O que se sabe sobre a força internacional que os EUA propõem estabelecer na Faixa de Gaza por pelo menos dois anos?
O cessar-fogo intermediado por Donald Trump para a Faixa de Gaza tem se mantido desde 10 de outubro, apesar das violações do acordo e do aumento das tensões entre Israel e o grupo terrorista Hamas . Quase um mês após o início da frágil trégua, os Estados Unidos já preparam o terreno para a próxima etapa de seu plano, que inclui o estabelecimento de uma força de segurança internacional no enclave palestino. Espera-se que essa medida seja complexa e exija amplo debate antes de sua aprovação.
Na terça-feira, 4 de abril, Washington enviou a vários membros do Conselho de Segurança da ONU um projeto de resolução para o estabelecimento da Força Internacional de Segurança (FIS) em Gaza. Ela seria composta por diversos países e estabelecida em coordenação com o Conselho de Paz de Gaza, que Trump afirmou que presidirá.
Segundo o documento preliminar, obtido por veículos de comunicação como o israelense Ynet e os jornais americanos The New York Times e Axios, a força de estabilização colaboraria com Israel e Egito para garantir a desmilitarização de Gaza, incluindo o desarmamento de grupos armados presentes na região, como o Hamas. O documento não detalha como isso será feito nem quais países aliados contribuiriam com tropas.
Observa-se também que o mandato para a força internacional de segurança em Gaza conferiria aos Estados Unidos e a outros países um amplo mandato para governar o enclave e garantir sua segurança até 31 de dezembro de 2027, com possibilidade de prorrogações.

Não está claro se a força de paz proposta para Gaza obteria o apoio do Conselho de Segurança. Foto: EFE
Além disso, essa força seria responsável pelo treinamento e apoio à polícia palestina, bem como pela proteção de civis e corredores humanitários.
Poucos detalhes A fragilidade do cessar-fogo em Gaza torna urgentes as negociações para a adoção de novas medidas rumo a uma paz duradoura no Oriente Médio. Embora uma força internacional de paz permitisse avançar nos planos de estabilização da região, o analista internacional Francesco Tucci destaca que ainda se sabe muito pouco sobre a proposta apresentada por Washington a esse respeito.
“A ideia, pelo que sabemos, é desmilitarizar a Faixa de Gaza e eliminar a presença de grupos armados não estatais, o que é uma clara referência ao Hamas, mas não apenas ao Hamas. E, supostamente, as forças israelenses deveriam cooperar com uma força policial palestina treinada, juntamente com uma força internacional cuja composição ainda desconhecemos. Isso é preocupante, porque são os países neutros que deveriam estar no comando”, disse ele ao El Comercio.
De acordo com o plano de Donald Trump que possibilitou o cessar-fogo, essa força seria composta por tropas de países árabes e muçulmanos e seria mobilizada à medida que as forças israelenses se retirassem. No entanto, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, alertou recentemente que apenas países considerados "imparciais" teriam permissão para participar.
Portanto, Tucci destaca que a eficácia dessa proposta dependerá muito dos fundamentos de sua criação e do tipo de mandato conferido a essa força de estabilização. Será uma força de interposição ou uma força de manutenção da paz? Desmilitarizará o Hamas pela força? Esses são aspectos que poderiam mudar radicalmente o cenário, observa o analista.
“Agora, é preciso garantir que o frágil cessar-fogo se mantenha. É difícil prever o que pode acontecer devido à fragilidade dessa trégua e, de modo geral, devido à espiral de ódio e violência que persiste há décadas entre palestinos e israelenses. Há muita desconfiança mútua, o que complica todo o processo. Uma força de estabilização não é necessariamente uma má ideia, mas precisamos analisar seu mandato, composição e outros detalhes”, acrescenta.

Presidente dos EUA, Donald Trump. Foto: Andrew Caballero-Reynolds. AFP
Outro ponto crucial é que não está claro se a proposta de enviar uma força internacional de paz para Gaza — e tropas para o enclave — obteria apoio suficiente no Conselho de Segurança para ser aprovada.
Para chegar a uma resolução das Nações Unidas sobre o assunto, é preciso primeiro obter um consenso sobre a minuta e, em seguida, garantir que nenhum dos cinco membros permanentes do Conselho — China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia — a vete.
Tucci destaca que, embora se espere que um projeto de resolução seja votado em breve no Conselho de Segurança, nem a China nem a Rússia têm conhecimento do conteúdo do projeto apresentado por Washington. Além disso, esses países têm suas próprias disputas em curso com Trump, o que pode complicar as negociações.
“Há anos, a China mantém sua política de não interferência nos assuntos internos de outros países, e também temos uma guerra comercial em curso com os Estados Unidos. Com a Rússia, existe a questão crucial da guerra na Ucrânia. Portanto, não veremos necessariamente vetos mútuos, mas sim negociações nos bastidores. A aprovação de uma resolução do Conselho de Segurança para autorizar essa força de estabilização pode ser muito mais árdua e difícil do que o esperado”, afirmou o especialista em relações internacionais.
Será que essa negociação poderá ser resolvida em breve? “Depende do tipo de negociação e, sobretudo, do conteúdo do texto. O problema é que ainda não sabemos muito sobre o conteúdo do texto”, concluiu Tucci.
Milagros Asto Sánchez - GDA El Comercio
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