'Ela rasgou a própria verdade e foi': Simone Mendes diz que ninguém vai substituir Marília Mendonça
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Simone Mendes não mediu suas palavras para falar de Marília Mendonça e do legado da cantora que morreu em um acidente de avião em novembro de 2021. Para a cantora, Marília é insubstituível e teve um grande impacto da artista no cenário da música brasileira.
“A Marília, para mim, sem dúvida alguma, foi uma das maiores vozes do nosso país. Uma das maiores artistas. Uma pessoa sem explicação. Quebrando todos os parâmetros de tudo”, disse Simone. “Uma mulher forte. Uma mulher que chegou com a sua voz, com o seu talento, com a sua doçura, com a sua beleza, sem se importar com que as pessoas iam pensar sobre ela, rasgou a verdade dela e foi.”
O terceiro episódio do podcast "Marília – o outro lado da sofrência", do g1, mostra como a cantora rejeitou o rótulo "feminejo", enfrentou o machismo do mercado e acabou abrindo espaço para uma geração inteira de mulheres no sertanejo – com letras que falam de traição, bebedeira e liberdade sem pedir licença (ouça abaixo ou na sua plataforma de áudio preferida).
Simone destacou o quanto Marília inspirou outras mulheres ao assumir sua identidade com autenticidade. Segundo Simone, além do carisma e da atitude, a qualidade musical de Marília é "incomparável". "Ela, para mim, é uma das maiores inspirações de artista, de talento, de qualidade musical, enfim."
Simone, Marília Mendonça e Simaria em foto para single de 2019 — Foto: Kendy Higashi/Divulgação
A cantora também falou sobre a força do legado deixado por Marília. “E eu acho que não haverá outra Marília Mendonça. Eu acho que o lugar dela é dela. Eu acho que vêm estrelas, vêm artistas, vêm talentos, vem tudo, mas o legado dela é único.”
Simone contou que continua sentindo a presença da artista nos palcos. “Ela passou, ela marcou e ela continua marcando, porque a gente canta a música dela no show e é uma devoção de um público, de cantar aquilo de uma forma… como se a música tivesse sido lançada ontem.”
No início da fama, em 2016, Marília disse ao g1 que não era feminista. Chegou a afirmar que o feminismo "diminui a mulher" e que nunca havia sofrido machismo. A fala causou espanto, mas também revelou algo importante: Marília ainda estava descobrindo o que significava ocupar aquele espaço.
Com o tempo, seu discurso mudou. Na TV, reconheceu o machismo do mercado sertanejo e do Brasil. Começou a dizer que o melhor jeito de empoderar mulheres era pelo exemplo: mostrar sua história, sua luta, sua resistência.
E isso se refletia nas letras. Em “Troca de Calçada”, Marília dá voz a uma mulher marginalizada, uma garota de programa. Em “Você Não Manda Em Mim”, canta a libertação de uma mulher que sai de um relacionamento abusivo. Cada canção se tornava um retrato de dores reais, vividas por muitas. Por isso mesmo, eram tão populares.
Mari Fernandez e Marília Mendonça, em encontro nos bastidores, duas semanas antes da morte da cantora sertaneja — Foto: Arquivo Pessoal
Hoje, artistas como Simone Mendes, Lauana Prado e Ana Castela ocupam os rankings de mais ouvidas do país. E muitas delas reconhecem que só chegaram onde estão por causa das portas que Marília abriu.
Mari Fernandez, que no começo da carreira era chamada de "Marília Mendonça do piseiro", lembra: “Quando a Marília chegou, ela trouxe essa nova leva de cantoras. Antes, não tinha tantas. Muito do que a gente vive hoje vem do trabalho que ela plantou com toda a essência e a identidade dela.”
Simone Mendes, após o fim da dupla com Simaria, buscou justamente a equipe de Marília para sua nova fase solo — incluindo o produtor Eduardo Pepato. O primeiro lançamento dessa parceria, "Erro Gostoso", foi um sucesso imediato.
A letra, sobre uma mulher que não sabe dizer não a um amor que faz mal, carrega a assinatura emocional que lembra as melhores músicas da Marília. "Tudo que você faz que dá certo, você tenta repetir a dose, de acordo com a característica do artista", resume Pepato.
Globo