimos quatro anos, em áreas como o urbanismo, trânsito, habitação e segurança.
Há ainda a candidatura de Hugo Varanda, pelo Movimento Partido da Terra (MPT), que já disse que uma das suas prioridades é reforçar Braga como “capital espiritual do país”. Arqueólogo de formação, Hugo Varanda defende ainda passes gratuitos para jovens e idosos nos transportes públicos e a requalificação “integral” da rede viária do concelho e políticas de justiça social que apoiem famílias numerosas, trabalhadores precários e jovens casais.
Atualmente, o executivo de Braga é composto por seis eleitos da coligação Juntos por Braga, quatro do PS e um da CDU.
A coligação Juntos Por Braga tem 39 elementos na Assembleia Municipal, entre os quais quatro presidentes de junta que concorreram como independentes, mas com o seu apoio. O PS tem 25 deputados, a CDU quatro, o Bloco de Esquerda dois, o Chega outros dois. A Iniciativa Liberal, o PAN e o Grupo S. Victor têm cada qual um deputado.
As autárquicas de 12 de outubro vão eleger o terceiro presidente da Câmara de Braga, um município que desde 1976 apenas teve dois “homens do leme”: o socialista Mesquita Machado e o social-democrata Ricardo Rio.
O chamado “mesquitismo” durou 37 anos, até que em 2013 a Câmara de Braga passou para as mãos de Ricardo Rio, atualmente a terminar o seu terceiro e, por força da lei, último mandato.
Agora, os bracarenses vão ser chamados a decidir quem será o terceiro presidente, numa eleição que conta com um número recorde de candidatos no concelho: 10.
Ao vencedor, caberá gerir um território com 183,2 quilómetros quadrados e com cerca de 203 mil habitantes.
O número de residentes no concelho tem vindo a aumentar, muito por força da imigração, com os Censos de 2021 a revelarem um crescimento de 6,5%. Desde 2021, o crescimento foi de cerca de 4%.
A consequência foi a pressão na habitação, com o valor médio do metro quadrado das casas a disparar, ultrapassando os 1.500 euros. Este será um dos principais desafios dos futuros inquilinos dos Paços do Concelho de Braga, que terão ainda de encontrar soluções para o trânsito, tido unanimemente como outro dos grandes problemas da cidade.
BRT (metrobus), metro de superfície, comboio, variante do Cávado e nó de Infias são propostas que, com mais ou menos consenso, fazem parte da agenda dos 10 candidatos, sendo necessário esperar pelo pós-12 de outubro para saber quais serão validadas pelos eleitores.
A mobilidade assume-se como vital para um concelho que é responsável por 3,81% das exportações portuguesas, equivalente a mais de três mil milhões de euros. O concelho tem quase 27.400 pequenas empresas, 207 médias e 19 grandes, estas últimas com mais de 250 trabalhadores.
O rendimento médio mensal no concelho é de 1.391 euros e o desemprego em 2024 cifrava-se em 4,6%.
Também em 2024, foram registadas 677.579 dormidas em Braga, um aumento de 6,3% face ao ano anterior, o que reflete o peso turístico de um concelho que tem no santuário do Bom Jesus do Monte, classificado como Património Mundial da Unesco, um dos seus principais chamarizes.
A Semana Santa e o São João são outras “marcas” de Braga, conhecida como “cidade dos arcebispos”, mas também como uma cidade de portas abertas. A decisão está nas mãos dos quase 168 mil eleitores do concelho.
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