Feiras Medievais e Autárquicas: um espaço de regateio

Em meados do século XIII, a Europa era contemplada por inúmeras feiras locais onde mercadores e artesãos regateavam os preços e trocavam as suas mercadorias. Estes centros de disputa e de fluxos comerciais revelavam bem a vivência dos espaços urbanos, sobre a arte de vender e, muitas vezes, de saber o que se comprava.
Atualmente, festejos sobre estas ditas feiras, em vários locais e em tempos de calor e férias, são fruto de uma reconstrução historicamente programada, mas com a tentativa de vender ao público alguma novidade e, por vezes, pouca verdade. Assim, também em tom de comparação com estes espaços — que hoje, tal como na época medieval, eram espaços de venda e de trocas de ideias e mercadorias —, nas autárquicas podemos fazer um exercício de aproximação destas dinâmicas.
Ao chegar perto de setembro, vemos as listas e promessas de quem está no poder a regatear com o freguês novas “mercadorias” e a tentar, como nas recriações de feiras medievais, mostrar o que de bom foi feito e como se deve continuar a fazer. Do mercado à praça, de mercador a promissor candidato às autarquias, da venda de produtos à venda de sonhos, isto parece-nos a mesma coisa.
O produto que se vendia nas feiras medievais, e a forma como os mercadores vendiam, talvez fossem mais claros e objetivos — mesmo nas reconstruções históricas pouco fiéis — do que os sonhos de campanha ou promessas dos políticos que estão no poder. A necessidade de tentar distinguir a cópia do original, tal como nas pseudo-feiras que hoje se realizam, passa pela vontade do freguês em ter olho para o que se regateou e para o que se pode vir a regatear.
Entre trocas e omissões, com réplicas de feiras do século XIII ou promessas em praça pública, uma coisa é certa: nas feiras medievais, talvez o freguês soubesse o que comprava. Hoje, nas feiras que são reconstruções de um passado não fiel, e também nas promessas eleitorais, o freguês não tem bem a noção se é mesmo assim como dizem.
observador