Tecnológicas de Silicon Valley sob pressão com decisão de Trump

A decisão de Donald Trump de dificultar a emissão de vistos coloca em risco o setor tecnológico indiano que vale 280 mil milhões de dólares. Mas também ameaça criar dificuldades às grandes tecnológicas mundiais, dependentes de mão-de-obra estrangeira.
O presidente americano vai passar a exigir 100 mil dólares para cada candidatura aos vistos H-1B que são usados para colocar milhares de engenheiros indianos em empresas americanas como o Citigroup e o Walmart. Os vistos são pedidos por empresas de outsourcing indianas (como a Tata Consultancy Services e Infosys).
A expetativa é que a decisão venha agora a ser contestada em tribunal depois de ter entrado em vigor no domingo, sendo previsto que o setor tecnológico venha a pressionar por mudanças.
Devido à incerteza gerada empresas de Silicon Valley – como a Microsoft, Amazon ou a Alphabet – aconselharam os seus trabalhadores com estes vistos a não saírem dos EUA.
Num voo da Emirates de San Francisco para o Dubai, trabalhadores com este visto pediram à tripulação para os deixar sair do avião após a porta ter sido encerrada, assim que souberam do anúncio.
As empresas com mais vistos pedidos em 2025 são a Amazon (10 mil) Tata (5.500), Microsoft (5.200), Meta (5.100), Apple (4.200) e Google (4.200).
Por outro lado, trabalhadores indianos apressaram-se a regressar aos EUA para evitar problemas na fronteira.
Já advogados de imigração trabalharam durante o fim-de-semana para perceber as implicações e como tentar mitigar problemas.
Nas últimas três décadas, o visto foi crucial para programadores indianos conseguirem ganhar dólares, ajudando famílias a ascenderem à classe média. A explosão deste setor ajudou a fomentar toda uma indústria, com impactos positivos na aviação e no imobiliário, com os novos indianos endinheirados, recorda a “BBC”.
Por outro lado, os EUA também saíram a ganhar com novo talento nos laboratórios, tecnológicas, salas de aula e hospitais.
Executivos indianos estão no topo da Google, Microsoft e IBM. Médicos indianos pesam 6% na força total de médicos do país.
“Esta é uma guerra geopolítica. Estamos apenas a ajudar a América e a tornar as empresas americanas mais competitivas”, disse à “Bloomberg” Chander Prakash Gurnani, empresário indiano do setor tecnológico.
“No curto prazo, os próximos 12 meses, vai haver um choque. O modelo de negócio está a mudar e vivemos num mundo muito dinâmico”, acrescentou.
A decisão surge a poucos dias de a China inaugurar o K Visa, um visto para atrair talento estrangeiro, para jovens da áreas das ciências e tecnologia. Já estava previsto antes das medidas americanas e vai entrar em vigor a 1 de outubro.
A medida vai colocar mais um irritante na complicada relação entre Washington e Nova Deli, um tradicional aliado dos EUA, mas que tem sofrido com as decisões de Donald Trump.
Os trabalhadores indianos são a larga maioria (72%) dos beneficiários deste visto. Só uma das empresas afetadas (Infosys) terá de pagar 250 milhões de dólares pelos mais de 2.500 vistos pedidos em 2024.
A medida ameaça aumentar custos para as empresas americanas e pode levá-las a abrir centros tecnológicos na Índia, onde de resto já se encontram empresas como a Microsoft, Google, Goldman Sachs, JP Morgan ou Morgan Stanley.
Outro empresário indiano avisou do efeito contrário. “Se as empresas americanas não conseguem recorrer ao outsourcing estrangeiro, podem expandir a sua presença em lugares como a Índia. A decisão destina-se a deixar os eleitores de Trump felizes, mas resta saber como substituir 65-85 mil profissionais afetados”, segundo Bhaskar Rao da Digital Sea.
Anualmente, são atribuídos cerca de 65 mil destes vistos (por lotaria) mais 20 mil aos estudantes de mestrados nos EUA. Este ano, foram submetidas 470 mil candidaturas, mas existem candidatos repetidos para aumentar as probabilidades na lotaria.
“A grande questão com estas decisões é que criam muita incerteza no ambiente de negócios. Um choque de oferta não é no melhor interesse dos EUA”, segundo Arup Raha, economista sediado em Singapura.
Ainda em julho, o Governo indiano disse que as regras de imigração não estiveram em cima da mesa nas negociações comerciais entre os dois países.
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