Manuela Lobo Vieira estreia-se na ficção com «um romance insólito»

Diário de Aveiro: “Como uma seta que é lançada” é descrito pela Visgarolho como um romance ficcional obscuro. Que livro é este?
Manuela Lobo Vieira: É um livro peculiar que chega a tocar um pouco o género do terror existencial, explorando medos, desejos infundados, angústias, bem como a fragilidade da condição humana. Atrevo-me a dizer que este não é um livro para todos e não o é certamente para crianças. Relativamente à escrita, é uma escrita transgressora e verdadeiramente polifónica, sendo que o leitor irá tropeçar em estilhaços de Fernando Pessoa, Cesário Verde ou José Saramago. A personagem principal, Eva, é uma menina que tem o sonho de matar a mãe. Trata-se, naturalmente, de uma história ficcional que tem que ver com a falta de amor e com o vazio que essa lacuna pode despertar no nosso âmago, tornando-nos em algo animalesco. Nenhum ser humano é uma ilha. O que somos nós sem o amor, afinal?
A obra é passada na Espanha do século XVII. Porquê esse período e essa geografia?
À medida que fui escrevendo este livro, senti a necessidade de fazer uma crítica contundente à Igreja, nunca à religião. Provavelmente, esta necessidade resultou da influência incisiva da literatura portuguesa, em que o anticlericalismo está vincadamente patente em autores como Eça de Queirós ou Cesário Verde, por exemplo. Uma vez que a protagonista é uma personagem modelada, com um forte cariz primitivo, a narrativa encaixou como uma luva num ambiente mais fúnebre e cruel, em que a Inquisição fez mossa. Esta Igreja dogmática e punitiva pertence, obrigatoriamente, ao passado de Portugal e da nossa vizinha Espanha. Porquê Espanha? Uma vez que esta personagem ignóbil se encontra tão apartada do nosso quotidiano, do nosso tempo e de mim mesma, quis também afastá-la geograficamente.
Sendo uma personagem tão distante da nossa realidade, isso dificultou a sua construção?
Não, não dificultou. Antes pelo contrário. A protagonista do romance foi rapidamente esquadrinhada dentro de mim, na sua totalidade, e esta era a única certeza que tinha, desde o início. Quando escrevo algo, nunca sei como irá ser o final. Acaba por ser uma surpresa para o leitor e também para mim. Eva nasceu de receios e inquietações existenciais, de reminiscências de leituras e de uma imaginação torrencial que, por vezes, me invade e da qual não consigo escapar. O livro trata-se de uma receita genuína, em que misturo fragmentos da minha existência e das minhas emoções, vagos resquícios de poetas e escritores que me fascinam, bem como espectros de obras que me marcaram. Acaba por ser um romance insólito e inusitado, que nos absorve e nos desperta sentimentos contraditórios, através de um narrador francamente interventivo.
Diário de Aveiro: “Como uma seta que é lançada” é descrito pela Visgarolho como um romance ficcional obscuro. Que livro é este?
Manuela Lobo Vieira: É um livro peculiar que chega a tocar um pouco o género do terror existencial, explorando medos, desejos infundados, angústias, bem como a fragilidade da condição humana. Atrevo-me a dizer que este não é um livro para todos e não o é certamente para crianças. Relativamente à escrita, é uma escrita transgressora e verdadeiramente polifónica, sendo que o leitor irá tropeçar em estilhaços de Fernando Pessoa, Cesário Verde ou José Saramago. A personagem principal, Eva, é uma menina que tem o sonho de matar a mãe. Trata-se, naturalmente, de uma história ficcional que tem que ver com a falta de amor e com o vazio que essa lacuna pode despertar no nosso âmago, tornando-nos em algo animalesco. Nenhum ser humano é uma ilha. O que somos nós sem o amor, afinal?
A obra é passada na Espanha do século XVII. Porquê esse período e essa geografia?
À medida que fui escrevendo este livro, senti a necessidade de fazer uma crítica contundente à Igreja, nunca à religião. Provavelmente, esta necessidade resultou da influência incisiva da literatura portuguesa, em que o anticlericalismo está vincadamente patente em autores como Eça de Queirós ou Cesário Verde, por exemplo. Uma vez que a protagonista é uma personagem modelada, com um forte cariz primitivo, a narrativa encaixou como uma luva num ambiente mais fúnebre e cruel, em que a Inquisição fez mossa. Esta Igreja dogmática e punitiva pertence, obrigatoriamente, ao passado de Portugal e da nossa vizinha Espanha. Porquê Espanha? Uma vez que esta personagem ignóbil se encontra tão apartada do nosso quotidiano, do nosso tempo e de mim mesma, quis também afastá-la geograficamente.
Sendo uma personagem tão distante da nossa realidade, isso dificultou a sua construção?
Não, não dificultou. Antes pelo contrário. A protagonista do romance foi rapidamente esquadrinhada dentro de mim, na sua totalidade, e esta era a única certeza que tinha, desde o início. Quando escrevo algo, nunca sei como irá ser o final. Acaba por ser uma surpresa para o leitor e também para mim. Eva nasceu de receios e inquietações existenciais, de reminiscências de leituras e de uma imaginação torrencial que, por vezes, me invade e da qual não consigo escapar. O livro trata-se de uma receita genuína, em que misturo fragmentos da minha existência e das minhas emoções, vagos resquícios de poetas e escritores que me fascinam, bem como espectros de obras que me marcaram. Acaba por ser um romance insólito e inusitado, que nos absorve e nos desperta sentimentos contraditórios, através de um narrador francamente interventivo.
Diário de Aveiro: “Como uma seta que é lançada” é descrito pela Visgarolho como um romance ficcional obscuro. Que livro é este?
Manuela Lobo Vieira: É um livro peculiar que chega a tocar um pouco o género do terror existencial, explorando medos, desejos infundados, angústias, bem como a fragilidade da condição humana. Atrevo-me a dizer que este não é um livro para todos e não o é certamente para crianças. Relativamente à escrita, é uma escrita transgressora e verdadeiramente polifónica, sendo que o leitor irá tropeçar em estilhaços de Fernando Pessoa, Cesário Verde ou José Saramago. A personagem principal, Eva, é uma menina que tem o sonho de matar a mãe. Trata-se, naturalmente, de uma história ficcional que tem que ver com a falta de amor e com o vazio que essa lacuna pode despertar no nosso âmago, tornando-nos em algo animalesco. Nenhum ser humano é uma ilha. O que somos nós sem o amor, afinal?
A obra é passada na Espanha do século XVII. Porquê esse período e essa geografia?
À medida que fui escrevendo este livro, senti a necessidade de fazer uma crítica contundente à Igreja, nunca à religião. Provavelmente, esta necessidade resultou da influência incisiva da literatura portuguesa, em que o anticlericalismo está vincadamente patente em autores como Eça de Queirós ou Cesário Verde, por exemplo. Uma vez que a protagonista é uma personagem modelada, com um forte cariz primitivo, a narrativa encaixou como uma luva num ambiente mais fúnebre e cruel, em que a Inquisição fez mossa. Esta Igreja dogmática e punitiva pertence, obrigatoriamente, ao passado de Portugal e da nossa vizinha Espanha. Porquê Espanha? Uma vez que esta personagem ignóbil se encontra tão apartada do nosso quotidiano, do nosso tempo e de mim mesma, quis também afastá-la geograficamente.
Sendo uma personagem tão distante da nossa realidade, isso dificultou a sua construção?
Não, não dificultou. Antes pelo contrário. A protagonista do romance foi rapidamente esquadrinhada dentro de mim, na sua totalidade, e esta era a única certeza que tinha, desde o início. Quando escrevo algo, nunca sei como irá ser o final. Acaba por ser uma surpresa para o leitor e também para mim. Eva nasceu de receios e inquietações existenciais, de reminiscências de leituras e de uma imaginação torrencial que, por vezes, me invade e da qual não consigo escapar. O livro trata-se de uma receita genuína, em que misturo fragmentos da minha existência e das minhas emoções, vagos resquícios de poetas e escritores que me fascinam, bem como espectros de obras que me marcaram. Acaba por ser um romance insólito e inusitado, que nos absorve e nos desperta sentimentos contraditórios, através de um narrador francamente interventivo.
Diario de Aveiro



