Castells vê financiamento singular como proposta corajosa que restaura o Estatuto

Antoni Castells comemora o acordo de financiamento exclusivo alcançado pelo PSC e pelo ERC, embora sua experiência o deixe cauteloso quanto ao resultado final. O ex-ministro da Economia durante os anos de governo tripartite acredita que o modelo proposto poderia ser comparável ao de países como EUA, Alemanha e Canadá, mas corre o risco de se perder nos detalhes das negociações, tornando-se mais uma decepção para a sociedade catalã.
O economista afirmou esta tarde que esta proposta pode se tornar a pedra angular para abrir uma nova era para o nacionalismo catalão, no âmbito de uma nova reunião da Tribuna de Barcelona, realizada no Palau Macaya. Miquel Roca i Junyent, presidente da Sociedade Econômica de Amigos do País de Barcelona, também participou do encontro e apresentou o palestrante.
"O acordo pode abrir as portas para um novo autogoverno e um novo período de paz constitucional.""É uma proposta muito ousada, que repõe o Estatuto que foi aprovado em 2006, mas, mais ainda, o Estatuto que foi aprovado pelo Parlamento", afirmou. Castells acredita que essas negociações podem ser essenciais para alinhar todos os partidos centrais na política catalã após as fraturas do processo de independência da Catalunha. "Financiar implica discutir a organização do Estado. Este acordo pode abrir caminho para a celebração de novas regras de autogoverno com a Espanha e inaugurar um novo período de paz constitucional", afirmou o economista. Nesse sentido, ele pediu explicitamente à Junts que defendesse o acordo, como a extinta CiU fez na época.
Na sua opinião, o ponto mais claro do acordo é o papel central que a Agência Tributária da Catalunha (ATC) deve desempenhar, embora tenha destacado que esta agência ainda está longe de estar em condições de assumir o desafio. Primeiro, porque ele precisa ganhar músculos com mais tropas. Segundo, porque há forte oposição dos fiscais. Nesse sentido, Castells afirmou que a Generalitat não pode se dar ao luxo de ter um ATC ineficiente ou que acabe sendo um satélite do Tesouro espanhol.
Sobre o pagamento pelos serviços prestados pelo Estado na Catalunha, Castells observou que as negociações para decidir como a receita dos diversos impostos será distribuída podem ser influenciadas pelo imposto basco. "O novo sistema seria muito parecido com cada administração tendo seus próprios impostos e podendo fazer o que quisesse com eles", disse ele. Castells referiu-se ao fundo de solidariedade territorial como a segunda questão importante. "Atualmente, temos um mecanismo de distribuição que foi abandonado em outros países. O mecanismo de nivelamento não é apropriado", lamentou.
O ex-ministro explicou que o debate sobre financiamento esteve ausente porque as forças centrais do catalanismo se concentraram na independência e não na melhoria das condições de autogoverno. "Se a Catalunha não assumir a liderança, não haverá melhora", disse ele. Nesse sentido, ele demonstrou preocupação com uma possível falha. "Cada reforma de financiamento teve um alto custo político para a Catalunha", afirmou o economista. Na sua opinião, a comunidade autônoma sempre lidera um debate em que é acusada de não ser solidária, ainda que os demais territórios acabem levando vantagem quando o acordo é implementado. "Pode-se dizer que houve algum progresso, mas o preço é uma crescente animosidade em relação aos catalães e um aumento do ceticismo na Catalunha", lamentou.
lavanguardia