Presidenciais. Maçons dividem-se entre candidatos

A Maçonaria não gosta que ninguém fale em seu nome, sem ser os grão-mestres ou os porta-vozes destes. No Opus Dei passa-se o mesmo, só o prelado representa a Obra. E foi por essa razão que tantos maçons ficaram incomodados com a notícia do Nascer do SOL da semana passada que dizia que o Grande Oriente Lusitano (GOL) está a dar o seu apoio a António José Seguro, e a Grande Loja Legal de Portugal (GLLP/GLRP) a Henrique Gouveia e Melo.
Se é verdade que ambas as obediências não se pronunciam publicamente sobre o apoio a este ou àquele candidato, o mesmo não se passa com os irmãos, veneráveis ou não. Basta olhar para o lançamento das candidaturas de Henrique Gouveia e Melo e de António José Seguro para se perceber isso. O almirante, ainda antes de avançar, já tinha o apoio de Paulo Noguês e José Manuel Anes, dois destacados membros da GLLP/GLRP a obediência maçónica regular portuguesa.
Se é certo que Paulo Noguês não tem nenhum cargo oficial na maçonaria, também não é menos verdade que é um dos homens mais importantes na área militar. «Ele criou a revista Segurança e Defesa e tem uma editora, e é por ele que passa muita das influências nas áreas da Defesa e da Segurança. Digamos que Paulo Noguês, mas até mais Isaltino Morais, ‘puxam’ muito pelos irmãos da Regular para darem o apoio a Gouveia e Melo», explica um destacado maçom ao Nascer do SOL.
Já do lado de António José Seguro é de Pedro Farmhouse, antigo deputado socialista e destacado membro do GOL, e de Álvaro Beleza que surgem os apelos à união em torno do antigo secretário-geral do PS.
«Claro que nem todos os maçons de um lado e de outro vão votar no mesmo candidato, mas muitos deverão fazê-lo, se as influências ainda contarem alguma coisa, bem como aplicar-se-ão nas campanhas eleitorais», diz outro maçom.
A importância da mulher de Seguro
As relações familiares também têm o seu peso nos apoios das obediências, como nos explica um destacado maçom. António José Seguro é casado com Margarida Maldonado Freitas, sendo que a mulher do candidato pertence a uma família com pergaminhos na história do GOL em Portugal. Os Maldonado Freitas são uma família de farmacêuticos, que é também a profissão de Margarida.
Segundo o mesmo maçom, «a família Maldonado Freitas teve muita importância na primeira República». As farmácias eram, no início do século XX um local privilegiado para conspirar. A farmácia dos Maldonado Freitas, nas Caldas da Rainha, era local habitual de reuniões entre maçons, que na altura tinham um peso muito particular nos desenvolvimentos políticos da época, quando a República dava os primeiros passos e as revoluções e contrarrevoluções se sucediam.
João Soares, e antes dele, o pai do fundador do Partido Socialista, Mário Soares, eram muito próximos dos antepassados de Margarida Maldonado Freitas. Será esta a razão que explica a proximidade de ilustres elementos do Grande Oriente Lusitano, entre estes contam-se, os também socialistas, João Soares e Álvaro Beleza. Mas não se fica por aqui, «embora não haja indicações no interior da organização, estas referências dizem muito a muitos outros membros do GOL».
Numa organização em que a história, a tradição e os rituais assumem uma importância relevante, o facto de António José Seguro ser casado com alguém de uma das famílias mais prestigiadas do GOL, não é indiferente aos apoios que consegue reunir para a sua candidatura presidencial.
Maçonarias negam apoios
Ficou já evidente que, oficialmente, ninguém concorda que há mais membros do GOL na candidatura de Seguro do que na de Gouveia e Melo, o mesmo se passando em relação à Regular. Pedro Rangel, antigo grão-mestre da Grande Loja Simbólica de Portugal (GLSP) – e que nada tem a ver com as duas outras obediências – para simplificar digamos que é uma terceira via na Maçonaria, não concorda com a leitura de que determinada obediência apoia este ou aquele candidato. «Eu estive na apresentação oficial da candidatura do almirante Gouveia e Melo, mas outros membros da Loja Simbólica estiveram na apresentação de António_José Seguro. E acredito que outros são apoiantes de Marques Mendes», diz ao Nascer do SOL. Por isso, diz, «não faz o mínimo sentido sermos só nós a estarmos representados nas três candidaturas, os outros também estão».
Já o porta-voz da GLLP/GLRP, Tiago Thira Campos, fez questão de explicar ao nosso jornal que a ideia de que esta obediência maçónica apoie uma candidatura não faz sentido, à luz dos estatutos que a regulam: «Uma das nossas regras é sermos completamente apartidários. Nos nossos encontros não se fala de política, futebol e religião», garante. Admitindo que há muitos políticos nas hostes da Grande Loja Regular, este representante diz que vêm de várias proveniências políticas, o que inviabiliza a escolha de um candidato.
No GOL, as regras são semelhantes, mas uma fonte explica que «o GOL é mais socialista e o GLRP é mais PSD», isso mesmo explicará uma maior concentração de apoios de membros do Grande Oriente Lusitano a António José Seguro e, por outro lado, maior concentração de membros da Grande Loja Regular a Gouveia e Melo. A mesma fonte admite ainda que possa também haver maçons a apoiar outras candidaturas, particularmente a de Marques Mendes, «mas a distribuição natural é o GOL apoiar Seguro e a GLRP apoiar o almirante». Se «houvesse uma obediência cega dos maçons, Marques Mendes não teria o apoio de alguns destacados irmãos», explica outra fonte.
O clube dos 50
É assim que se chama a organização que tem vindo a organizar encontros com os vários candidatos presidenciais. Gouveia e Melo e Marques Mendes já estiveram sentados à mesa com o Clube dos 50, António José Seguro está convidado para um evento semelhante.
Os convites foram feitos à medida que foram sendo oficializadas as candidaturas a Belém. O Clube quis ouvir os candidatos de viva voz. «Saber o que pensam, o que defendem e como pretendem exercer o cargo presidencial casos sejam eleitos», explicam-nos.
Apesar das tentativas do Nascer do SOL para chegar à fala com um representante deste grupo, tal foi recusado porque «o clube é uma organização ecuménica privada que não pretende publicidade».
O Clube dos 50 foi criado em França e obedece a regras. A ideia é juntar num mesmo fórum várias obediências maçónicas, que, à exceção deste grupo, não têm qualquer tipo de contacto e muitas vezes têm até rivalidades sérias. 50 é o número máximo de membros que este clube pode ter e, na sua forma original francesa, os membros devem ser distribuídos pelo menos por 4 obediências maçónicas. Em Portugal o Clube dos 50 representa apenas as duas obediências estabelecidas no país: GOL e GLRP. A presidência do grupo é rotativa entre as duas obediências.
Ao que nos foi explicado, o grupo reúne mensalmente e «há um convidado para falar sobre temas que estejam na atualidade. Os convidados são sempre alguém que tenha interesse ouvir no âmbito do que estiver a passar-se no país». Neste momento, as atenções do Grupo dos 50, estão centradas nas presidenciais do próximo ano.
Jornal Sol