Maria Luís Gameiro e Inês Ponte Grancha. O gosto por aventuras levou a dupla ao Rally Jameel

«Maria, vamos!». Foi assim que a copiloto Inês Ponte Grancha lançou o desafio à piloto Maria Luís Gameiro para se candidatarem à vaga aberta pela Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting (FPAK) para participar no Rally Jameel.
A resposta não tardou. «Olha, por que não?», pensou Maria Luís Gameiro, mesmo desconhecendo do que se tratava esta prova, como revelou à revista LUZ. Amante de aventuras e desafios, a candidatura foi entregue e aceite para essa experiência.
Mas, primeiro, era preciso «perceber melhor como é que se desenrolava». O Rally Jameel é uma prova exclusivamente feminina e decorre há já quatro edições, entre a Arábia Saudita e a Jordânia, entre os dias 21 e 26 de abril.
A dupla partiu com o primeiro objetivo de representar Portugal da melhor maneira, algo que acreditam terem feito, uma vez que terminaram em 11.º da geral entre 41 equipas, sendo sétimas dentro da mesma classe e segundas entre as estreantes.
«Acabou de forma muito positiva. Obviamente que gostaríamos de ter conseguido ainda melhor, mas a nossa inexperiência no tipo de corrida não nos permitiu ir um pouco mais além. De qualquer maneira, ficámos bastante acima na tabela, o que nos deixa bastante orgulhosas da nossa prestação», regozija Maria Luís Gameiro.
A piloto, de 46 anos, aponta ainda como motivo de orgulho a própria organização ter gostado muito da prestação e presença do duo português, valorizando a faceta mais nacional, comparativamente com as demais duplas participantes no evento.
O intuito dessa organização, associada à federação saudita, passa por abrir portas às mulheres na condução, sobretudo as do próprio país árabe, que, lembra Maria Luís Gameiro, «não podiam sequer conduzir um carro até há muito pouco tempo».
«Esta corrida naturalmente é muito direcionada para as mulheres sauditas. Até há muito pouco tempo, não tiveram infelizmente a liberdade que nós, mulheres nos países ocidentais e europeus, temos tido. É muito importante para elas», sublinha.
Assim, organizar um rally com dimensão internacional foi a forma que a federação saudita encontrou para potenciar mais mulheres no desporto motorizado «de uma forma mais assertiva e abrangente», e tornando o meio «um pouco mais colorido».
Inês Ponte Grancha é a habitual navegadora de José Pedro Fontes no Campeonato Nacional de Ralis e ‘reavivou’ uma parceria com Maria Luís Gameiro, mais de uma década depois de disputarem, lado a lado, uma prova nacional de todo-o-terreno.
A paixão de Maria Luís Gameiro é antiga, mas a carreira nem por isso. O seu maior contacto com o desporto motorizado surgiu em 2005, através do marido, também ele piloto de todo-o-terreno. A enorme vontade de integrar uma equipa aumentou.
«Fiz umas pequenas corridas em 2010 e 2011, mas tudo muito amador, só para eu experimentar os carros e perceber como é que as coisas funcionavam. Entretanto, circunstâncias da vida não me permitiram continuar», lembra Maria Luís Gameiro.
A piloto fazia algumas provas de forma pontual, algo que se veio a alterar em 2022. A equipa disponibilizou-lhe uma viatura para poder voltar a correr «de um ponto de vista mais competitivo», o que já a levou a conquistas, em Portugal e em Espanha.
«Ter alguns títulos nacionais e em Espanha orgulham-me muito e fazem-me ficar muito feliz, pois em três anos consegui evoluir bastante, dadas as circunstâncias em que me encontrava no ponto de partida», aponta, em relação ao seu currículo.
Nesta curta carreira, Maria Luís Gameiro destaca três momentos: o pódio geral de 2024 no campeonato espanhol, a participação no Dakar2025 e o Moroccan Desert Challenge, há três semanas. A piloto detalha o que os levou a serem memoráveis.
«Fui campeã feminina em 2023 e 2024, em Portugal e Espanha, mas consegui, em 2024, integrar o pódio geral, não apenas feminino. Não consegui o segundo lugar porque tive de falhar algumas corridas, mas fiquei muito contente. Foi a primeira vez que uma portuguesa teve uma pontuação tão alta no campeonato espanhol», explica, em relação ao primeiro dos três momentos mais importantes da carreira.
Já a experiência no Dakar, Maria Luís Gameiro compara-a a uns Jogos Olímpicos, visto ser o maior evento da modalidade e aquele que todos os pilotos de todo-o-terreno sonham em fazer. Estreou-se com uma medalha de conclusão da prova.
Recentemente, também esteve pela primeira vez no Moroccan Desert Challenge, tendo ficado na quinta posição da geral com um Mini, carro de categoria superior: «Na minha primeira corrida no deserto com aquele carro, e com a copiloto Rosa Romero, que é quem me está a acompanhar, deixa-me também muito orgulhosa».
Fora da competição, Maria Luís Gameiro é gestora de várias empresas. Aquando do início de carreira, assume que o seu maior desafio «foi delegar funções noutros colaboradores», para além do marido, que assegura o funcionamento empresarial na sua ausência. Em Portugal, ressalva, é quase impossível ser piloto profissional.
«À exceção de uma ou duas situações, a maioria de nós não pode ser profissional. Não há essa independência e apoio suficiente. Temos de trabalhar para podermos continuar a ter as nossas vidas. Não é fácil conciliar, mas tudo se consegue, com vontade e organização», atira a piloto, que tenta não pensar nas saudades de casa quando se encontra em competição, procurando focar-se ao máximo nas provas.
Olhando para o futuro, o grande objetivo é repetir a experiência no Dakar, mas, em vez de um Side-by-Side (SSV), quer levar um Mini: «Eu tenho noção de que estarei a competir com os melhores pilotos e carros do mundo. Estou a preparar-me para poder representar Portugal e as mulheres portuguesas o melhor possível», conclui.
Jornal Sol