Javi, hasta la victoria siempre!

“Um louco perigoso”, bradavam os economistas de salão. “O fim da Argentina”, vaticinavam os augures do Estado-providência. Paul Krugman, eterno Nobel da previsão errada, alertava para o “desastre iminente”. O FMI torcia o nariz. Os comentadores progressistas europeus preparavam já as necrológicas da democracia argentina.
Curiosamente, a única coisa que morreu foi a credibilidade deles. Mas essa, convenhamos, já vinha em cuidados paliativos há décadas.
Javier Milei não emergiu do éter. Brotou do terreno fértil que oito décadas de peronismo cuidadosamente adubaram com inflação galopante, clientelismo metastático e uma classe política que transformou o saque do erário em modalidade olímpica. Quando um país atinge 211% de inflação anual, até uma motosserra parece instrumento cirúrgico de precisão.
O economista de cabelo rebelde e retórica incendiária não prometeu mundos e fundos, prometeu sim dor, ajuste e realidade. E os argentinos, cansados de décadas de promessas açucaradas que terminavam invariavelmente em hiperinflação, filas de pão e controlo de capitais, fizeram algo radical, votaram na verdade. Que escândalo.
O que se seguiu foi um exercício de desconstrução do Estado extrativista tão eficaz que deixaria Bakunin com inveja (se Bakunin entendesse de economia, claro). Milei não cortou na gordura, amputou o parasita que durante décadas se disfarçou de músculo.
Dezenas de ministérios desapareceram como lágrimas na chuva. Subsídios que serviam apenas para alimentar caciques eleitorais foram extintos. O Banco Central, aquela impressora de miséria disfarçada de instituição financeira, viu o seu obituário ser redigido. E o mais extraordinário, funcionou.
A inflação, essa velha senhora que aterrorizava gerações de argentinos, começou a recuar. As contas públicas, pela primeira vez em memória recente, aproximam-se do equilíbrio. O peso argentino, moeda que valia menos que o papel onde era impresso, recupera alguma dignidade.
Os profetas do apocalipse, entretanto, mudaram de assunto. Com notável flexibilidade vertebral.
E é aqui que a história fica verdadeiramente deliciosa. Nos cafés de Lisboa, onde se teoriza sobre a revolução entre croissants de €4, o pânico instalou-se. Porque se Milei demonstrar que é possível desmantelar o Estado obeso sem que a sociedade colapse, ou pior, provando que ela prospera, décadas de narrativa progressista evaporam-se como orvalho ao sol do meio-dia.
Observem a coreografia mediática, quando a inflação argentina desce de 25% para 2,7% ao mês, é nota de rodapé página 23. Quando Milei diz uma frase polémica no Twitter, manchete de primeira. Quando o défice fiscal se transforma em superavit, silêncio sepulcral. Quando há um protesto de sindicatos do setor público, cobertura ao minuto.
O medo não é de Milei. O medo é que os portugueses façam contas e percebam que temos mais funcionários públicos por habitante que a média europeia, que 50% do nosso PIB é consumido pelo Estado, que a nossa dívida pública continua estratosférica, e que talvez, apenas talvez, o problema não seja “falta de investimento público” mas excesso de Estado.
As recentes eleições legislativas argentinas foram o segundo ato desta ópera liberal. A coligação de Milei conquistou uma vitória que os analistas prefeririam esquecer, tal a violência que faz às suas teses. O povo argentino, esse ente misterioso que teima em não votar conforme os intelectuais mandam, reafirmou que preferem a motosserra às promessas.
Em Portugal, o luto foi discreto mas palpável. No Bloco de Esquerda, onde ainda se sonha que o socialismo apenas não foi tentado da forma correta, a consternação. No PCP, basílica do marxismo-leninismo museológico, o desespero mal contido. No LIVRE, onde se pratica um progressismo tão verde quanto ingénuo, a perplexidade, como pode o povo ser tão estúpido em votar contra os seus interesses (leia-se, contra o que nós decidimos que são os seus interesses)?
A narrativa desmorona-se. Milei não é um acidente. É sintoma de algo maior, o cansaço civilizacional com o socialismo light, essa versão pasteurizada da expropriação que promete redistribuir riqueza enquanto garante a distribuição da pobreza.
Hayek avisou: “O socialismo, para funcionar, precisa de tiranizar economicamente o indivíduo.” Milton Friedman foi cirúrgico: “Se puseres o governo federal a cargo do deserto do Saara, em cinco anos falta areia.” E Mises rematou o que a história provou ad nauseam: “O socialismo não é uma alternativa ao capitalismo; é uma alternativa à qualquer sistema que funcione.”
Milei não é um messias libertário, é simplesmente alguém que leu os manuais, olhou para a realidade, e teve a coragem (ou loucura) de aplicar o óbvio, não se pode gastar eternamente mais do que se produz. Não se pode imprimir prosperidade. Não se pode redistribuir aquilo que não se criou.
A Argentina está longe de ser um paraíso. Mas pela primeira vez em décadas, tem algo que o peronismo sistematicamente destruiu, esperança fundamentada em números reais, não em retórica vazia.
E isso, meus caros progressistas em pânico, é imperdoável. Porque se um “louco” na Argentina consegue onde gerações de “sensatos” falharam, que desculpas restam para explicar por que razão continuamos a alimentar os mesmos monstros estatais na Europa?
Javi, hasta la victoria siempre? Talvez. Mas uma coisa é certa, hasta o despertar do torpor socialista, definitivamente.
observador




