Fique feliz por não ser de graça

Pessoas que pensam muito sobre economia geralmente têm reações que parecem incomuns para os outros.
Por exemplo, recentemente terminei de me inscrever para uma corrida de 10 km em Astoria, Oregon. Como parte do processo de inscrição, você tinha que selecionar quando retiraria seu kit de corrida (uma bolsa pré-embalada que continha, entre outras coisas, seu número de peito com um cronômetro embutido). Havia alguns horários disponíveis nos poucos dias que antecederam a corrida, além da opção de retirá-lo no dia da corrida, no local. Esta última opção tinha uma "taxa de conveniência" de cerca de US$ 25. E assim que vi que era preciso pagar para retirá-lo no horário e local mais convenientes, minha reação imediata foi: "Ah, que legal!".
Meu raciocínio foi o seguinte: milhares de pessoas participam deste evento todos os anos. Os organizadores da corrida precisam preparar todas essas pessoas em um tempo relativamente curto na manhã da corrida. Incentivar as pessoas a já terem seus pacotes de corrida retirados e prontos para ir antes que toda essa concentração inicial de corredores aconteça ajudaria muito a tornar o processo mais ágil. Se todas essas milhares de pessoas aparecessem para finalmente pegar seus pacotes na manhã do evento ao mesmo tempo, isso complicaria seriamente o processo. Então, para minimizar isso, uma taxa faz sentido. Isso limita o número de pessoas que precisam passar por esse processo de última hora, e aqueles que fazem uma retirada tardia tendem a ser as pessoas que mais valorizam essa opção.
Essa é apenas uma das várias vezes em que me senti grato por algum serviço não estar disponível gratuitamente.
Outra vez que tive essa reação foi quando comecei a trabalhar na Universidade Médica da Carolina do Sul, em Charleston, há alguns anos. O campus da MUSC no centro da cidade incluía uma academia. O público podia se inscrever nessa academia, mas funcionários, professores e alunos da MUSC tinham desconto na mensalidade como benefício. Lembro-me de ouvir um colega de trabalho fazer um comentário do tipo: "Não entendo por que ganhamos um desconto. Trabalhamos aqui, deveríamos poder usar a academia de graça!". Mas fiquei feliz por não ser de graça. A MUSC tem dezenas de milhares de funcionários, alunos e professores. Você não quer ir a uma academia onde dezenas de milhares de pessoas podem entrar de graça a qualquer momento! Mesmo com a taxa, ela costumava estar bem lotada. Torná-la gratuita só a tornaria inutilizável.
Outro exemplo fácil que me vem à mente é o estacionamento no aeroporto. Sempre que preciso sair do aeroporto de Minneapolis e deixar meu carro lá, geralmente tenho que subir e descer as faixas do estacionamento várias vezes para encontrar uma vaga. Se as pessoas pudessem simplesmente estacionar seus carros no aeroporto e deixá-los lá de graça, encontrar uma vaga deixaria de ser algo um pouco difícil e passaria a exigir intervenção divina.
Acho que as pessoas podem facilmente confundir duas perguntas diferentes. A primeira pergunta é fácil de entender: "Eu gostaria se, pessoalmente, pudesse ter isso de graça?" (Resposta: Sim, obviamente!) Mas a segunda pergunta, bem diferente, é: "Eu quero viver em um mundo onde todos possam reivindicar isso, de graça?". A resposta a essa pergunta é quase sempre um enfático não.
Quando recebo algo que realmente valorizo e que me beneficia muito, minha reação é ser genuína e profundamente grata por ter pago por aquilo e por não estar disponível de graça. É apenas uma das maneiras pelas quais compreender ideias como compensações, custo de oportunidade e escassez pode ampliar sua visão e aprimorar sua experiência de gratidão. E acho que isso é algo que o mundo poderia usar um pouco mais hoje em dia.
econlib