Aviões parados e escolas fechadas: país às escuras

Aviões e comboios parados, semáforos desligados, escolas e centros comerciais a fechar. A falha no fornecimento de eletricidade atinge todo o território continental e há uma série de serviços afetados. Os apelos das autoridades são para que as pessoas se mantenham tranquilas e se possível evitem as deslocações.
O Governo criou um gabinete de crise liderado pelo ministro da Presidência. António Leitão Amaro garantiu que “o Governo está acompanhar” a situação “desde os primeiros segundos” entre si e com as autoridades e empresas dos principais serviços públicos essenciais. “Trata-se de um fenómeno a nível europeu, não terá tido origem em Portugal, a causa efetiva ainda está a ser avaliada”, explica, frisando que “ainda não há confirmação” se poderá ter sido um ciberataque.
Leitão Amaro explicou que os hospitais estão a fazer uso dos geradores que existem. Isso mesmo adiantaram ao Observador os Hospitais de Santa Maria, o maior do país, e de Viseu. Já o de Évora disse estar sem comunicações internas e que o plano de emergência foi ativado. Alguns hospitais estão a cancelar consultas e exames não urgentes para se focarem nos serviços e nos cuidados críticos e urgentes.
Vacinas transferidas e aviões que no chãoDevido ao apagão, há vacinas que estão a ser transferidas dos centros de saúde para os hospitais, já que algumas instalações não tinham geradores: “Há centros de saúde com geradores e outros não”, indicou fonte do Ministério da Saúde ao Observador. “As ULS estão a acionar os planos de contingência e há casos em que se está a realizar a transferência das vacinas para os hospitais.” Fonte oficial do INEM garantiu que os serviços estão a funcionar normalmente e que entre dados, telefones e SIRESP, não se verificam constrangimentos.
No que toca a aeroportos, Leitão Amaro realçou que “não há descolagens de voos” e “terá havido alguma perturbação nas comunicações com aviões”, priorizando as aterragens em segurança. A ANA já adiantou que acionou os geradores de emergência e que atualmente o aeroporto de Lisboa é o que está com mais limitações. A ANAC pediu que os passageiros para não se dirigirem aos aeroportos
Os centros de controlo de tráfego ferroviário e rodoviário estão a funcionar, garante fonte oficial da Infraestruturas de Portugal (IP) ao Observador. Os únicos comboios que continuam a circular são os alimentados a diesel, diz a mesma fonte.
Passageiros retirados dos túneis do Metro de Lisboa e comboios paradosDevido à greve da CP não havia comboios a circular. Já os da Fertagus, que asseguram a travessia entre Setúbal e Lisboa, estão parados em estação, não havendo nenhum comboio parado em plena via. Numa publicação na página de Facebook, a Fertagus informa que “por falta de tensão na catenária, os comboios encontram-se parados até aviso em contrário”.
Também o serviço do Metropolitano de Lisboa foi suspenso, com o fecho de várias estações durante o final da manhã. Várias pessoas ficaram inclusivamente presas dentro de composições do Metro de Lisboa.
Em vários pontos da cidade são visíveis filas nas estações de autocarro, mas também a Carris, empresa que presta serviço de transporte público urbano de superfície de passageiros no município de Lisboa, ficou com problemas nas comunicações desde a altura do apagão.
Carris com problemas de comunicação. Rede móvel instávelUm trabalhador da empresa, gerida pela câmara municipal da capital, disse à Lusa que a partir do momento da falha de energia “há muita dificuldade em estabelecer contactos”, lembrando até que a empresa “por vezes comunica através de Whatsapp, mas hoje não emitiu qualquer alerta”. O trabalhador da Carris revelou ainda que o controlo de tráfego “está sem comunicações”, pelo que os autocarros ainda circulam, dada a dificuldade em entrar em contacto com os motoristas, enquanto os elétricos já estão parados.
A Nos, Vodafone e Meo confirmaram instabilidade nas ligações. Em declarações ao Observador explicam que ativaram “imediatamente” os planos de contingência e que as suas equipas técnicas estão a acompanhar a situação para garantir “estabilidade dos serviços durante esta fase e também no processo de recuperação.”
EPAL admite interrupções no fornecimento de águaA EPAL diz que “o incidente desta segunda-feira na rede elétrica europeia poderá originar interrupções do fornecimento de água”. Em comunicado é referido que “estão a ser desenvolvidas todas as diligências, no sentido de minimizar os impactos que poderão ocorrer desta situação, no que diz respeito ao abastecimento de água”: “Apela-se ao uso consciente da água”.
A Polícia de Segurança Pública (PSP) pediu que se evitem “deslocações desnecessárias” tendo em conta que o apagão pode levar a que “os semáforos podem deixar de funcionar e a iluminação pública falhar”. Nas redes sociais, a PSP pediu que se respeitem as orientações, que se reduza a velocidade e “redobre a atenção”.
Vários postos de combustível estão a condicionar o abastecimento na sequência da falha energética, segundo confirmaram à Lusa os seus responsáveis. Os carros-tanque também não têm capacidade para abastecer os postos tendo em conta que os “terminais não estão operacionais”, disse o secretário-geral das Empresas Portuguesas de Combustíveis e Lubrificantes (EPCOL), António Comprido.
Centros comerciais, como o Colombo, fecharam portasHá também centros comerciais a fechar, como o do Colombo, uma das maiores superfícies comerciais da capital. A Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), que representa as empresas de supermercados, disse ao Observador que há lojas a encerrar “por uma questão de segurança dos trabalhadores, dos clientes e de segurança alimentar”, isto embora muitas lojas tenham geradores.
Gonçalo Lobo Xavier, líder da APED, refere que esta é uma “situação extrema” e numa primeira fase foi decidido tomar esta opção. “À medida que a situação se desenrolar” serão avaliadas medidas. A situação, acrescentou, está a ser vivida de forma diferente conforme a zona do país.
As escolas também estão a enviar os alunos para casa, como foi o caso do Liceu Pedro Nunes e o agrupamento Vergílio Ferreira. As instituições de ensino superior também estão a suspender as aulas e atividades.
Escolas fechadas, universidades com serviços mínimosDe acordo com o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), as instituições estão “a passar a serviços mínimos em termos de energia”, depois de uma falha de eletricidade ter afetado esta segunda-feira pelas 11h30 várias cidades, de norte a sul do país. Em reposta à Lusa, Paulo Jorge Ferreira, que é também reitor da Universidade de Aveiro disse que o foco é a “cibersegurança e segurança física”, lembrando que existem portas elétricas nas instalações. O Ministério da Educação, Ciência e Inovação informou que ainda não tem um balanço da situação nas escolas, estando ainda a recolher informação.
A PSP anunciou que está a colocar um maior número de polícias nas ruas para auxiliar as pessoas, nomeadamente no trânsito, devido à falha de energia em Portugal continental. O porta-voz da Polícia de Segurança Pública disse à Lusa que os polícias estão auxiliar as pessoas no trânsito, uma vez que devido ao cenário de falta de eletricidade geral os semáforos podem deixar de funcionar.
Os polícias estão também a prestar apoio no Metropolitano de Lisboa, designadamente nas saídas das estações, bem como nos cruzamentos da Avenida da Liberdade e junto à sede da Polícia Judiciária. A PSP foi também chamada para ajudar, juntamente com os bombeiros, algumas pessoas que estavam presas em elevadores.
O Ministério da Justiça afirmou que os geradores estão a funcionar nos estabelecimentos prisionais portugueses. Em caso de necessidade, um esquadrão do Grupo de Intervenção e Segurança Prisional (GISP) encontra-se em prontidão para intervir.
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