Descoberta muda a química da lua Titã de Saturno

CENTRO DE NOTÍCIAS
Criado: 23 de outubro de 2025 10:36
De acordo com uma pesquisa liderada pelo químico Fernando Izquierdo-Ruiz, da Universidade Tecnológica de Chalmers, na Suécia, esse "novo tipo de matéria" pode ser bastante abundante na superfície de Titã. "Essas descobertas são extremamente interessantes para a nossa compreensão da química de uma lua tão grande quanto Mercúrio", afirma o Prof. Martin Rahm, da Universidade de Chalmers.
A REGRA 'SEMELHO RESOLVA SEMELHANTE' COLAPSOU
Titã é um dos corpos celestes mais singulares do universo, oferecendo pistas sobre como a vida pode ter surgido. Sua superfície contém lagos de metano e etano, e sua atmosfera contém compostos orgânicos complexos, como o cianeto de hidrogênio. Essa molécula desempenha um papel crucial em reações que podem formar os blocos de construção da vida, como aminoácidos e nucleobases.
No entanto, o cianeto de hidrogênio é uma molécula fortemente polar e não deve ser misturado com substâncias apolares (ou seja, neutras), como metano e etano. É por isso que, de acordo com a regra química de "semelhante dissolve semelhante", a água não se mistura com o petróleo.
Para entender como essas moléculas se comportam em Titã, uma equipe do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA conduziu um experimento a -180 °C (-180 °F). Nessa temperatura, o cianeto de hidrogênio é cristalino, enquanto o metano e o etano são líquidos. A equipe analisou as mudanças após o experimento e contou com especialistas da Universidade Chalmers para decifrar os dados.
PARCERIA IMPOSSÍVEL EM TITAN
No segundo experimento de laboratório, metano, etano, propano e butano foram adicionados a cristais de cianeto de hidrogênio. Medições de espectroscopia Raman revelaram pequenas, porém distintas, mudanças nas vibrações das moléculas. Isso significava que substâncias polares e apolares não estavam apenas lado a lado; elas estavam, de fato, interagindo.
Modelos computacionais confirmaram essa suspeita: moléculas de metano e etano entraram nas cavidades do cristal de cianeto de hidrogênio, formando uma nova estrutura chamada "cocristal". Como as moléculas se movem tão lentamente nas temperaturas extremamente baixas de Titã, essas substâncias, que normalmente se repelem, podem formar compostos estáveis. "Essa interação inesperada pode mudar fundamentalmente nossa compreensão da geologia de Titã e da formação dos mares de metano", disse Rahm.
ESPERAREMOS A LIBÉLULA PARA RESPOSTAS
Se essa química incomum realmente existe na superfície de Titã, isso ainda vai demorar um pouco mais. O rover Dragonfly da NASA está programado para pousar em Titã em 2034. Até lá, essas descobertas servem como um lembrete impressionante de que até mesmo as regras fundamentais da ciência podem mudar em diferentes cantos do universo.
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