Reconhecimento facial em larga escala: Reino Unido escaneou quase 5 milhões de rostos

O objetivo, segundo a polícia, é "identificar e interceptar" pessoas procuradas ao vivo, escaneando rostos e comparando-os com milhares de suspeitos em seu banco de dados.
"O reconhecimento facial em tempo real é uma ferramenta eficaz […] que permitiu mais de 1.000 prisões desde o início de 2024", garantiu Mark Rowley, chefe de polícia de Londres, que planeja "mais que dobrar seu uso" no futuro. O uso dessas tecnologias já aumentou consideravelmente nos últimos três anos, passando de dez operações entre 2016 e 2019 para cerca de 100 desde o início de 2025.
No total, os rostos de 4,7 milhões de pessoas foram escaneados no Reino Unido em 2024, observa a ONG Liberty. As câmeras são instaladas no teto de uma van, onde policiais operam, e quando um suspeito passa por perto, o sistema, que usa inteligência artificial, dispara um alerta que permite a prisão imediata.
Seu uso "em larga escala" na capital britânica, por ocasião da coroação de Carlos III em 2023, ou em Cardiff este ano, antes dos shows do Oasis e dos jogos das Seis Nações, transforma o Reino Unido em "um país de suspeitos", preocupa a organização Big Brother Watch. "Não há base legislativa [...] então a polícia tem total liberdade para criar suas próprias regras", diz Rebecca Vincent, sua diretora interina.
Seu uso privado por supermercados e lojas de roupas para combater o forte aumento de furtos em lojas é particularmente preocupante para eles, com "pouquíssima informação" sobre a coleta de dados. A maioria utiliza o Facewatch, um provedor de serviços que compila uma lista de suspeitos de furto nas lojas monitoradas e emite um alerta assim que um deles entra em uma delas.
"Eles deveriam informar seus clientes com clareza", disse Abigail Bevon, uma patologista forense de 26 anos que conheci do lado de fora de uma rede que usa o Facewatch em Londres. Embora ela entenda a utilidade dessa tecnologia para a polícia, considera seu uso por uma empresa "invasivo".
"Isso muda a maneira como vivemos nas cidades, eliminando a possibilidade de viver anonimamente" e pode desencorajar a participação, especialmente em protestos, alerta Daragh Murray, professor da Universidade Queen Mary de Londres. A Secretária do Interior, Yvette Cooper, prometeu recentemente um "quadro legal" para limitar seu uso, enfatizando o combate a "crimes graves".
Na UE, a legislação que rege a inteligência artificial, desde fevereiro, proíbe o uso de tecnologias de reconhecimento facial em tempo real, com exceções, principalmente para fins de combate ao terrorismo. Com exceção de alguns casos nos Estados Unidos, "não há nada comparável em países europeus ou outras democracias, sendo o uso dessa tecnologia (no Reino Unido) mais semelhante ao de Estados autoritários como a China", ressalta Vincent.
Sem mais delongas, o Ministério do Interior acaba de estender o uso desse procedimento a sete novas regiões do Reino Unido. Após as vans, câmeras permanentes também serão instaladas pela primeira vez em setembro em Croydon, um bairro considerado perigoso no sul da capital. A polícia garante ter "salvaguardas robustas", prometendo apagar os dados biométricos de pessoas que não têm do que se culpar.
SudOuest