O almirante que quer construir pontes entre patrões e trabalhadores

Anunciou na quinta-feira, oficialmente, a sua candidatura a Belém, rodeado de várias personalidades da vida política nacional, do PSD, CDS e PS. O homem que nasceu em Quelimane, Moçambique, há 64 anos, e se tornou famoso em casa dos portugueses por ter ‘organizado’ o processo de vacinação durante a covid-19, não quis ‘abater’ nenhum dos seus rivais, nomeadamente Marques Mendes, que já disse que o almirante pode ser um problema para a democracia. Em 2021, numa entrevista ao SOL, quando questionado sobre a o seu comportamento nos exercícios da NATO – Gouveia e Melo foi um submarinista que bateu alguns recordes de Portugal – se comparava a um campo de batalha a sério, respondeu: «Nisso, sou o mais sanguinário possível. Se entra um inglês no exercício, é o primeiro que ataco porque lhes quero tirar o snobismo. Não gosto de snobes. Aos franceses também não perdoo, porque são chauvinistas, e os alemães também não deixo escapar porque tenho uma família judaica». Se vai levar este espírito bélico para a campanha eleitoral, ainda é uma incógnita, pois não se sabe como irá reagir aos ataques anunciados de Marques Mendes.
Certo é que no anúncio oficial de ontem, dos nomes de autarcas que o Nascer do SOL já tinha avançado há uns meses, só faltou Rui Moreira. De resto, Henrique Gouveia e Melo fez-se acompanhar pelo empresário Mário Ferreira, dono da TVI e CNN Portugal, para oficializar a sua candidatura à Presidência da República. Na plateia estavam figuras como Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais, que se fala que poderá ir trabalhar na Presidência da República, caso o almirante chegue a Belém, Isaltino Morais, autarca de Oeiras e um dos grandes impulsionadores da candidatura, o social-democrata Ângelo Correia, o almirante Melo Gomes, ex-chefe do Estado-Maior da Armada, os ex-ministros Martins da Cruz, Fernando Negrão, Rui Gomes da Silva, além de Francisco Rodrigues dos Santos e José Ribeiro e Castro, ex-líderes do CDS. E ainda António Tavares, provedor da Misericórdia do Porto, próximo de Rui Rio, bem como o antigo presidente da Câmara Municipal de Sintra Fernando Seara. «Se olharem bem, verão que a Maçonaria e o Opus Dei estiveram bem representados na cerimónia», contou ao Nascer do SOL fonte ligada à candidatura.
Da área socialista, Diogo Leão, que foi coordenador do partido na Comissão de Defesa Nacional, e Ricardo Pinheiro, ex-secretário de Estado do Planeamento, também marcaram presença.
Mas não foi só de políticos que se fez a festa. Do meio académico, marcaram presença os constitucionalistas Paulo Otero e Teresa Violante, e da área da Saúde Ana Rita Cavaco, antiga bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Francisco George, ex-diretor-geral da Saúde, e o médico Filipe Froes.
«Apresento-me diante de vós como candidato à Presidência da República. Nos últimos três anos senti o apelo para a minha candidatura. No mesmo período, o mundo mudou muito. Veem-se nuvens de perigo no horizonte. A guerra voltou ao coração da Europa. O Ocidente facilmente perde o rumo. Os EUA não garantem segurança e lançam incerteza. As democracias são atacadas de fora e corroídas por dentro. Portugal não está imune, nem isolado numa redoma protetora. São claros os sinais de cansaço, desânimo e desencanto na nossa jovem democracia. E é por tudo isto que aqui estou», começou por dizer.
Horas antes, ao Nascer do SOL, fonte próxima do almirante dizia: «O almirante Henrique Gouveia e Melo apresenta-se aos portugueses com um propósito firme: ouvir o país e servir com coragem, clareza e sentido de justiça». «Depois de uma vida dedicada à missão, quer agora assumir uma nova responsabilidade: ser um Presidente presente, que escuta, que une e que age. Um Presidente que não se isola no Palácio de Belém, mas que está onde estão os portugueses — nos desafios, nas esperanças e nas contradições do dia-a-dia».
Continuando nas intenções do almirante, e na terceira pessoa, Gouveia e Melo «acredita num Estado Social forte e justo, mas também num país onde a riqueza é criada por quem trabalha e por quem investe — e é distribuída com responsabilidade e visão. Por isso, propõe-se a construir pontes entre empresários e trabalhadores, entre inovação e inclusão, entre mérito e solidariedade».
«Se for eleito, promete uma Presidência disruptiva, assente em escuta ativa, uso inteligente da tecnologia e diálogo regular com a população. Mais do que representar um sistema, quer representar as pessoas — todas, sem exceção. Portugal não precisa de um protagonista. Precisa de um Presidente com sentido de missão», acrescentou a mesma fonte.
_Voltando à Gare Marítima de Alcântara, local do anúncio oficial, Gouveia e Melo foi taxativo: «Estou aqui porque não consigo ficar de braços cruzados. Estou aqui com a mesma coragem que servi a Marinha, as Forças Armadas e o país. Apresento-me com a experiência de quem liderou em momentos difíceis e acredito que vamos conseguir ultrapassar, juntos, grandes desafios. Estive sempre onde o país me chamou. Estive em Pedrógão, coordenei a campanha contra a COVID-19, ou seja, quando Portugal precisava de mais coordenação e liderança», disse o candidato a Belém.
Jornal Sol