O governo nacional superou o primeiro mês de livre negociação do dólar com estabilidade e depósitos recordes.

Um mês depois de permitir a compra gratuita de dólares para pessoas físicas, o governo conseguiu o que parecia improvável em um país com uma longa tradição de turbulência cambial: manter a calma e consolidar a confiança no peso . A taxa de câmbio oficial quase não se moveu — de US$ 1,155 para US$ 1,158 — entre 16 de abril e 16 de maio, enquanto os depósitos em dólares cresceram em US$ 1,2 bilhão, um forte sinal do apoio gerado pela nova fase do programa econômico.
Esse resultado coincidiu com uma desaceleração da inflação, que caiu de 3,7% em março para 2,8% em abril, demonstrando que o salto inicial do dólar não teve impacto significativo nos preços, pelo menos no curto prazo. A combinação de disciplina fiscal, sinais claros de mercado e projeções de aumento de reservas nos permitiu passar no primeiro teste sem incidentes.
Uma grande parte dos novos dólares que entraram foram comprados legalmente e depositados diretamente em contas bancárias. A mensagem foi clara: o mercado confia na capacidade do governo de manter a estabilidade sem a necessidade de controles.
Projeções também ajudam. Entre os US$ 12 bilhões do FMI, os US$ 1,5 bilhão de outros organismos, os acordos de exportação de maio a julho — estimados em US$ 2,9 bilhões mensais — e a possibilidade de fechar um acordo com bancos internacionais de US$ 2 bilhões, o governo se prepara para enfrentar o período eleitoral sem problemas.
Com esse apoio, consolidou-se o retorno do carry trade. O último relatório do IEB Group destacou que, com o declínio da inflação, os títulos de taxa dupla e os títulos CER 2027 se tornaram a opção preferida para investidores em pesos, bancos e seguradoras.
Apesar do clima positivo, uma meta continua sem ser cumprida: o acordo com o FMI estabelece que as reservas devem aumentar em US$ 3,7 bilhões até o final de junho. Mas o presidente Javier Milei permanece firme em sua decisão de não intervir no mercado para comprar dólares, a menos que a taxa de câmbio caia para US$ 1.000 ou menos.
O plano oficial é canalizar toda a moeda estrangeira necessária por meio de canais financeiros, emitindo títulos dolarizados pagáveis em pesos. Essa estratégia já se mostrou bem-sucedida durante o primeiro trimestre do ano e deve ser repetida durante o segundo semestre.
O governo também anunciou que não haverá legalização do uso dos chamados "dólares de colchão" por enquanto, apesar dos relatos que circularam semanas atrás. O próprio presidente negou essas expectativas, e o porta-voz Manuel Adorni esclareceu que qualquer avanço nesse sentido exigiria reformas legais que só podem ser aprovadas pelo Congresso.
A estabilidade do câmbio e a volta do dólar barato já impactam outros setores da economia. Espera-se um aumento nas importações, o que pode beneficiar indústrias e empresas, ao mesmo tempo que reforça a ideia de que não há risco iminente de desvalorização.
Em 7 de maio, o governo interveio indiretamente para deflacionar os preços futuros do dólar, outro gesto que visava neutralizar quaisquer expectativas de uma alta. Com o presente estável e o futuro sólido, as perspectivas para investidores e operadores tornaram-se mais previsíveis e atraentes.
Nesse contexto, o Executivo busca consolidar sua liderança econômica antes do período eleitoral. Sem controles drásticos ou medidas enérgicas, o governo demonstra que é possível estabilizar a economia por meio da confiança, transparência financeira e ordem fiscal.
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