País Basco: A Vida Secreta dos Agricultores do Aeroporto de Biarritz

Nos últimos quatro anos, o terreno pertencente ao Aeroporto de Biarritz tem sido mantido por um agricultor de Ustaritz, que coleta o feno. Uma operação cuidadosamente planejada entre dois voos de aeronaves, uma situação vantajosa para ambas as partes.
Aviões pousando e decolando sobre quatro tratores em plena colheita. A cena improvável ocorreu em junho, a poucos passos das pistas do aeroporto de Biarritz . Nos últimos quatro anos, Xavier Incaurgarat, criador de Blonde d'Aquitaine e produtor orgânico de pimenta malagueta em Ustaritz, vem ceifando feno em 40 hectares de terra pertencentes ao aeroporto.
O projeto foi relançado na época pelo ex-gerente ambiental Bruno Garbail. "Quando cheguei, há trinta e três anos, eu sabia da existência de feno no aeroporto... Havia até milho!", lembra Pascal Pelle, diretor de obras do aeroporto. "Tudo isso parou. Com o relançamento do feno, o desafio era conciliar com sucesso a atividade agrícola com as restrições aeronáuticas, porque hoje os padrões de segurança evoluíram consideravelmente."

Coleção pessoal
Naquele dia, Xavier Incaurgarat é auxiliado por dois vizinhos agricultores e por Michel, o gestor dos espaços verdes. Cada um ao volante do seu trator, orquestram um balé perfeitamente afinado. Na sua cabine, com o rádio ligado ao fundo, Xavier Incaurgarat segue de perto Pierre Duhalde, um jovem colega de 28 anos, aos comandos da máquina que recolhe a relva recém-cortada. Em poucos segundos, a máquina compacta tudo e cospe um fardo cuidadosamente embalado. Xavier Incaurgarat imediatamente o recupera e o coloca num dos reboques puxados por dois dos outros três tratores envolvidos na operação.
"É uma situação vantajosa para todos: Xavier corta a grama, coleta, coleta a grama. A terra fica incrivelmente limpa."
Em uma delas: Michel, em contato constante com a torre de controle, coordena as manobras. Como tratores não podem se aproximar da pista quando os aviões estão passando, ele aguarda o sinal verde dos controladores de tráfego aéreo. Assim que recebe a permissão, transmite o sinal verde pelo seu walkie-talkie. Os agricultores então correm para a beira da pista, mas precisam sair assim que um avião é anunciado. "Às vezes, não temos nem três minutos!", ri Xavier Incaurgarat.

Nicolas Mollo/ “Sudoeste”
“É uma situação vantajosa para todos: Xavier corta a grama, ele coleta, ele coleta a grama”, entusiasma-se Pascal Pelle. Para o aeroporto, o benefício é duplo: “a terra está incrivelmente limpa”, continua. Antes disso, Michel enfrentou uma tarefa titânica. Ele teve que cuidar sozinho de quase 60 hectares. “Era um trabalho maluco. Tínhamos que cuidar das cercas, das valas, do sistema de drenagem... Ele trabalhou à noite por três semanas. Ele cortou, triturou e deixou a grama onde estava. Era inútil e perigoso. Ele era um trabalhador solitário.” O resultado: “A terra estava nojenta, a grama deixada no chão acabava criando turfa e o solo não era mais irrigado adequadamente”, resume Pascal Pelle.
Até 600 botasHoje, Michel mudou de rumo. "É muito mais gratificante para ele", enfatiza. No primeiro ano, ele era o único responsável pelas comunicações de rádio. No ano seguinte, ele se destacou: um reboque foi acoplado ao seu trator e ele se tornou o líder da equipe. "Ele está encantado; é muito mais interessante." E também representa uma enorme economia de tempo: a missão é concluída em quatro dias e uma noite.

Nicolas Mollo/ “Sudoeste”
"Cortamos a grama uma noite", explica Xavier Incaurgarat. "Não voltamos no dia seguinte porque, por questões de segurança, todos precisam descansar por pelo menos onze horas. Voltamos no dia seguinte, nos reagrupamos e, por dois dias, empacotamos tudo. Depois, transportamos tudo de volta para a fazenda."
O fazendeiro está encantado: "Está indo muito bem, todos nós nos encontramos. Este ano, cortamos a grama um pouco mais cedo para obter grama de melhor qualidade. Vamos colocar 300 fardos desta vez e talvez fazer um segundo corte, o que nos permitirá produzir mais 300." O suficiente para alimentar seu rebanho durante todo o inverno. Suas vacas estão se beneficiando duplamente: "Antes, eu não as deixava sair em certos terrenos para poder produzir feno lá. Agora, elas saem com muito mais frequência."
Sem querosenePara Xavier Incaurgarat, cujas vacas e plantações de pimenta são certificadas como orgânicas, surgiu uma pergunta: o querosene poderia contaminar a grama? O agricultor mandou analisar o feno colhido por seu fornecedor de ração orgânica, em conjunto com um laboratório. O veredito: nenhum vestígio de poluição. "Caso contrário, eu não teria continuado", diz ele.
Foi a qualidade da grama, que nunca havia sido tratada, que conquistou os agricultores. "Fiquei feliz quando eles vieram ver o campo pela primeira vez, arrancaram um punhado de grama... E provaram!", conta Pascal Pelle, rindo. A conclusão foi imediata: "Vai ficar bom", garantiram.

Nicolas Mollo/ “Sudoeste”

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SudOuest