Com o aquecimento global, as gestações estão se tornando cada vez mais arriscadas

Seus autores buscaram medir até que ponto a exposição de mulheres grávidas ao calor excessivo aumentou em todo o mundo desde a década de 2020 e até que ponto esse aumento está relacionado ao aquecimento global. Em última análise, "na maioria dos países — 221 — as mudanças climáticas pelo menos dobraram o número médio de dias de calor extremo que são arriscados para a gravidez a cada ano", conclui a análise. E o aumento é particularmente acentuado em regiões onde "o acesso aos cuidados é limitado — principalmente no Caribe, bem como em partes da América Central e do Sul, nas Ilhas do Pacífico, no Sudeste Asiático e na África Subsaariana".

Este trabalho tem seus limites. Os autores não analisaram até que ponto as mulheres grávidas foram realmente mais afetadas nos países em questão, comentando apenas o aumento das temperaturas perigosas. Acima de tudo, ele fornece "evidências claras de riscos aumentados associados à exposição ao calor extremo", diz Ana Bonell, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, enfatizando que suas descobertas podem ser aplicadas igualmente a pessoas mais velhas.
Mas, ao focar em mulheres grávidas, este relatório destaca riscos que são relativamente pouco discutidos pela mídia e pelas autoridades de saúde, em contraste com os perigos entre pessoas mais velhas. No entanto, os riscos do calor — e, por extensão, do aquecimento global — para a gravidez estão cada vez mais bem documentados, mesmo que ainda tenhamos muitas dúvidas sobre os mecanismos fisiológicos que os explicam. "Há muito trabalho recente nessa área", diz Ana Bonell, que demonstrou, na Gâmbia, os efeitos negativos do calor extremo no desenvolvimento do feto e do bebê.
Um estudo maior, publicado em 2024 na revista Nature Medicine, dá uma ideia geral do estado do conhecimento: altas temperaturas aumentam múltiplos riscos, que vão desde partos prematuros até morte do recém-nascido e malformações congênitas. "O aumento da exposição ao calor representa uma grande ameaça à saúde das mães e dos recém-nascidos", alertam os autores deste trabalho, compilado a partir de quase 200 estudos. No entanto, a extensão dessa ameaça no nível individual deve ser colocada em perspectiva.
De acordo com este estudo, uma onda de calor aumenta o risco de problemas na gravidez em 1,25 vezes, o que faz pouca diferença para uma mulher grávida. Mas para a população como um todo, esse nível representa consequências significativas para a saúde pública. Os especialistas, portanto, concordam amplamente sobre a necessidade de responder a isso com várias medidas de adaptação, sem mencionar a luta contra o aquecimento global em si.