Quanto custaria produzir energia nuclear na Colômbia? O país planeja utilizá-la a partir de 2038.

A energia nuclear é uma das formas de energia mais seguras e ambientalmente responsáveis do mundo. Apesar do estigma que lhe é atribuído devido aos poucos acidentes nucleares ocorridos nas últimas décadas, a verdade é que a tecnologia avançou rapidamente. É por isso que a Colômbia já está considerando a produção de eletricidade a partir de reatores nucleares, conforme estabelecido recentemente pela Unidade de Planejamento de Mineração e Energia (UPME).
O Plano Nacional de Energia (PEN), elaborado pela UPME, entidade que traça o roteiro para a demanda energética do país, estabeleceu que a Colômbia deve começar a trabalhar no desenvolvimento de energia a partir de usinas nucleares.

Reator nuclear do Serviço Geológico Colombiano. Foto: Marcela Han. Serviço Geológico Colombiano.
“No cenário de inflexão, a participação de energia elétrica na rede aumenta. A geração provém de usinas eólicas, solares e geotérmicas, onshore e offshore. Da mesma forma, pressupõe-se a entrada de pequenas usinas nucleares, a instalação de sistemas de captura e sequestro de carbono em usinas termelétricas e a saída de algumas usinas geradoras devido à obsolescência tecnológica e aos altos fatores de emissão ”, observa a Central Elétrica Nacional (PEN).
Lá, fica estabelecido que a Colômbia poderia usar uma tecnologia conhecida como pequenos reatores modulares (SMRs). Esses reatores têm aproximadamente o tamanho de uma casa pequena, podem permanecer operacionais por até cinco anos sem qualquer manutenção, são empilháveis, permitindo a instalação de múltiplos reatores, e não exigem muito trabalho para serem instalados, pois são essencialmente comprados prontos, instalados e imediatamente colocados em operação.
De acordo com as disposições da Central Elétrica Nacional (PEN), o país prevê que essas usinas termelétricas (SMRs) forneçam 1.200 megawatts de capacidade ao sistema (equivalente à metade da capacidade da Hidroituango) a partir de 2038, substituindo gradualmente as usinas termelétricas que atingirem o fim de sua vida útil. "As SMRs têm capacidades menores do que as usinas nucleares tradicionais e são modulares, o que significa que têm custos de investimento mais baixos e são flexíveis na operação", afirma a PEN.

O país planeja produzir metade da energia de Hidroituango a partir de fontes nucleares. Foto: EPM
Segundo Diego Torres, doutor em Física Nuclear e pesquisador da Universidade Nacional, as usinas de energia nuclear (SMR) são uma das melhores opções para geração de energia nuclear no país, dada a facilidade de aquisição, instalação, manutenção e uso em áreas remotas, como a Amazônia. Lá, onde a eletricidade é produzida a partir da queima de combustíveis fósseis, principalmente o diesel, as SMR podem desempenhar um papel fundamental não apenas na produção de eletricidade, mas também na descarbonização da matriz energética.
“Os SMRs são equipamentos prontos; não é preciso pesquisar, nem nada. Isso equivale a comprar uma máquina internacionalmente. Mas exige decisão política e dinheiro. Defendo fortemente o uso desses reatores modulares, por exemplo, em áreas como a Amazônia, onde a energia nuclear é urgentemente necessária. Precisamos de energia estável porque, na Amazônia, tudo o que fazemos é queimar diesel, e o lixo acaba no Rio Amazonas”, enfatiza Torres.
Para ele, a Colômbia deve considerar alcançar a independência energética no futuro, algo já proposto no Plano de Ação Nacional (PEN), mas que ainda precisa de apoio político. Isso significa diversificar a matriz de fontes de energia. Atualmente, 68% da eletricidade da Colômbia provém de usinas hidrelétricas e os outros 30% de termelétricas. Em um cenário de mudanças climáticas, a Colômbia poderá enfrentar secas que comprometeriam a produção de energia do país.
A energia nuclear na Colômbia custaria entre US$ 320 e US$ 480 pesos por kWh. Diante dessa realidade, e pela primeira vez na Colômbia, um estudo científico calculou quanto custaria gerar eletricidade usando tecnologia nuclear mais segura, compacta e moderna. De acordo com os resultados, a produção de energia com essa tecnologia custaria em média US$ 77 por megawatt-hora (MWh), com um valor máximo de US$ 117 por MWh, o equivalente a aproximadamente US$ 320 a US$ 480 pesos por quilowatt-hora (kWh).
Esses números, segundo os especialistas responsáveis pelo estudo, mostram que a energia nuclear pode ser competitiva com fontes tradicionais como o carvão, com a vantagem de ter emissões poluentes quase nulas.
Essa tecnologia oferece uma fonte constante de energia, o que garantiria eletricidade estável no país no futuro, mesmo em regiões remotas. Também contribuiria para a melhoria da qualidade do ar e da saúde pública, reduzindo as emissões de gases poluentes.

Na foto, o único reator nuclear da Colômbia. Foto: Arquivo EL TIEMPO / Serviço Geológico Colombiano
Embora sua implementação esteja planejada para 2038 pela UPME, ter estimativas realistas agora permite que o país planeje com antecedência um sistema elétrico mais robusto, evitando aumentos inesperados de tarifas e garantindo uma transição energética ordenada.
No entanto, é importante observar que a implementação dessa tecnologia exigirá uma estrutura regulatória sólida e a adesão a um programa de conformidade de marcos elaborado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Este primeiro estudo, liderado pelo Professor Camilo Prieto Valderrama, da Pontifícia Universidade Javeriana, e publicado no International Journal of Energy Economics and Policy, preenche a lacuna em sua avaliação econômica e técnica, fornecendo uma ferramenta fundamental para o planejamento energético de longo prazo. Também recomenda o estabelecimento de incentivos e a promoção de regras claras para atrair investimentos nacionais e estrangeiros.

O país tem clareza de que precisa diversificar suas fontes de energia. Foto: Istock
O planejamento energético em torno dessa tecnologia é resultado de uma política pública de longo prazo, desenvolvida pelos governos. Foi incluído no Plano Nacional de Energia 2022-2052, elaborado durante o governo anterior e continuado pelo atual, buscando enfrentar os desafios energéticos do país.
"Para tornar essa alternativa energética uma realidade, a Colômbia precisa avançar na aprovação da Lei Nuclear no Congresso, oferecer incentivos, capacitar profissionais e promover o diálogo social para que a nação possa formar uma opinião informada", disse o professor Camilo Prieto Valderrama.
Ele acrescentou que "este estudo marca uma virada no planejamento energético do país. Pela primeira vez, é apresentado um valor concreto sobre o custo de geração de energia nuclear com pequenos reatores modulares na Colômbia. Este estudo servirá como ferramenta para a tomada de decisões informadas, tendo em mente a estabilidade do sistema elétrico e a sustentabilidade ambiental."

Camilo Prieto é médico, professor e ambientalista. Ele também é conselheiro do Fórum Nacional do Meio Ambiente. Foto: Arquivo pessoal
Jornalista de Meio Ambiente e Saúde
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