Morte de duas crianças francesas em Gaza: denúncia de genocídio foi apresentada em Paris

Esta denúncia, acompanhada de uma ação civil, anunciada na sexta-feira pelo advogado Arié Alimi e protocolada na Unidade de Crimes Contra a Humanidade do Tribunal Judicial de Paris, visa garantir a nomeação de um juiz de instrução. A Liga dos Direitos Humanos pretende se juntar a ela.
A nacionalidade francesa das vítimas poderia desencadear a jurisdição direta dos tribunais franceses e levá-los a se pronunciar sobre essas acusações de "genocídio", categoricamente rejeitadas por Israel como "escandalosas", enquanto, até o momento, as iniciativas legais na França nesse sentido não obtiveram sucesso.
A denúncia diz respeito às mortes de Janna e Abderrahim Abudaher, então com 6 e 9 anos, em uma casa no norte da Faixa de Gaza "atingida por dois mísseis F16 disparados pelo exército israelense" em 24 de outubro de 2023, 17 dias após o ataque sem precedentes do movimento islâmico palestino Hamas em solo israelense.
A denúncia de 48 páginas foi apresentada por Jacqueline Rivault, avó materna das crianças, por homicídio, crimes contra a humanidade, genocídio e cumplicidade em ambos os crimes. Segundo a denúncia, a "extrema violência" e os "bombardeios regulares" do exército israelense em Gaza após 7 de outubro levaram a família a deixar seu apartamento na noite de 22 de outubro, buscando refúgio em outra casa e, posteriormente, em uma escola.
Eles acabaram sendo atingidos por dois mísseis em uma casa nova "ao norte da Faixa de Gaza, entre Fallujah e Beit Lahia", um deles entrando "pelo telhado e o segundo diretamente no quarto onde a família estava hospedada".
Mãe condenada por financiar terrorismoAbderrahim morreu "instantaneamente", e Janna logo após ser transferida para o hospital, de acordo com a denúncia. O irmão deles, Omar, ficou gravemente ferido, mas ainda mora em Gaza, assim como sua mãe, Yasmine Z. Também ferida, Yasmine Z. foi condenada em 2019, à revelia, em Paris, por financiar o terrorismo por distribuir dinheiro em Gaza a membros da Jihad Islâmica e do Hamas entre 2012 e 2013.
Ela é alvo de um mandado de prisão. Após ter sido contatada diversas vezes sobre o caso das duas crianças, a Promotoria Antiterrorismo respondeu pela última vez no final de 2024 que não havia aberto uma investigação.
A denúncia apresenta a qualificação de genocídio porque o atentado é apresentado como parte de um projeto que visa "eliminar a população palestina e submetê-la a condições de vida que possam levar à destruição de seu grupo". A denúncia é apresentada contra pessoas desconhecidas, mas tem como alvo específico o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o governo israelense e as Forças de Defesa de Israel (IDF).
Israel está enfrentando crescente pressão internacional para acabar com a guerra devastadora em Gaza, que o Hamas iniciou em 7 de outubro de 2023 e matou 1.218 pessoas do lado israelense, a maioria civis.
Em resposta, Israel lançou uma campanha militar de retaliação que matou mais de 54.600 palestinos, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, do governo do Hamas, considerados confiáveis pela ONU. Benjamin Netanyahu e o ex-ministro da Defesa Yoav Gallant são procurados pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) sob a acusação de crimes contra a humanidade e crimes de guerra.
A Federação Internacional de Direitos Humanos foi a primeira, em dezembro de 2023, a declarar que Israel estava cometendo genocídio, seguida pela Anistia Internacional um ano depois e pela Human Rights Watch (HRW).
Em janeiro de 2024, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) apelou a Israel para que prevenisse qualquer ato de genocídio. O chefe humanitário da ONU também instou os líderes mundiais, em meados de maio, a "agir para prevenir o genocídio".
SudOuest