Demonstrações de força militar

O espetacular desfile militar presidido ontem por Xi Jinping em Pequim marcou o 80º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial após a rendição do Japão em setembro de 1945. As bombas lançadas pelos Estados Unidos sobre Hiroshima e Nagasaki em agosto e a entrada soviética na Guerra do Pacífico puseram fim ao conflito mais mortal da história.
Xi Jinping foi acompanhado por Vladimir Putin, Kim Jong Un, da Coreia do Norte, e cerca de vinte outros autocratas de vários continentes. A China demonstrou seu potencial militar e sua influência econômica e política no mundo ao desafiar Donald Trump pela hegemonia comercial e militar. Foi mais do que um simples desfile patriótico de soldados, mísseis e bandeiras. Grandes conflitos globais são frequentemente precedidos por demonstrações de força.
A demonstração de força da China, um sério desafio à hegemonia ocidentalTambém a propaganda e a manipulação da história. A citação de Orwell é sempre relevante: quem controla o passado controla o futuro, e quem controla o presente controla o passado. Narrativas são construídas por Estados. Stalin apresentou a vitória como a Grande Guerra Patriótica, minimizando o papel dos Estados Unidos e seus aliados, apagando o pacto que assinara com Hitler em 1939 para dividir a Polônia.
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Os Estados Unidos enfatizaram o desembarque final na Normandia e sua decisão de lançar a bomba atômica sobre o Japão, negligenciando as 20 milhões de mortes que a União Soviética infligiu a Hitler. A China exagerou o papel do Partido Comunista na guerra contra o Japão desde 1937, obscurecendo o fato de que a resistência à invasão japonesa foi realizada pelo exército nacionalista de Chang Kai Chek, que acabou sendo expulso para Taiwan, que agora resiste à anexação pela China. As histórias não são sobre o que aconteceu, mas sobre como a história é refeita para atender aos governos da época.
De qualquer forma, o mundo está se rearmando a um ritmo alarmante. Nove países possuem armas nucleares. Trump lança seu plano tarifário messiânico, e China, Índia e Rússia o confrontam com força, demografia e tecnologia. Se a Europa não acordar para se defender e defender sua economia, se não se livrar de seus fantasmas internos, corre o grave risco de perder o progresso social e as liberdades conquistadas nos últimos 80 anos. A mudança chegou.
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