Buenos Aires celebra Hannah Arendt com um encontro de filosofia, arte e política.

Durante quatro dias em setembro, Buenos Aires sediará uma homenagem intelectual e artística inédita: a Conferência Hannah Arendt: Do Exílio à Pós-Verdade , organizada pelo Goethe-Institut e pela Cátedra Livre Walter Benjamin (DAAD), que nos convida a redescobrir a atualidade do pensamento de uma das figuras mais desafiadoras do século XX . O evento acontecerá de 4 a 7 de setembro no Cultural San Martín, com entrada gratuita.

A conferência comemora o 50º aniversário da morte de Hannah Arendt (1906-1975), filósofa e teórica política conhecida por perturbar tanto as instituições acadêmicas quanto o establishment. Seu legado — com foco em temas como totalitarismo, exílio, a banalidade do mal e a condição humana — será abordado em uma programação que inclui palestras, conferências, filmes, performances e painéis de discussão.

O evento também faz parte do calendário oficial que comemora os 200 anos de amizade entre Alemanha e Argentina , e conta com o patrocínio da Revista Ñ e o apoio do Centro Cultural San Martín.

Filósofa alemã de origem judaica, Hannah Arendt (1906-1975) foi uma das intelectuais mais provocativas de seu tempo . Exilada do nazismo e posteriormente cidadã americana, sua obra abarcava temas como o totalitarismo, a banalidade do mal, a liberdade, a condição humana e o julgamento moral. Arendt perturbou regimes e instituições acadêmicas com seu pensamento que transcendia categorias e disciplinas.

Meio século após sua morte, Arendt continua a desafiar o presente. O que significa a banalidade do mal hoje, na era dos algoritmos? Como devemos pensar o exílio em um mundo globalizado? Seu pensamento pode lançar luz sobre os dilemas da inteligência artificial, da justiça transicional ou do colapso climático? Essas são algumas das questões que permearão o programa.

"O evento propõe uma imersão no complexo universo de Arendt para descobrir seu impacto no pensamento, na cultura e na arte, e explorar novas maneiras de transformar nosso inquietante presente", explicam os organizadores.

Abaixo está uma seleção de cinco atividades imperdíveis que resumem o poder e a diversidade do programa:

O filósofo alemão Thomas Meyer, autor de uma monumental biografia intelectual de Hannah Arendt, recentemente publicada em espanhol pela Anagrama, concederá uma entrevista pública em sua primeira visita à Argentina. Especialista no pensamento de Arendt, Meyer discutirá os temas centrais de sua obra, a conexão entre teoria e prática na vida de Arendt e sua edição dos 12 volumes de seus escritos. Ele também discutirá o prólogo que escreveu para a reedição do livro "Sobre a Palestina". Esta será uma oportunidade única de ouvir uma das vozes mais influentes sobre a filósofa.

Como podemos repensar a condição humana na era da inteligência artificial? Esta palestra explora como os conceitos de Arendt se inter-relacionam com o arcabouço técnico atual, a mercantilização da humanidade e os riscos da desumanização global. Martínez propõe analisar os eventos atuais a partir de perspectivas arendtianas para analisar novas formas de governança, vigilância e a erosão dos bens comuns.

Baseando-se nas ideias de Arendt sobre as esferas pública e privada, esta palestra provocativa propõe um exercício contrafactual: você usaria um aplicativo de mensagens como o WhatsApp hoje? Mönig usa este recurso para mostrar como o pensamento da filósofa continua sendo uma ferramenta crucial para debater os limites da exposição, da intimidade e da comunicação digital.

Esta performance, encomendada pelo Goethe-Institut, mergulha no pensamento de Arendt para trazê-lo ao presente em formato cênico. Utilizando materiais documentais, fragmentos de texto e elementos de tradução simbólica, os artistas se envolvem com o legado de Arendt por meio do corpo e da palavra. Uma experiência sensorial para repensar a política a partir do palco.

Este painel reúne representantes de fundações como Konrad Adenauer, Friedrich Ebert, Rosa Luxemburgo e Friedrich Naumann para discutir os múltiplos significados que a figura de Arendt adquire a partir de diferentes correntes ideológicas. Será que a mesma obra pode ser apropriada por atores tão diversos? Uma conversa sobre a riqueza e a complexidade de seu pensamento político.

A Conferência Hannah Arendt foi concebida como um espaço de reflexão, de intersecção de disciplinas e de encontro de públicos diversos: de especialistas a estudantes, de artistas a cidadãos ávidos por compreender o presente. Não é necessária inscrição para as atividades, exceto para algumas exibições e performances, cujos ingressos podem ser retirados na bilheteria com duas horas de antecedência.

Em tempos de confusão, relativismo e discurso extremo, retornar a Arendt também significa nos perguntar novamente sobre o significado da política, da verdade e da nossa vida juntos.