PSP não espera retaliação de leões no Jamor

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PSP não espera retaliação de leões no Jamor

PSP não espera retaliação de leões no Jamor

Uma semana depois dos confrontos entre elementos da PSP e adeptos do Sporting, nos festejos da conquista do bicampeonato, que deixaram um homem cego depois de ter sido atingido por uma bala de borracha, novo jogo de alta tensão — desta vez com o Benfica, para a final da Taça de Portugal, no Estádio do Jamor. A posição da PSP em relação aos episódios que deixaram vários adeptos feridos é a de que a atuação teve como único propósito garantir a segurança dos festejos — e garante ao Observador que não espera retaliações. Mas a última semana deixou claro, em vários momentos, que os adeptos sportinguistas estão, no mínimo, ressentidos com a atuação das autoridades.

“A PSP está à espera de que os adeptos do Sporting tenham o comportamento correto. A PSP espera que os adeptos do Sporting e do Benfica evitem confrontações e conflitos”, descreve fonte desta força de segurança ao Observador.

Entrada antecipada e policiamento reforçado. As medidas de segurança para a final da Taça entre Benfica e Sporting

Oficialmente, nos comunicados que tem lançado a propósito do jogo da final da Taça, este domingo, a PSP elogia a “cooperação” dos sportinguistas no último sábado — com festejos em todo o país e, sobretudo, em Lisboa, mais concentrados no eixo Alvalade-Marquês de Pombal. Mas também deixou um reparo ao uso “massivo de pirotecnia”, que esta força de segurança alega ter estado na origem dos disparos com balas de borracha que cegaram Bernardo Topa num olho, na Praça do Saldanha.

“Há um uso massivo de pirotecnia. Enquanto [é lançada] na vertical, deixamos a festa decorrer. Depois, a certa altura, não sei se por negligência, nota-se que o fogo que estava a ir na vertical começa a ser direcionado na horizontal, na direção de outras pessoas e dos polícias”, descreve fonte policial ao Observador a propósito dos acontecimentos que levaram à intervenção junto ao Saldanha, no último sábado. A PSP frisa que a utilização perigosa dos engenhos pirotécnicos pode ter acontecido “por negligência” — e não intencionalmente contra os seus elementos —, mas, ainda assim, “pelo menos cinco” das dezenas que foram lançados atingiram agentes.

Os cinco petardos filmados no vídeo, e que o Expresso agora revela, foram atirados na horizontal, junto às cabeças das dezenas de pessoas. Ação policial que se seguiu levou à hospitalização de alguns adeptos, e um deles ficou cego de um olho

Saiba mais: https://t.co/vCFFh9eprJ pic.twitter.com/7PMVzWBG8q

— Expresso (@expresso) May 22, 2025

Esse “uso massivo” criou ainda outra dificuldade: o fumo intenso reduz a visibilidade dos operacionais e torna mais difícil a reação precisa contra os adeptos que deflagram engenhos pirotécnicos, o que não seria o caso de Bernardo Topa, de acordo com o testemunho que o próprio deu à CNN Portugal. “No meio do fumo, sai uma equipa de intervenção com shotguns na mão a disparar para todos os lados. Estava de frente [para a polícia] com certeza. Tenho um metro e noventa e dois, não sei como é que me atingiram no olho, mas foi um tiro certeiro”, disse Topa, defendendo que não tinha consigo artefactos pirotécnicos.

Outro vídeo, também partilhado nas redes sociais, mostra um agente da PSP, no meio do fumo, a disparar balas de borracha a poucos metros dos adeptos, enquanto um deles grita: “Qual é a necessidade?”

Este é o momento que a @PSP_Portugal alega que estava numa carga policial para deter adeptos, mas como se vê nas imagens não há violência dos adeptos, há sim policias a distribuir pancada e disparos com balas de borracha indiscriminadamente!

JUSTIÇA PARA O BERNARDO ???? https://t.co/mTsax5tW8R pic.twitter.com/oPW2f9GAM8

— ̷A̷n̷o̷n̷y̷m̷o̷u̷s̷ ???? (@AlexMilhas1906) May 21, 2025

Bruno Pereira, presidente do Sindicato Nacional de Oficiais da Polícia, defende que a PSP “não está, em momento algum, isenta de responsabilidade”. Mas, por outro lado, ressalva, esta força de segurança “enfrenta contextos” únicos.

O líder sindical também aponta o dedo ao uso de pirotecnia e denuncia a “normalização” e falta de censura de atos de violência em contexto desportivo: “Andamos há décadas a falar sobre violência no desporto. Continuamos a ter um mundo desportivo que continua a ser potenciador e gerador de cenários destes. Não venham dizer que é normal que milhares e milhares de adeptos andem a queimar e a deflagrar pirotecnia como se fosse o 4 de julho nos EUA e a utilizar os engenhos contra pessoas e prédios, como se fosse normal e razoável.”

O presidente do SNOP — que, tal como a PSP, lamenta os ferimentos causados ao adepto do Sporting — entende que as críticas feitas à violência policial não correspondem ao sentimento de confiança que os portugueses têm para com as forças de segurança.

Esta sexta-feira, a Lusa divulgou dados da Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) que evidenciam o aumento do número de queixas contra a atuação das forças de segurança. No ano passado, o organismo que fiscaliza a atividade das polícias recebeu 1.511 denúncias, o número mais elevado da década.

Inspeção recebeu 1.511 queixas contra atuação dos polícias em 2024, maior número da década

Na terça-feira a PSP anunciou a abertura de um inquérito aos “polícias intervenientes na reposição da ordem pública” que provocaram ferimentos no adepto leonino. O Sporting também reagiu a esses acontecimentos e admitiu que “está a encetar todas as diligências possíveis e necessárias, com vista à investigação da ocorrência e à adoção das medidas que se revelem adequadas” — sem concretizar exatamente que “diligências” estão em curso e que “medidas” admite vir a adotar.

Bernardo Topa, comissário de bordo da TAP que chegou a trabalhar na Sporting TV, foi visitado no hospital por Frederico Varandas e admitiu à CNN Portugal que não foi contactado pela PSP. Fonte policial contraria essa informação ao Observador e revela que já existiram contactos entre as duas partes, lembrando que os próprios agentes auxiliaram o adepto de 28 anos no local.

PSP abre inquérito após adepto do Sporting ter ficado cego de um olho devido a bala de borracha disparada nos festejos

Da parte dos adeptos do Sporting, a recente deslocação da comitiva verde e branca à Câmara Municipal de Lisboa e consequente reação quando o líder autárquico, Carlos Moedas, iniciou o seu discurso mostrou que existem episódios recentes que não foram esquecidos.

Por um lado, a decisão das autoridades em fecharem todos os espaços de restauração e equivalente à volta do Estádio José Alvalade no dia do encontro decisivo entre Sporting e V. Guimarães foi visto quase como uma afronta, tendo em conta o que estava em causa, a falta de paralelismo com as ações tomadas (ou neste caso, não tomadas) uma semana antes no dérbi realizado na Luz e a proximidade das decisões com o dia da última jornada do Campeonato. Os responsáveis do clube encetaram esforços para minimizar o impacto das restrições junto da Câmara — incluindo conversas entre Frederico Varandas e Carlos Moedas — e das autoridades, algo que conseguiram alargando o período em que os espaços poderiam estar abertos, mas sobrou no final essa primeira imagem de condicionamento sem precedentes ao que deveria ser uma festa.

Carlos Moedas assobiado pelos adeptos do Sporting! ????

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— Cláudia Teixeira (@claudiaaict) May 19, 2025

Por outro, os acontecimentos na noite de sábado, em particular os incidentes na zona do Saldanha, ficaram também na memória de muitos. Ao longo da semana, foram vários os relatos que se foram propagando em grupos de adeptos (e que chegaram em muitos casos à Direção do clube) de tudo o que ocorreu antes da passagem do autocarro rumo ao Marquês de Pombal. O caso de Bernardo Topa, adepto dos leões que perdeu um olho devido a uma bala de borracha disparada pela PSP no meio do maior momento de tensão, foi apenas o mais grave entre muitos outros registados nessa noite — alguns não conhecidos do domínio público —, num local onde estavam milhares e milhares de pessoas, entre as quais várias crianças.

“Quero agradecer ao presidente Carlos Moedas porque foram mais de 24 horas juntamente com o presidente do Sporting a tentar encontrar as razões técnicas e políticas para que não houvesse condicionamentos na festa, como assim aconteceu. Sou militar e respeito e muito todas as ordens de todas as forças de segurança, mas não tratem os adeptos do futebol como criminosos. Não prejudiquem algo que faz parte da nossa cultura. O futebol faz parte da nossa cultura, não prejudiquem centenas de milhares de adeptos que têm paixão apenas pelo seu clube, apenas porque uma minoria não se sabe comportar”, apontou Frederico Varandas, presidente do Sporting, no discurso feito na receção aos leões na Câmara.

observador

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