É assim que Minsk e Moscou estão travando a guerra de informação na Polônia. Um relatório do Instituto de Pensamento Político.

O canal "Sereia de Varsóvia" no Telegram é uma ferramenta na guerra de informação que Moscou e Minsk estão travando contra a Polônia, de acordo com um relatório do Instituto de Pensamento Político. "A narrativa de propaganda enfatiza fortemente temas anti-ucranianos", disse Katarzyna Kwiatkowska-Moskalewicz, autora do relatório, à PAP.
O relatório "Varsóvia, a nova "mãe dos redutos russos"?", publicado pelo Instituto Gabriel Narutowicz de Pensamento Político, analisa a atividade russa no Telegram endereçada aos moradores de língua russa da Polônia.
Análises mostram que o canal "Sereia de Varsóvia" no Telegram é uma ferramenta fundamental de desinformação que visa desestabilizar a Polônia. A pesquisa demonstra que sua mensagem, direcionada principalmente a ucranianos, bielorrussos e russos que vivem na Polônia, faz parte de uma estratégia mais ampla para minar a confiança nas instituições estatais polonesas. O relatório indica que o principal centro dessa atividade está localizado em Minsk, com o objetivo de criar narrativas que minem a estabilidade da Polônia.
AnúncioA narrativa da propaganda enfatizava fortemente temas anti-ucranianos. O canal questionava a contribuição dos ucranianos para a economia polonesa, alegando que eles constituíam mão de obra barata que roubava empregos dos poloneses. Os ucranianos eram retratados como hóspedes indesejados que abusavam dos benefícios poloneses e eram uma fonte de crimes.
"Minsk possui os recursos técnicos para conduzir operações de propaganda. Também mantém fortes relações com a China, da qual pode adquirir as tecnologias necessárias para realizar tais atividades", explicou a Dra. Katarzyna Kwiatkowska-Moskalewicz, autora do relatório, em entrevista à PAP. Ela acrescentou que a Bielorrússia também é um país que forma os chamados especialistas em TI – especialistas preparados para conduzir esse tipo de atividade.
O relatório indica que os envolvidos na operação "Sereia de Varsóvia" estão utilizando "tecnologias políticas", ou técnicas de influência psicológica. Essas técnicas fazem parte da guerra híbrida que Moscou e Minsk estão travando contra países como Polônia e Lituânia. Esses métodos, originários do espaço pós-soviético, visam criar a impressão de instabilidade estatal, a fragilidade da democracia e das instituições europeias, e minar a confiança na ordem política e jurídica.

Segundo Kwiatkowska-Moskalewicz, é altamente provável que Moscou controle grandes veículos de mídia como a Sputnik, enquanto Minsk administra canais menores, como o que ela investigou e descreveu em seu relatório. "A Polônia é um território bem pesquisado para a Bielorrússia, o que facilita a localização de mensagens. Enquanto isso, Moscou vê a Polônia pelo prisma de outros atores maiores, como Berlim, Paris e Washington."
Os esforços de propaganda foram particularmente intensos durante a campanha presidencial. O principal alvo da narrativa hostil foi Rafał Trzaskowski, retratado como um candidato dependente da "União Europeia e LGBT" e defensor dos interesses alemães. Essas mensagens questionavam a soberania da Polônia e sua prontidão para a defesa militar. O único candidato retratado de forma positiva foi Sławomir Mentzen, da Confederação, cujas opiniões sobre questões políticas e militares eram frequentemente citadas no canal.
Métodos mais drásticos também foram empregados como parte dessa campanha. O relatório citou uma carta falsa, supostamente enviada pela Fundação "Lar Ucraniano", convocando manifestações em apoio a Rafał Trzaskowski. O conteúdo das cartas — contendo russismos e erros de transliteração — leva à suposição de que foram escritas em russo e posteriormente traduzidas.
Outro exemplo foi uma gravação falsa na qual Sviatlana Tsikhanouskaya, figura da oposição bielorrussa, supostamente expressou apoio a Trzaskowski. A reportagem argumenta que o objetivo do vídeo era provocar reações negativas dos eleitores à candidata que Tsikhanouskaya supostamente apoiava.
– Não se trata de influenciar de fato o resultado das eleições, mas apenas de usar o evento, no qual a população de língua russa na Polônia também está muito interessada, embora a maioria dela não tenha direito ao voto, para apresentar a Polônia como um "vassalo do Ocidente" – Kwiatkowska-Moskalewicz justificou a intensificação dessas atividades.
"A Sereia de Varsóvia" também disseminou mensagens antieuropeias e antiamericanas. A União Europeia foi retratada como uma força destruidora da soberania polonesa. Alegava-se que estava perdendo soberania para Bruxelas e que os planos de defesa europeus aumentariam o ônus financeiro da Polônia, ao mesmo tempo em que reduziriam o controle sobre suas forças armadas.
Temas antiamericanos se concentraram em retratar os EUA como uma superpotência que explora a Polônia como um satélite dócil e um mercado para a produção de armas. A Embaixada dos EUA, que emitiu um alerta contra a imigração ilegal, foi criticada por seu cinismo, citando a suposta intolerância dos EUA aos problemas de seus aliados.
Os criadores do canal também usam questões históricas, particularmente o massacre de Volhynian, como ferramenta para incitar conflitos. Eles exploram ativamente a busca, exumação e homenagem às vítimas polonesas, bem como as expectativas dos ucranianos de homenagem aos locais relacionados à UPA na Polônia.
Na opinião do autor do relatório, a atividade descrita dos centros de propaganda bielorrussos e russos se tornará cada vez mais intensa, e é extremamente difícil combatê-la de forma eficaz.
"A guerra tecnológica está se voltando contra moinhos de vento. Tentativas foram feitas para combater grandes empresas como a Sputnik, bloqueando-as na União Europeia e em nível internacional, mas isso não produziu resultados significativos. Hoje, todos têm acesso a uma VPN", observou a fonte do PAP.
Ela argumentou que o Estado tem o papel mais importante a desempenhar, em vários níveis – autoridades centrais e locais, mas também por meio de organizações não governamentais. Ele deve apresentar seu lado positivo aos novos residentes da Polônia – integrá-los, demonstrar sua identidade europeia, que não os exclui.
E, claro, para neutralizar o sentimento crescente, especialmente o sentimento anti-ucraniano. Sentimento anti-ucraniano é um termo genérico para todos os bielorrussos, ucranianos e russos. Precisamos demonstrar que o Estado e a sociedade poloneses são fortes e confiantes o suficiente para que a presença dessas pessoas não inspire medo e possa, de fato, nos enriquecer", acrescentou.
Como ela enfatizou, disputas históricas, não deixadas a especialistas, mas exploradas nas arenas jornalística e política, repercutem. "Isso serve de alimento para a propaganda russo-bielorrussa, que ela utiliza de diversas maneiras, tanto contra a maioria polonesa quanto contra a minoria de língua oriental", alertou Katarzyna Kwiatkowska-Moskalewicz. (PAP)
Dez/ bst/ mhr/
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