USPEC: a poderosa entidade que, com um orçamento de quase US$ 2 bilhões, tornou-se um reduto de cotas burocráticas

Em 30 de abril, Fidel Espitia, diretor interino da Unidade Penitenciária e de Serviços Prisionais , local para onde o ministro do Interior, Armando Benedetti, estaria transferindo suas peças, adjudicou oficialmente o contrato mais importante desta entidade, que representa quase metade de todo o seu orçamento: alimentação para todas as prisões do país.
Esse processo multimilionário tem sido, desde o ano passado, uma das "obsessões" do ex-diretor daquela poderosa entidade, Ludwig Valero, que já havia afirmado que buscaria, por meio de licitação pública, aprimorar um processo há muito criticado por corrupção e baixa qualidade.
Entretanto, em 12 de março, enquanto o importante processo de licitação estava em andamento, Valero foi convidado a renunciar. E embora os motivos oficiais não tenham sido divulgados, várias fontes atribuem sua saída ao fato de ela ser uma "marionete" do senador liberal Miguel Ángel Pinto, que liderou a proposta que acabou derrotando a Reforma Trabalhista proposta pelo governo do presidente Gustavo Petro.
O que aconteceu com o Uspec? 
A saída do Ministério da Justiça ocorreu em meio a alegações de pressão de Armando Benedetti. Foto: Arquivo
A Unidade de Serviços Penitenciários e Prisionais, responsável pela alimentação, saúde e infraestrutura dos centros penitenciários do país, sempre foi criticada por ser um refúgio para cargos burocráticos e cotas. De fato, conforme relatado por este veículo, vários altos funcionários atuais são supostamente candidatos, não apenas para Pinto, mas também para o senador Fabio Amín, também do Partido Liberal.
No entanto, as alegações feitas esta semana pela ex-ministra Angela María Buitrago sobre pressão e interferência indevidas para nomear ou remover funcionários parecem mostrar que o gabinete do ministro Benedett está muito interessado em controlar uma entidade que terá um orçamento de quase dois bilhões de pesos este ano.
Segundo Buitrago, tanto Benedetti quanto Angie Rodríguez, atual diretora do Departamento Administrativo da Presidência (Dapre), pressionaram-na diretamente para que removesse Valero "imediatamente".
Mas não é só isso. Segundo declarações feitas em entrevista ao EL TIEMPO, ambos os funcionários teriam pressionado Buitrago para influenciar questões dentro do sistema prisional "em relação à movimentação de presos e a certos relacionamentos em particular".
Mas a saída de Valero não foi a única. Atualmente, dois dos cargos mais importantes da entidade são ocupados por pessoas indicadas. Poucos dias após o término do processo de licitação de alimentos, entre 9 e 12 de maio, foram aceitas as renúncias de duas figuras-chave da organização: o diretor administrativo e financeiro, Juan Carlos Barragán, e o chefe do departamento jurídico, Sergio Andrés Agón.
Segundo Buitrago, Benedetti a pressionou para remover Valero "imediatamente".
Em vez disso, de acordo com as resoluções emitidas pela Uspec, Naslly Esperanza Fonseca foi nomeado para o Departamento Administrativo, e Fabián Alberto Beltrán para chefiar o Departamento Jurídico. Até o momento, e até o fechamento deste relatório, os nomes ou currículos daqueles que seriam mantidos permanentemente não foram publicados.
Contratos milionários e um orçamento suculento Embora não seja um dos maiores do estado, o orçamento do USPEC não é pequeno. Somente o contrato de alimentos movimenta 946 bilhões de pesos, o equivalente a 49% de todo o dinheiro destinado a essa Unidade no Orçamento Geral da Nação para o ano de 2025: 1,9 trilhão de pesos.
Até o momento, desse total, considerando que o edital de licitação de alimentos foi assinado há menos de 20 dias, a Uspec já gastou 16%, sendo a grande maioria em despesas operacionais.
Segundo dados do Portal de Transparência Econômica (PTE) do Ministério da Fazenda, a Unidade destinou 40 bilhões de pesos aos salários de um quadro de 508 servidores públicos somente em despesas com folha de pagamento neste ano.
O Plano de Pensão 2025 da entidade, conhecido pela Unidade de Dados EL TIEMPO, indica que a folha de pagamento da Uspec está distribuída entre 12 funcionários de nível gerencial, quatro assessores, 116 profissionais, 70 técnicos e 99 funcionários de nível de suporte. No total, considerando apenas a alocação do salário-base e não incluindo bônus e outros benefícios salariais, isso representa recursos que totalizam 183 milhões de pesos por mês.
A Unidade tem 40 bilhões de pesos disponíveis para este ano somente em despesas com folha de pagamento.

Comida na prisão viola o "direito à alimentação", diz a Ouvidoria. Foto: ELTIEMPO
Mas o lado mais interessante da Uspec está nos contratos. Dados abertos do Portal Anticorrupção da Secretaria de Transparência mostram que somente em 2023 foram assinados acordos que totalizam 1,6 trilhão de pesos, enquanto para 2024 foram registrados recursos que somam 450 bilhões de pesos.
Para este ano, o contrato mais caro até o momento é o que, segundo a Secop II, tem como objetivo "oferecer serviço de alimentação à população carcerária sob a responsabilidade do Instituto Nacional Penitenciário e Carcerário - Inpec - e da Unidade de Serviços Penitenciários e Carcerários - Uspec -, composto por café da manhã, almoço, jantar e lanche". (Veja o contrato aqui)
Essa licitação sempre foi muito questionada. Por um lado, organizações e ONGs como a Corporação Internacional Anticorrupção (Coraci) têm apontado que, em processos de aquisição de alimentos em prisões, muitas vezes há "concentração de contratação entre os mesmos operadores de mercado, os mesmos grupos específicos ou prisões administradas por empresas que ofereceram e executaram esses grupos ao longo do tempo, sem concorrência clara neste processo e em eventos anteriores".
É impressionante que, para 2025, apareçam vários dos mesmos empreiteiros que já estavam lá em 2024, incluindo a Macsol Temporary Union e a Ardiko A & S Suministros.
Mas não é só isso. A Ouvidoria tem repetidamente solicitado melhorias em um serviço que ela descreveu como "desumano". Em média, 16.626 pesos, muito menos que o custo de um almoço típico em Bogotá, cobrem café da manhã, almoço, jantar e lanches para um prisioneiro.
Segundo a Defensoria Pública , há “flagrante violação ao direito fundamental à alimentação da população carcerária”, pois “a segurança alimentar não é garantida pela falta de manutenção da infraestrutura da fazenda, pela falta de utensílios de cozinha e pelas condições inadequadas ou insuficientes de conservação, refrigeração, preparo e distribuição dos alimentos”.
Resta saber se este novo contrato, que está apenas começando a ser implementado, irá melhorar de alguma forma as condições deste serviço.
Uma entidade com um orçamento 'na ponta dos dedos' A entidade, vinculada ao Ministério da Justiça e do Direito, foi criada pelo Decreto 4.150 de 2011, com o objetivo de gerir e operar o fornecimento de bens e serviços, a infraestrutura e prestar o apoio logístico e administrativo necessário ao bom funcionamento dos serviços penitenciários e prisionais sob a responsabilidade do INPEC, segundo o documento.
No ano de criação da Uspec, o setor prisional do país apresentava atos de corrupção que geravam investigações por órgãos de fiscalização. Dentro deste panorama, está a condenação de 22 anos de prisão a Luis Enrique Murallas Gutiérrez, tenente do Inpec, que liderou uma rede com outros guardas para exigir pagamentos milionários de presos para ingressar no programa de redução de pena por estudo e trabalho, segundo sentença do Tribunal Penal Internacional.
Segundo Juizado Criminal do Circuito de Bello, Antioquia, em 2011.

Decreto de criação da Uspec Foto: ELTIEMPO
Iván Unigarro Dorado, advogado especialista em gestão pública e mestre em direito público, explicou ao EL TIEMPO as perspectivas de atuação do Estado e as consequências que a recente tempestade midiática sobre a Uspec pode trazer; bem como a questão contratual.
"A atenção dada à entidade é cíclica. Acontece a cada dois ou três anos. Isso não é novidade. Isso se baseia na razão da existência da Uspec, na razão pela qual foi criada e no seu propósito", diz Unirrago. A Unidade Administrativa foi criada para dividir completamente o trabalho do INPEC durante a gestão de Juan Manuel Santos, sob a direção de administrar as instalações penitenciárias e prisionais em termos de propriedade, acrescenta o especialista.
Os bens categorizam alimentos, colchões e roupas, entre outros itens necessários para o funcionamento dos presídios. A medida buscava centralizar a gestão de compras para ser mais eficiente, acrescenta Unigarro.
"As entidades que mais movimentam dinheiro são os órgãos executores. Uma entidade que movimenta bilhões de pesos, como a Uspec, é interessante porque seus recursos são líquidos", comenta o especialista, que diferencia a Uspec de outras unidades administrativas que carecem dessa liquidez orçamentária. Isso se explica pela impossibilidade de não repassar dinheiro ao USPEC, pois nesse caso os presídios deixariam de funcionar. Liquidez no orçamento refere-se ao dinheiro em caixa, dinheiro em espécie.
No entanto, o especialista alerta para a complexidade da prestação dos serviços de alimentação, o que justifica o maior gasto orçamentário da unidade administrativa devido às condições heterogêneas das diferentes unidades prisionais.
O caso, que se tornou fonte de controvérsia entre o ex-ministro da Justiça e Armando Benedetti, atual ministro do Interior, levanta diversas questões sobre a transparência do governo. "Em termos de consequências legais, acusações criminais e disciplinares podem ser movidas uma contra a outra por suposta conduta envolvendo tráfico de influência, abuso de poder, entre outras circunstâncias, e, por outro lado, difamação."
"Do ponto de vista da ética pública e do combate à corrupção, fica claro que as razões, ou o que é trazido à tona, não residem em supostos atos de corrupção, mas sim nas divergências que podem surgir devido a diferentes posicionamentos políticos; tudo isso até que as provas e denúncias correspondentes sejam conhecidas", afirma Unigarro.
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