As novas regras de (não) beber com canudo

Na semana passada, minha esposa, Sally, e eu deixamos as crianças na casa de um amigo e fomos para Shelter Island para uma noite no Pridwin Hotel and Cottages. (Eu recomendo.) Tomamos coquetéis antes do jantar no bar do hotel. Pedi um martini de vodca; Sally, uma margarita. Então ela pediu licença para ir ao banheiro. Enquanto o barman preparava as bebidas, ele olhou para mim e disse: "Canudo?" Antes que eu pudesse responder, ele me disse, enfaticamente: "Não para você , para sua esposa". A intenção de sua declaração parecia óbvia. Eu tinha pedido um martini, e só alguém sem o uso das mãos consideraria tomá-lo de canudo. Mas estava na maneira como ele disse: "Não para você ". Conscientemente ou não, o barman havia explorado a relação profunda e complicada que os homens têm com canudos.

O humilde canudo foi inventado — veja só — há cerca de 5.000 anos na antiga Suméria (atual Iraque), e era feito de ouro e lápis-lazúli. Pense nisso da próxima vez que seu canudo de papel se desintegrar na sua Coca-Cola do McDonald's. A versão moderna foi patenteada em 1888, e os de plástico entraram em nossas bebidas em meados do século XX. Desde então, os homens foram instruídos a evitá-los.

Frank Sinatra e sua segunda esposa, Ava Gardner, apreciando uma bebida gelada com um canudo em 1951.

A Esquire tem estado na linha de frente dessa luta. Em março de 2001 , entre as "Regras" que publicávamos com frequência, dizíamos: "Regra nº 317: Nada de canudos". Em nosso Guia de Bebidas para Homens , emitimos um decreto ainda mais severo: " Nenhum homem que se preze consome sua bebida com um canudo ". Por quê? Nunca explicamos. Mas a suposição, eu acho, é que beber de canudo é algo que uma mulher faz, não um homem. E eu segui o conselho da Esquire — era uma afetação que eventualmente se tornou parte da minha personalidade. Em um bar, eu recebia uma bebida com um canudo e, de forma dramática, removia o item, batia-o no balcão e declarava que "homens não usam canudos".

Não há dados (que eu tenha conseguido encontrar) sobre a porcentagem de homens e mulheres que usam canudos. Curiosamente, acho que todo cara com mais de 40 anos tem aversão a eles em algum grau. Esta semana, perguntei a pelo menos dez homens da minha idade ou mais — todos geralmente progressistas — o que eles acham de canudos. A resposta foi unânime: em qualquer bebida alcoólica, de jeito nenhum. "Isso é machista", disse-me um quarentão, "mas me parece feminino". Talvez seja geracional. Perguntei a dois caras da Geração Z no escritório da Esquire; ambos deram de ombros e disseram que não se importam com canudos. A única coisa com a qual todas as gerações concordam: canudos de papel são uma injustiça.

Como era de se esperar, os canudos agora são uma frente nas guerras culturais. O apresentador da Fox News, Jesse Watters, é o porta-voz anti-canudos. Ele atribuiu a culpa ao "declínio da masculinidade". Ele disse: "Um homem adulto não deveria beber de canudo. É emasculante". E zombou do presidente Biden por beber um milk-shake de canudo.

O apresentador da Fox News, Jesse Watters, lançou uma cruzada contra homens que usam canudos. Seus esforços repercutiram entre os políticos republicanos eleitos.

Não acho que Watters esteja falando totalmente a sério — ele disse que sua cruzada anticanudos é "um pouco boba" —, mas ainda assim a usou com grande eficácia. Um congressista republicano, Tim Burchett, do Tennessee, disse à Fox News: "Eu não bebo de canudo, irmão. É o que as mulheres da minha casa fazem". Sua resposta inspirou uma matéria da revista New York nesta primavera que perguntava: " Por que os homens republicanos são tão estranhos com canudos? "

É justo fazer uma pergunta mais ampla: por que os homens são tão estranhos com canudos?

Este seria o momento em que eu reavaliaria o canudo. Dado o longo histórico de oposição da Esquire, talvez tenha chegado a hora de mudar de ideia. Mas receio que não possa. O uso de canudo para beber qualquer bebida alcoólica pura, assim como a maioria dos coquetéis, simplesmente não é correto. Consumir cerveja, água com gás e cidra com canudo é estritamente proibido. Se você estiver apreciando algo sem álcool, fique à vontade. Na verdade, eu recomendo. Se você pedisse um refrigerante no McDonald's, abrisse a tampa e bebesse de cima para baixo, seria um louco. O mesmo vale para bebidas que vêm de um liquidificador: milk-shakes, bebidas proteicas, piña coladas. (No entanto, há uma foto de Ernest Hemingway bebendo um daiquiri sem canudo.) Margaritas se enquadram em uma área cinzenta. Geralmente, você deve colocar os lábios no copo. Se a borda for salgada, no entanto, você pode considerar um canudo.

Preocupar-se com essas diretrizes só é estranho se você tornar isso estranho.

Meu motivo para evitá-los não é "Você parece uma garota". Gênero não tem nada a ver com isso. Não se preocupe se uma mulher bebe de canudo. Em vez disso, imagine isso: você vestiu seu melhor terno e saiu para a noite. Você está se sentindo confiante. Você se acomoda em um bar e pede um old-fashioned. Você dá uma boa gorjeta, pega a bebida e se vira para o salão. Você absorve. Você espera que as pessoas no salão estejam olhando para você e pensando: Quem é esse cara ? Ele parece descolado e sofisticado. Então você leva o coquetel à boca e... toma um grande gole de canudo? Simplesmente não faz sentido.

Andy Warhol bebendo com os dois punhos em 1966. Olhe para a fileira e não há um canudo à vista.

O motivo é que você parece uma criança. Canudos reduzem os homens a meninos. As pessoas na sala não olharão para você, bebendo seu uísque de canudo, e dirão: "Aquele cara parece uma menina". Elas dirão: "Ele parece um garotinho".

Há alguns anos, Dave Holmes, da Esquire — que também não consegue se imaginar bebendo um coquetel de canudo — disse em uma coluna : "É hora de pararmos de nos preocupar tanto em nos tornarmos mulheres e começarmos a nos concentrar na verdadeira ameaça à masculinidade: continuarmos crianças." Ele está certo, e é por isso que você precisa largar o canudo. Mas não o coloque no bar e faça uma declaração sobre homens e canudos, como eu fiz uma vez, o que é ainda mais infantil do que usar um.

Esta história foi publicada originalmente no boletim semanal do editor-chefe. Para recebê-lo na sua caixa de entrada todos os domingos, assine a Esquire .