Vilamoura arrastada para o abismo, silêncio dos responsáveis

Este é o tipo de artigo que não gosto de escrever. Não porque o problema não exista ou não seja grave – pelo contrário. Não gosto de o escrever porque sei que, ao expor publicamente esta realidade, estou a contribuir para manchar a imagem de uma das zonas mais emblemáticas e valiosas do concelho de Loulé e do Algarve. Mas não escrever seria pior. Seria fazer como tantos que se calam para não causar alarme. Pois acordem: já não estamos no domínio do alarme. Estamos na realidade. E Vilamoura está a apodrecer diante dos nossos olhos.
Vilamoura é, para muitos, o rosto mais sofisticado do Algarve. Uma marca construída ao longo de décadas de investimento em hotelaria de excelência, golfe de classe mundial, gastronomia de topo e uma marina que rivaliza com as melhores da Europa. Mas o que está hoje a acontecer nas suas ruas não é luxo – é degradação. E pior: é impunidade.
Há muito que se fala em surdina do que se está a passar em Vilamoura. Agora é impossível fingir que não se vê. As casas de “massagens” multiplicam-se – sem pudor, sem controlo, sem qualquer verniz de legalidade, muitas delas apenas fachada para o exercício da prostituição, com anúncios explícitos, com funcionárias, sobretudo da América do Sul e da Ásia, que abordam quem passa com propostas de cariz sexual. Não é preciso procurar – basta caminhar na zona superior à Marina para ser interpelado, com sugestões e convites diretos. Não se escondem. Estão na rua. Na entrada dos edifícios.
Vilamoura, que se vendia como destino de luxo, vê-se a braços com um mini “Red Light District”. Uma prostituição encapotada a funcionar às claras, perante comerciantes incrédulos, famílias desconfortáveis e turistas desiludidos. O constrangimento é real.
Esta não é a Vilamoura que vendemos ao mundo. Esta é a Vilamoura que se está a transformar perante a passividade das autoridades. E não é só. Em cada esquina, junto aos bares, no passeio da Marina, junto aos restaurantes e até nas entradas dos hotéis, os traficantes de droga atuam sem disfarce, omnipresentes, descarados, cada vez mais agressivos nas abordagens, oferecem de tudo, a todos, a toda a hora. Muitos são reincidentes conhecidos, quase sempre estrangeiros, e circulam livremente. A sensação de insegurança alastra-se. Já não é apenas uma perceção, é uma realidade visível e cada vez mais comentada entre visitantes e locais: A Marina e o espaço público estão transformados num corredor de venda ambulante de estupefacientes.
Isto é Vilamoura em 2025. É o concelho de Loulé e o Algarve que estamos a deixar cair.
As perguntas que se impõem são claras: Onde está o Estado? Onde estão as autoridades? Onde está o Município? Não se trata apenas de manter a imagem turística. Trata-se de defender a lei, a segurança, a saúde pública e a dignidade de um concelho inteiro.
Vilamoura não pode ser entregue a redes organizadas de prostituição e tráfico. Porque é exatamente disso que se trata: não estamos a falar de casos pontuais. Estamos a falar de redes, de esquemas transnacionais, de indícios de tráfico humano, de exploração de migrantes e de lavagem de dinheiro. E estão a atuar aqui. Agora.
Há um problema urgente a céu aberto e é hora de responder o que as entidades responsáveis pensam fazer para travar a proliferação de casas de prostituição disfarçadas de centros de massagens em Vilamoura? Que medidas concretas propõem para desmantelar as redes de tráfico de droga e o comércio ambulante ilegal que domina a Marina? Vão continuar a tolerar que Vilamoura continue a ser um território sem lei durante a época alta, desde que os números do turismo se mantenham? Vão defender os comerciantes que investiram milhões em negócios legítimos e agora convivem com atividades ilícitas à porta? Vão proteger as famílias residentes ou vão deixar que abandonem a zona? O que propõem para resgatar a imagem de Vilamoura e travar a sua degradação acelerada?
É preciso garantir segurança, legalidade e dignidade no espaço público. E Vilamoura, enquanto bandeira turística do concelho de Loulé e do Algarve, não pode ser deixada à mercê da prostituição disfarçada e do narcotráfico descarado. Vilamoura está a perder-se. Perde-se no silêncio cúmplice de quem devia agir.
Este artigo não é contra o turismo. É por um turismo com regras, com ética, com segurança. Não é contra imigrantes, mas contra quem os explora. Não é contra o sexo, mas contra o tráfico. Este não é um artigo contra quem trabalha honestamente, nem contra quem procura recomeços longe do seu país de origem. É, sim, uma denúncia clara e necessária contra redes criminosas que estão a tomar conta do território e contra a passividade de quem devia proteger a imagem e os cidadãos do concelho.
Vilamoura não é território de ninguém. E é altura de dizê-lo sem rodeios: ou se age já, ou dentro de poucos anos não restará nada para defender.
observador