Um silêncio estratégico

O projeto de constituição de Quebec foi recebido com total indiferença por Ottawa. Silêncio absoluto. Alguns dirão, tanto melhor: o governo federal não tem o direito de interferir nos assuntos internos de Quebec. Outros, mais lúcidos, verão esse silêncio como uma forma de cálculo político.
Por que o governo Carney alienaria os quebequenses por causa de um projeto que nem sequer tem consenso na Assembleia Nacional?
Rejeitado de imediatoTanto o PLQ quanto o PQ e o Québec Solidaire levantaram a bandeira vermelha. Sua principal crítica: a falta de consulta pública. E eles têm razão. Uma constituição não é um regulamento administrativo. É a lei das leis, o texto fundador que deve emanar do povo, refletindo sua vontade, e não ser ditado por um Conselho de Ministros.
Sem um fórum cidadão, sem debate público, sem propriedade coletiva, esta Constituição se torna um simples exercício de comunicação política. E é aí que tudo se resume: um projeto de afirmação nacional sem apoio nacional é uma casca vazia.
O governo Legault se vê, portanto, preso em sua própria abordagem. Os partidos de oposição não estão bloqueando o projeto por ser ousado demais, mas por ser muito estreito, muito vertical, muito apressado. Eles vão desacelerar o trabalho, apresentar emendas e ganhar tempo. Em suma, estão matando-o lentamente sob o pretexto de "fazer as coisas melhor".
Nesse ritmo, o projeto pode muito bem morrer de morte natural, sem que Ottawa precise sequer levantar um dedo.
A Piada ImpossívelE se o governo, irritado, decidisse forçar a questão e adotar a constituição por meio de uma ordem de silêncio? Isso não seria apenas angustiante, mas tragicamente irônico. É comum lembrar que a Constituição canadense de 1982 foi imposta ao Quebec sem o seu consentimento.
Imagine então: mais de 40 anos depois, Quebec imporia sua própria constituição sem consultar seu povo. O simbolismo seria devastador.
LE Journal de Montreal