A primeira mulher a se tornar presidente da France Télé há 10 anos, quem é Delphine Ernotte Cunci?

Aos 58 anos, ela foi nomeada chefe do grupo público pela terceira vez na quarta-feira, um recorde. Em 2015, vinda do setor de telecomunicações, ela se tornou a primeira mulher a se tornar presidente da France Télé.
Ela prometeu que seu novo mandato de cinco anos, até 2030, seria sinônimo de "passar o bastão para uma nova geração".
Seu início não foi fácil, com sua nomeação atacada por vários sindicatos do grupo.
Sua franqueza também causou ofensa: "Temos uma televisão de homens brancos com mais de 50 anos" e "isso vai ter que mudar". Várias figuras partiram: David Pujadas, Julien Lepers, Patrick Sébastien, William Leymergie...
"Havia apenas 25% de mulheres em nossas ondas de rádio e hoje estamos em 50/50", diz a mulher para quem "ser feminista não é uma palavra suja".
No início, "também fui acusado de ilegitimidade porque não fazia parte do círculo íntimo", lembrou recentemente o esguio e discreto cinquentão no La Tribune Dimanche.
Antes da televisão, esta engenheira, formada pela Centrale, passou a maior parte de sua carreira na Orange, tornando-se diretora executiva da Orange France e seus 80.000 funcionários.
"Aprendi sobre jornalismo, ficção, cinema e entretenimento", admite esta filha de médicos e neta de um ex-prefeito de Bayonne.
Mãe de dois filhos, ela já tinha gosto pelo teatro, com seu marido ator Marc Ernotte.
"Ar dos tempos"Pragmática, ela se integrou à cultura da France Télé, defendendo "a representação de todos os franceses e de todos os territórios".
Em 2024, ela declarou que nas ondas do rádio, "não representamos a França como ela é", mas "tentamos representar a França como gostaríamos que ela fosse".
Em um universo midiático polarizado, esses comentários lhe renderam fortes críticas. Ela então se defendeu da vontade de "distorcer a realidade", garantindo que se tratava de "incentivar uma maior diversidade".
Ela continua odiada pela mídia do bilionário ultraconservador Vincent Bolloré.
Assim, para Pascal Praud, headliner da CNews, "a Sra. Ernotte trabalhou a France TV", como "a Eva Perón do campo do Bem", em referência à passionaria argentina.
Por sua vez, o antigo chefe do M6, Nicolas de Tavernost, admite que "ela às vezes segue o espírito da época um pouco de perto demais". Mas "ela é uma das melhores líderes do serviço público que já conhecemos", disse ele à AFP, descrevendo-a como "uma mulher de palavra" que tem "caráter".
"Um tanque, sim", mas "não é imaginação no poder", rebate outro executivo de mídia privada, apontando para uma gestão excessivamente "administrativa" e uma renovação "entre autoridades públicas".
Política? "Não é minha praia"As conquistas de Delphine Ernotte Cunci incluem o lançamento do canal franceinfo em 2016 (cuja audiência, no entanto, continua baixa) e, mais recentemente, a fusão da France 3 e da France Bleu sob a marca "Ici".
Ela também criou várias plataformas: Okoo, Lumni e france.tv, promovida como a "primeira plataforma gratuita" na França. Mas a France Télévisions "deve acelerar sua transformação digital" para se adaptar a novos usos e públicos jovens, instou a Inspetoria Geral de Finanças em 2024.
O atual carro-chefe do chefe da France Télé é uma holding conjunta para radiodifusão pública — constantemente adiada. Ela deveria se posicionar logicamente para assumir as rédeas.
Este projeto, impulsionado pela Ministra da Cultura, Rachida Dati, lhe rendeu uma série de greves internas e hostilidade na Rádio França, onde há temores de supremacia televisiva.
Outra disputa: com os sindicatos. "O clima social se deteriorou consideravelmente", estima o sindicato CGT na France TV, que observa "uma redução líquida de quase 1.000 empregos em 10.000 em dez anos", em um cenário de austeridade orçamentária.
Delphine Ernotte Cunci, uma profissional com muitas redes, sabe como manobrar. Política? "Não é minha praia", garante o presidente, cuja irmã Marie-Christine Lemardeley é vice-prefeita de Paris.
No ano passado, ela disse à revista Causeur: "Sou dona de uma empresa e nada mais. O que eu gosto é de administrar e tomar decisões."
Nice Matin