Monsenhor Gustavo Rodríguez Vega: A Voz do Pastor (11 de maio)

“Eu lhes dou a vida eterna” (Jo 10,28)
Queridos irmãos e irmãs, saúdo-vos com o meu habitual afeto e desejo-vos tudo de bom no Senhor. “Gaudium magnum nuntio vobis: Habemus Papam.” Anuncio-vos uma grande alegria: Temos um Papa! Certamente todos vocês estão sabendo desta ótima notícia pelas redes sociais: nosso novo Papa se chama Leão XIV. Hoje mesmo, neste quarto domingo de Páscoa, celebramos a Festa do Bom Pastor. Portanto, celebremos a nossa ação de graças e confiemos o nosso novo Sumo Pontífice.
Hoje também celebramos nosso Seminário de Yucatán, então nossa oração e coleta hoje são para esta instituição sagrada dedicada à formação de futuros pastores em Yucatán.
Jesus é o único Bom Pastor, enquanto todos os pastores da Igreja, desde o Papa até os bispos e todos os sacerdotes, se pastorearmos corretamente, com um ensinamento sólido, uma dedicação generosa e um bom testemunho, devemos dizer, como Jesus nos ensinou, que não somos nada mais do que "servos inúteis", simples instrumentos que tornam presente o pastoreio do Bom Pastor.
Devemos distinguir entre ensino sólido e testemunho pessoal. Há aqueles que podem dar mau testemunho e ainda assim transmitir ensinamentos sólidos; Sobretudo para eles, Jesus nos diria: “Fazei o que vos disserem, mas não imiteis as suas obras” (Mt 23, 3). Onde faltam pastores ou os que existem não são tão bons, Jesus pastoreia suas ovelhas diretamente de mil e uma maneiras. Lembremos que os caminhos de Deus são infinitos.
Demos graças ao Senhor por tantos pastores santos, pastores sábios, pastores generosos, que sempre existiram e que nunca faltarão na nossa Igreja; assim como o Papa Francisco, um grande líder mundial da paz, dos pobres, dos prisioneiros, dos migrantes, dos doentes, de todos os que sofrem e do cuidado integral da criação. Peçamos perdão ao Senhor por todos aqueles que falham, para que se tornem pastores santos.
Todos os pastores da Igreja, bispos e sacerdotes, devem conduzir a comunidade “cum Petro et sub Petro”; Esta é uma expressão latina clássica, que significa “com Pedro e sob Pedro”, isto é, em comunhão com o sucessor de Pedro e sob sua autoridade. Governar desta maneira é o que garante a unidade do corpo místico de Cristo, que é a Igreja. Ao longo dos séculos, essa unidade nunca esteve isenta de tensões, juntamente com algumas rupturas lamentáveis, das quais surgiram outras igrejas que não são mais "cum Petro et sub Petro".
É lamentável, mas hoje existem alguns pastores que contradizem certos ensinamentos do Papa Francisco, arrastando fiéis atrás deles. Que todos nós reconsideremos, deixando-nos conduzir com humildade pelo Espírito Santo à unidade da fé, sob a guia do novo sucessor de Pedro, o Papa Leão XIV.
Alguns dos que se desviam são ultraconservadores, enquanto outros são o oposto: querem introduzir mudanças na vida da Igreja que nos distanciem da ortodoxia, para nos adaptarmos ao mundo de hoje. Isso aconteceu principalmente em partes da Europa e dos Estados Unidos, embora essa ameaça de divisão também tenha chegado até nós no México e até mesmo em Yucatán, com alguns seguidores fiéis. O sucessor de Pedro, como sempre, deve assumir o leme da Igreja, para guiá-la de modo que o barco não se desvie para a direita nem para a esquerda, mas sim pelo caminho reto do amor a Deus e aos irmãos.
Por outro lado, rezemos pelas vocações sacerdotais. Não podemos esconder o pequeno número de seminaristas que temos, enquanto a população de Yucatán cresce a passos largos, especialmente em Mérida. Rezemos para que muitos jovens ouçam a voz do Senhor que os chama, para que entrem no seminário e perseverem na formação. Por mais que precisemos, devemos ter muito cuidado na seleção dos candidatos, não buscando pessoas perfeitas, mas excluindo aqueles que precisam trabalhar coisas importantes em sua maturidade física, mental ou espiritual antes de iniciar um caminho de formação sacerdotal. Deus abençoe nossos seminaristas e os pais da formação do nosso querido Seminário de Yucatán.
A primeira leitura de hoje fala-nos de dois pastores excelsos, São Paulo e São Barnabé, dignos representantes do Bom Pastor, que evangelizaram a cidade de Antioquia, onde deixaram uma numerosa comunidade cristã; De fato, a segunda em importância depois de Jerusalém e antes da formação da comunidade cristã de Roma.
Sofrendo perseguição em Antioquia pelas autoridades judaicas, eles decidiram evangelizar também os pagãos. Eles foram então expulsos, embora a comunidade já estivesse bem estabelecida. Foi naquele lugar que os discípulos receberam o nome de "cristãos" e, por volta do ano 100, receberam o nome de "católicos", tendo como bispo Santo Inácio de Antioquia.
Na segunda leitura, tirada do Livro do Apocalipse, São João vê na sua visão do céu uma multidão inumerável de pessoas «de todas as raças, povos e nações» (Ap 7, 9). É a visão dos santos no céu, que ele vê diante do trono de Deus e do Cordeiro, servindo-O eternamente.
São João diz que “o Cordeiro será o seu pastor e os conduzirá às fontes da água da vida, e Deus enxugará dos seus olhos toda lágrima” (Ap 7,17). Embora “pastor” e “cordeiro” possam parecer termos opostos, Jesus teve que ser um Cordeiro inocente e sacrificado para alcançar o título único e exclusivo de “Bom Pastor”. Se um bispo ou padre pastoreia até o ponto de dar sua vida, ele se assemelha a Jesus, o Bom Pastor, em sua dedicação, tornando-se um excelente reflexo de seu ministério eterno.
Na aclamação do aleluia, tirada do Evangelho segundo São João (cf. Jo 10,14), Jesus se declara o Bom Pastor, que conhece as suas ovelhas e elas o conhecem. É verdade que há milhões de seres humanos que não conhecem Jesus e que não se reconhecem como suas ovelhas; Mas o Senhor também os conhece e, assim que decidirem aceitá-lo com tudo o que isso implica, ele os receberá em seu grande rebanho santo.
No breve texto do Evangelho de hoje, de São João, Jesus descreve a relação recíproca que existe entre ele e suas verdadeiras ovelhas. Ele diz: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (Jo 10,27). Para ser uma verdadeira ovelha de Jesus, não basta ser batizado e frequentar a igreja com mais ou menos frequência, pois a dinâmica que autentica uma ovelha é "ouvir e seguir".
Notemos bem que não se trata apenas de ouvir a voz do Pastor, mas de escutá-la; Pois bem, quem o segue escuta, isto é, quem pensa, fala e age da mesma forma que Jesus faria. Isso é ouvir e seguir. Ele conhece suas ovelhas muito melhor do que as próprias ovelhas.
Seguir Jesus Bom Pastor tem sua grande recompensa; Isto consiste na vida eterna. Jesus afirma que recebe as ovelhas como um presente e uma comissão de seu Pai, para que ninguém as possa arrebatar de sua mão. As ovelhas pertencem ao Pai; Se o Pai e Cristo são um, então suas ovelhas entraram na dinâmica da vida trinitária.
Embora o Dia das Mães tenha sido ontem, 10 de maio, muitas mães certamente serão homenageadas neste domingo, já que é o dia em que a família pode se reunir. Em vários países, hoje, o segundo domingo de maio é quando se comemora o “Dia das Mães”. Envio uma calorosa saudação de felicitações a todas as mães, especialmente às de Yucatán.
Na quinta-feira passada celebramos as mães dos nossos padres na nossa catedral e foi uma experiência maravilhosa. Que a busca pela elevação da dignidade das mulheres nunca se dê em detrimento da apreciação adequada do grande dom do carisma materno. O amor de uma mãe reflete melhor o amor de Deus neste mundo. Hoje rezamos por todas as mães, assim como pelo descanso eterno das mães falecidas. Que Deus lhes dê vida eterna.
Tenham todos uma semana muito feliz. Louvado seja Jesus Cristo, o Bom Pastor ressuscitado!
+ Gustavo Rodríguez Vega
Arcebispo de Yucatán
yucatan