AD à conquista de agricultores. PS reforça apelo ao voto útil

epa12096338 The president of the Social Democratic Party (PSD) Luis Montenegro (C) during a visit to rice paddies as part of the Democratic Alliance (AD) campaign for the legislative elections in Benavente, Portugal, 13 May 2025. Portugal is set to hold its snap legislative election on 18 May 2025. EPA/MIGUEL A. LOPES
Depois de um dia em que a Spinumviva voltou a marcar a campanha eleitoral (primeiro, porque o primeiro-ministro não gostou que os jornalistas o questionassem sobre o tema, depois, porque o filho de Luís Montenegro, Hugo Montenegro, surgiu num comício da Aliança Democrática (AD) em Vila Real, e até disse não ter problemas em ir à Assembleia da República se for preciso prestar esclarecimentos na comissão parlamentar de inquérito), Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, optou por não comentar o tema, frisando que, até domingo, estará apenas concentrado em dar “esperança” de que é possível viver melhor.
Discutir habitação, salários, pensões, custo de vida e saúde, criticando a AD nestas áreas, é a aposta socialista nos quatros dias que restam até à decisão final dos eleitores. Os restantes partidos à esquerda acompanham e carregam sobretudo no ataque ao Ministério da Saúde, com a notícia de que a taxa de mortalidade infantil em 2024 aumentou 20% a contribuir para isso. Mas algumas críticas acabaram por atingir também o PS.
Comecemos por Pedro Nuno Santos. O líder socialista arrancou o 10.º dia de campanha oficial numa arruada na Ajuda, em Lisboa. Aproveitando a aparição de Hugo Montenegro na véspera, os jornalistas quiseram saber se o líder do PS entende que deve continuar a haver escrutínio sobre a empresa criada por Luís Montenegro e que, entretanto, passou para os dois filhos. Mas a estratégia do líder do PS nesta reta final da campanha não passa por aí. Pedro Nuno quer aproveitar o resto dos dias para “dar esperança” ao eleitorado e mostrar que o PS é uma “mudança segura”.
“É só nisso que eu vou estar concentrado nos próximos dias, dizer às pessoas que é mesmo possível viver melhor em Portugal e que podem confiar em nós, não só neste contexto de incerteza, mas para continuarmos a transformar o país, para aumentarmos salários, para aumentarmos pensões, para reduzirmos o custo de vida, para garantirmos casas e defendermos o SNS (…) Até domingo temos que conseguir mobilizar o nosso povo, dar-lhe esperança, mostrar-lhe que é possível termos uma mudança segura e positiva em Portugal liderada pelo PS”, enfatizou Pedro Nuno, antes de um almoço comício em Queluz, no qual contou com um discurso de Basílio Horta. O presidente da câmara municipal de Sintra frisou a “incompetência” que atinge todo o Governo de Luís Montenegro e a “desgraça” em que o CDS se transformou, apelando ao voto nos socialistas.
Do lado do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua arrancou o dia a afirmar que a coligação AD (à qual se poderá depois juntar a Iniciativa Liberal) quer privatizar o Serviço Nacional de Saúde e acusou a ministra Ana Paula Martins de incompetência.
“É um caso muito paradigmático de incompetência, de arrogância e de uma visão do SNS que está errada (…) O que o PSD foi instalar foi um grupo de gente próxima do PSD nos lugares de administrações dos hospitais e, como não tem nenhuma solução para o SNS, apesar de ter prometido resolver os problemas todos em 60 dias, agora diz que vai entregar ao privado os centros de saúde, os hospitais. E daqui a 10 ou 20 anos, o privado vai ter tudo, vai tomar conta de tudo”, alertou a coordenadora bloquista. “Querem ativamente privatizar o SNS, essa é a maior irresponsabilidade de Ana Paula Martins”, acrescentou.
Também o PCP carregou nas críticas à ministra cabeça de lista por Vila Real. “Estamos a andar para trás. Não podemos andar para trás em nada, mas na saúde não podemos andar para trás mesmo, e na saúde materno-infantil ainda pior”, apontou o secretário-geral Paulo Raimundo, aludindo aos dados da mortalidade infantil.
O líder comunista defendeu que só o SNS tem condições para resolver os problemas, mas isso, alertou, “implica não haver maternidades fechadas e não haver falta de médicos”. Mas, lembrou Raimundo, não é só a AD a única responsável pelo estado atual da saúde no país. “Estes 11 meses de Governo são um acelerador do desmantelamento do SNS, é verdade, mas há uma quota parte de responsabilidade do PS na gestão anterior, nomeadamente no período de maioria absoluta”, recordou.
Animado com as projeções de crescimento nestas eleições, o Livre disparou esta terça-feira na direção dos socialistas, acusando o PS de ter “mais tática do que estratégia” ao manter todas as opções em aberto e não dizer claramente o que quer fazer.
“Não entendo exatamente com o que o PS, neste momento, se importa. Parece que quer manter todas as opções em aberto e, muitas vezes, quem quer manter todas as opções em aberto acaba por não ter nenhuma opção porque não mobiliza as pessoas, isto porque, quando não se tem clareza, não se mobiliza as pessoas”, disse Rui Tavares numa visita à praia fluvial de Constância, no distrito de Santarém, onde alertou para os problemas hídricos.
Na resposta a esta crítica, Pedro Nuno Santos voltou a apelar ao voto útil. “O que eu sei é que para termos uma mudança política em Portugal, o PS precisa de ganhar as eleições, e é nisso que estamos focados. Depois, a partir do Parlamento que resultar do dia 18 de maio, encontraremos soluções de estabilidade”, disse o líder socialista, lembrando que o PS tem provas dadas no diálogo e na construção de soluções duradouras, numa alusão à geringonça. “Mas vamos ter de esperar pelo dia 18 de maio para perceber as condições em que o podemos fazer (…) Temos aqui uma oportunidade de derrotar a AD, não dispersemos os votos”, pediu Pedro Nuno.
Encerrando o leque à esquerda, o PAN (que oficialmente não se assume nem de esquerda nem de direita), Inês Sousa Real começou o 10.º dia de campanha numa ação de campanha contra a tauromaquia no Campo Pequeno, em Lisboa. A cabeça de lista pela capital acusou o secretário de Estado da Agricultura, João Moura, de fazer a “apologia da cultura da violência contra os touros e os cavalos” por ter assistido e divulgado imagens de um espetáculo tauromáquico. E aproveitou para lembrar que o partido vai insistir na proposta de um referendo nacional sobre o fim das touradas no país e quer que o dinheiro público que financia atualmente estas atividades seja canalizado para a criação do SNS Animal.
À direita, arroz e ainda a governação.
À direita, Luís Montenegro, primeiro-ministro em funções e líder da AD, dedicou parte do dia, pela segunda vez nesta campanha, à agricultura. Desta vez, de boné axadrezado, a condizer com o tema. Num almoço em Benavente (Santarém), depois de uma visita aos arrozais, o presidente do PSD defendeu que “os maiores defensores dos animais e do ambiente” são os agricultores.
“Não conheço ninguém que goste mais dos animais do que os agricultores”, afirmou durante a intervenção, na qual prometeu também ser uma voz ativa na Europa na defesa do setor e contra a burocracia.
No mesmo almoço, o secretário de Estado da Agricultura, João Moura, recorreu à linguagem maoísta para classificar o seu primeiro-ministro como o “grande timoneiro” da reconciliação do Governo com os agricultores, alegando que colocou o setor primário como prioridade.
“Hoje, com a liderança de Luís Montenegro, temos uma reconciliação com a agricultura e uma oportunidade para a nossa produção nacional. Os nossos agricultores merecem dignidade, merecem ter uma atividade empresarial lucrativa e atrativa para os mais jovens”, disse o governante, que é segundo na lista por Santarém. “O nosso primeiro-ministro é o grande timoneiro deste grande projeto de amizade em relação à agricultura”, concluiu João Moura.
A Iniciativa Liberal, partido que pode ser a chave na governação depois das eleições, visitou a Lisnave (em Setúbal). O possível entendimento com a coligação que governou o país no último ano continua a ser tema. Questionado pelos jornalistas, o líder dos liberais garantiu que será “muito exigente” quanto a questões programáticas, mas também éticas caso dê a mão à AD, e prometeu exigir as explicações que entender adequadas a Luís Montenegro sobre a empresa familiar.
“Neste momento, há umas eleições, o primeiro-ministro entenderá dar as explicações que considerar pertinentes aos portugueses. Os portugueses pronunciar-se-ão. Eu, no momento certo, exigirei as explicações que considerar adequadas”, garantiu, quando abordado sobre o facto de, em fevereiro, ter defendido que Luís Montenegro devia pedir desculpa aos portugueses e desfazer-se da Spinumviva.
No Algarve, André Ventura antecipou que entre a AD e o Chega os resultados do próximo domingo serão uma “maioria absolutíssima”, mas continuou a defender que acredita na vitória do seu próprio partido. “O Chega vai vencer estas eleições. (…) A nossa convicção é a mesma, a de que vamos vencer”, disse Ventura, assinalando que o cenário de uma vitória de Luís Montenegro será um “mau cenário para o país”, uma vez que o líder do PSD “não tem condições para ser primeiro-ministro”.
Sobre o namoro PSD-IL, Ventura desvalorizou: “As sondagens dizem que Chega e PSD terão uma maioria absoluta no Parlamento, isso é uma evidência (…) Para nós, Chega, não basta haver maiorias absolutas numéricas, tem que haver maiorias de integridade, tem que haver maiorias de transparência. Não interessa que Chega e PSD vão ter maioria absoluta, como aparentemente vão, segundo todas as sondagens. Maioria, aliás, absolutíssima”, afirmou.
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