Bolsonaro queria se manter no poder mesmo após derrota, apontam mensagens de assessor de Braga Netto

Mensagens e documentos obtidos pela Polícia Federal no celular do coronel da reserva Flávio Peregrino, assessor do general Walter Braga Netto, indicam que Jair Bolsonaro (PL) tinha intenção de se manter no governo mesmo após a derrota para Lula (PT) nas eleições de 2022. O teor das conversas foi revelado pelo jornal O Estado de São Paulo nesta segunda-feira 11.
O telefone do militar foi apreendido durante a operação que prendeu Braga Netto, no final do ano passado. Peregrino se tornou alvo da investigação sob suspeita de ter tentado obter informações sigilosas da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid. Apesar disso, não foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República nas ações apresentadas ao STF pelo plano de golpe.
Nas mensagens, enviadas a si próprio por WhatsApp, Peregrino afirmou que os militares buscavam “soluções jurídicas e constitucionais” para manter Bolsonaro no cargo. Ele escreveu que “sempre foi a intenção” do ex-presidente continuar no poder e criticou a estratégia de culpar exclusivamente as Forças Armadas por planos golpistas que teriam sido feitos para ajudar Bolsonaro nesse objetivo.
O ex-assessor, nos textos, demonstrou irritação pelo que considerava uma “ingratidão” do ex-presidente. “Deixar colocarem a culpa nos militares que circundavam o poder no Planalto é uma falta total de gratidão do B [Bolsonaro] àqueles poucos, civis e militares, que não traíram ou abandonaram o Pres. B [Bolsonaro] após os resultados do 2º turno das eleições”, escreveu.
Essas anotações são de novembro de 2024, quando a PF descobriu o plano para assassinar Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Um documento produzido no mesmo dia da revelação do plano foi apreendido no celular de Peregrino com o o título “Ideias gerais da defesa”. O texto reunia estratégias de defesa para Braga Netto, mais tarde, implicado no caso.
Neste mesmo arquivo também há críticas à tese veiculada por aliados de Bolsonaro de que ele seria alvo de um golpe dos militares, que assumiriam o poder e logo depois o afastariam da Presidência. “Oportunismo”, escreveu o militar, também em referência à versão de que o golpe só não foi adiante porque o então presidente havia resistido às pressões da caserna.
O material apreendido reforça a conclusão da PF de que Bolsonaro seria o líder da organização criminosa que tramou a tentativa de golpe.
CartaCapital