A eletrificação da Espanha está em risco devido ao sistema de remuneração da rede.

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A eletrificação da Espanha está em risco devido ao sistema de remuneração da rede.

A eletrificação da Espanha está em risco devido ao sistema de remuneração da rede.

O que pode parecer um problema técnico pode ter consequências muito reais para todos: desde residências que desejam instalar painéis solares até empresas que precisam de energia para crescer. E o problema não é pequeno.

A Comissão Nacional de Mercados e Concorrência (CNMC) — o órgão que regula o setor elétrico — propôs novas regras que, segundo analistas e especialistas, penalizam as empresas responsáveis ​​por levar eletricidade das principais linhas de alta tensão até nossas casas e empresas. Enquanto isso, o monopólio que administra as rodovias de alta tensão (a Rede, antiga Rede Elétrica Espanhola) tem a ganhar, e muito. Isso gerou profunda inquietação no setor e um medo crescente: se a abordagem não for alterada, a eletrificação da Espanha pode estagnar.

O alarme disparou após a publicação de duas propostas importantes da CNMC. Essas propostas afetam as redes de distribuição — aquelas que chegam aos consumidores — e reduzem drasticamente a lucratividade das empresas que deveriam ser responsáveis ​​por fortalecê-las e expandi-las. Elas receberão menos pelos investimentos, e o valor que receberão dependerá da conquista efetiva de novos clientes. Em outras palavras, se uma empresa instala uma linha para um futuro parque industrial, não receberá nada até que uma empresa se conecte, o que pode levar oito anos. Com esse modelo, muitos investimentos deixarão de ser feitos.

a Redeia, que administra as redes de transmissão, recebeu um modelo completamente diferente e muito mais favorável. A partir de 2026, sua receita aumentará 52% e seus investimentos serão remunerados pelo custo real auditado. Além disso, seus custos operacionais serão reduzidos em 6%, em comparação com os 24% aplicados às distribuidoras. Em suma, a Redeia recebe estabilidade, visibilidade e lucratividade, enquanto as distribuidoras de energia elétrica terão que assumir mais riscos, maior incerteza e menos receita.

Essa desigualdade tem consequências diretas para os consumidores. Se o investimento for feito apenas em grandes redes de transmissão, mas não em redes de distribuição, muitas áreas ficarão desconectadas ou saturadas, sem capacidade para acomodar novos clientes, painéis solares, estações de recarga para carros elétricos ou projetos industriais. O paradoxo é que poderíamos ter mais linhas de alta tensão cruzando o país, mas sem como levar energia para onde ela é necessária.

O impacto é ainda maior em regiões industriais ou áreas onde a rede elétrica já está no limite. Se as empresas não conseguirem se conectar ou enfrentarem custos adicionais devido à falta de capacidade, elas podem optar por investir em outros países. Isso não só desacelera a eletrificação, como pode se traduzir em perdas de empregos, realocação industrial e preços de energia mais altos para todos.

Contra a política energética do Governo

Um relatório da consultoria PwC sobre essas propostas alerta que o novo modelo da CNMC "ignora as prioridades da política energética do governo", incluindo a promoção da eletrificação e a atração de capital privado para modernizar a rede. Alerta também que mais de 60 GW de nova demanda — necessária para descarbonizar o país — podem permanecer desconectados. Em outras palavras, o país pode não atingir suas metas climáticas não por falta de tecnologia ou financiamento, mas por regulamentações mal elaboradas.

Outro ponto crítico é a taxa de remuneração financeira (TRF), que estabelece o "preço" pago pelo investimento em redes. Embora a CNMC a tenha elevado para 6,46%, os especialistas concordam que ainda é baixa em comparação com outros países europeus. A Itália, por exemplo, oferece 8,1%, a Suécia 7,3% e a Dinamarca 7,2%. Em um mundo onde o investimento em redes é fundamental para a transição energética, a Espanha corre o risco de perder seu apelo em relação aos seus vizinhos.

As empresas de energia elétrica também reclamam da insegurança jurídica criada por esse novo modelo. Elas não sabem como os parâmetros que determinam o valor a ser pago irão evoluir ou como serão aplicados em cada caso. A rentabilidade dependerá de fatores externos, como o número de novos clientes ou a evolução do mercado, o que dificulta o planejamento de investimentos a longo prazo.

A CNMC afirma que está introduzindo melhorias técnicas e critérios de eficiência, mas se não ajustar as condições para refletir o risco real desses investimentos, poderá estar construindo um muro em vez de uma ponte para o futuro energético. A eletrificação não será alcançada apenas com retórica e metas ambiciosas. Uma rede moderna, extensa e bem remunerada é necessária. E se as empresas encarregadas de construí-la não virem garantias ou retorno, simplesmente não o farão.

Portanto, em termos simples, o problema é claro: se o curso regulatório não for corrigido, a Espanha ficará sem uma rede elétrica suficiente para sustentar sua eletrificação. E, mais cedo ou mais tarde, todos nós pagaremos por isso.

ABC.es

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